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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 19,1-10 - 31º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva, imc

Jesus tinha entrado em Jericó e estava passando pela cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e muito rico. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era baixinho. Então ele correu à frente e subiu numa árvore para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Ele desceu depressa, e o recebeu com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um pecador!” Zaqueu pôs-se de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Jesus lhe disse: “Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (Lucas 19,1-10)

1. LECTIO – Leitura
A viagem de Jesus com os seus continua o seu curso normal, desta feita chega na cidade de Jericó, uma cidade às margens do mar Morto, não muito distante de Jerusalém. Jericó era a última etapa dos peregrinos que se dirigiam a Jerusalém para as grandes celebrações religiosas. Comercialmente era uma cidade promissora, cidade de grandes e bons negócios. Novamente, teremos um publicano como personagem principal. Trata-se de Zaqueu, o chefe dos publicanos. Considerado pela religião oficial, um pecador público, um explorador dos pobres, alguém que colaborar com o inimigo, entenda-se os Romanos.

Zaqueu, publicano, cobrador de impostos, pecador… Era uma pessoa sem hipóteses de perdão, excluído do convívio com os justos. Considerado amaldiçoado por Deus e desprezado pelos justos. O texto afirma ser de baixa estatura, que provavelmente terá um duplo significado, aliado ao seu ser baixo de estatura, pode ser também referência à sua insignificância, do ponto de vista moral. É exatamente este homem procurava “ver” Jesus. Seria apenas curiosidade? Ou algo mais? Não sabemos, porém o esforço mostrado por Zaqueu para ver Jesus que passava, deixa entender, que era muito mais que curiosidade. Certamente nunca lhe passou pela cabeça que Jesus pudesse demonstrar algum interesse numa pessoa como ele. Perante esta situação, fica no ar a pergunta: como é que Jesus vai responder a esta iniciativa? Na verdade, é Jesus que toma a iniciativa para o encontro. Zaqueu tomou a iniciativa de subir na árvore para o poder ver, mas é Jesus quem olha, para e chama. Jesus se convida para ir na casa de Zaqueu. O murmúrio da multidão que acompanhava Jesus deve ter subido de tom, como é possível que Jesus tenha escolhido se hospedar na casa de tal pessoa. Como é que a multidão que rodeia Jesus reage a isto? Manifestando, naturalmente, a sua desaprovação às atitudes incompreensíveis de Jesus (“ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um pecador!”). É a atitude de quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. No entanto, Jesus demonstra-lhes que a lógica de Deus é diferente desta lógica e que a oferta de salvação que Deus faz não exclui nem marginaliza ninguém.

Tudo acontece com uma nota importante: a pressa! ““Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”, mas Zaque não faz por menos e responde do mesmo jeito: “Ele desceu depressa”.

Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde está Zaqueu, o chefe dos publicanos) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”; diz-lhes, também, que Deus os ama, que aceita sentar-Se à mesa com eles. Deus não exclui nem marginaliza nenhum dos seus – mesmo os pecadores – mas a todos oferece a salvação.

E como é que Zaqueu reage a essa oferta de salvação que Deus lhe faz? Acolhendo o dom de Deus, convertendo-se ao amor, tudo isso com o tom da alegria. Mas o encontro leva à mudança, aquilo que chamaríamos de conversão: a repartição dos bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo, vai muito além daquilo que a lei judaica exigia (veja Ex 22,3.6; Lev 5,21-24; Nm 5,6-7) e é sinal da transformação do coração de Zaqueu…

2. MEDITATIO – meditação
O episódio de Zaqueu revela um Deus que ama todos sem exceção e que não exclui do seu amor mesmo os pecadores, ao contrário, é por esses que Deus manifesta uma especial carinho. Além disso, o amor de Deus não é condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor nunca desmentido que, uma vez experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa Nova de um Deus “com coração” que somos convidados a anunciar, com palavras e gestos.

Em nossas comunidade muitas vezes as atitudes que temos em relação aos pecadores não está em consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, se marginaliza e exclui, se assumem atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam mais e o levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. No entanto, só o amor gera amor. Como é que acolhemos aqueles que estão “longe” de Deus? Será que os levamos até Deus ou os afastamos mais ainda?

Testemunhar o Deus que ama e que acolhe todos não significa, contudo, aceitar o pecado e o que está errado. O pecado gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento; é mau e deve ser combatido e vencido. No entanto, é importante distinguir entre pecador e pecado: Deus convida-nos a amar todos, mesmo os pecadores, no entanto, devemos combater o pecado que que impede de celebrar o amor de Deus.

3. ORATIO – oração
Procure subir a um local alto e aí faça a sua oração, deixe que Jesus a/o possa ver e chamar para o encontro que quer mudar radicalmente a sua vida. Não fuja desse encontro.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Experimente a alegria de um Deus que acolhe todos, mesmo que nossas opções nos coloquem em caminhos distantes de Deus, porém Deus sempre oferece a possibilidade de reconciliação.

5. MISSIO – missão
“O amor ao próximo deve estimular-nos a trabalhar pela salvação de todos. Por isso, não sejamos apáticos e indiferentes, mas sedentos de almas, como Jesus. Deus quer que todos se salvem e pede a nossa colaboração.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/
 

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