Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 17,5-10 - 27º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. “Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: ‘Vem depressa para a mesa’? Não dirá antes: ‘Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber’? Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer’”. (Lucas 17,5-10)

1. LECTIO – Leitura
Após duas semanas em que o tema foi a correta relação que o discípulo deve ter com os bens materiais deste mundo. Agora o evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, ao projeto de vida que Jesus veio apresentar. Tal adesão se dá através da fé, por meio desta terá início o Reino de Deus. Os discípulos comprometidos na construção do “Reino” devem lembrar que não agem por si próprios, mas são instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação.

Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino”, convidou-os à humildade e à gratuidade; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens; exigiu-lhes o perdão como atitude; agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais fé. O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20. Aqui ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”.

A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé (vs 5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”? No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão à pessoa de Jesus, à sua proposta, ao seu projeto. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, mas supõe um compromisso radical. Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta. Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar o rumo, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”…

Na segunda parte do nosso texto (vs 7-10), Lucas descreve a atitude que a pessoa deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Lei para alcançar a salvação. A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos a pessoa. Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos. Uma mensagem radical e um tanto difícil de acatar para nossa vida…

2. MEDITATIO – meditação
- A fé é a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto. Será que é assim que entendo a minha fé, como adesão?
- Há algo de novo à minha volta pelo fato de eu ter aderido a Jesus e pelo fato de eu estar a percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer?
- Frequentemente em nossa vida queremos ser “reconhecidos” por aquilo que fazemos, esta mentalidade muitas vezes a transportamos para a relação com Deus. Queremos “comprar” a salvação. No entanto, segundo a Palavra não podemos exigir nada de Deus, somos servos “inúteis”. É uma linguagem dura de aceitar, mas é a atitude que o discípulo deve ter. É assim que eu me comporto?

3. ORATIO – oração
Ore a Deus que lhe dê discernimento para entender a profundida da catequese que a Palavra transmitiu. Trata-se de uma mensagem radical e exigente, difícil de viver em nossa vida. Peça a Deus, como os discípulos, o dom da fé para continuar na caminhada do Reino.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
A experiência de ser servo ao serviço de Deus foi uma experiência que animou tantos santos e santas, gente que entregou a sua vida ao serviço dos outros, sem nunca esperar nada em troca. Fiquemos com as palavras de Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” (12,2)

5. MISSIO – missão
“Não devemos deixar de trabalhar por preguiça, mas também não devemos omitir a oração só porque temos de trabalhar. Não somos nós que fazemos; Deus é que faz. Se Ele não abençoa o nosso trabalho é tudo inútil.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Como avaliar a homilia...


Por: Cilto José Rosembach (seg.: BUYST,Ivone, Homilia, partilha da Palavra, Paulinas, 2007 p 51-52)

  1. O que me tocou pessoalmente na homilia? (Por quê? O que provocou em mim?)

  2. Levou em conta o tipo de assembleia reunida e sua experiência de vida e de fé (Cidade, Zona rural, centro, periferia, adultos, jovens, crianças)?

  3. Os participantes tiveram realmente oportunidade de participar? (Criou-se um clima de entrosamento na assembleia?)

  4. Partiu dos textos sagrados (bíblicos, litúrgicos)?

  5. Anunciou Jesus Cristo e tentou levar a um encontro com Ele? (Provocou um mergulho no mistério de Deus? Como?)

  6. A realidade esteve presente? Em que nível? (Pessoal? Comunitário? Social? Cósmico?) - Houve um chamado, um convite, uma proposta positiva (e não somente crítica negativa) ?

  7. Foi mistagógica, explicitando a relação das leituras bíblicas com a eucaristia, com a ação de graças? Levando a uma maior comunhão com Jesus Cristo através do Rito Sacramental? Como? 

  8. A linguagem usada estava de acordo com a comunidade celebrante? Sim? Não? Por quê?

  9. O tom de voz foi: normal? Sacralizado? Demagógico? de Discurso ou de conversa? - Tom de quem possui toda verdade e quer ensinar aos outros, ou tom de partilha fraterna, de quem busca em comum daquilo que o Senhor quer nos dizer?

  10. O tempo: Curto? Longo? Suficiente? Conseguiu prender a atenção da assembleia?

  11. Tente resumir a homilia em duas ou três frases, como se fosse para alguém que não participou (conteúdo, experiências provocadas ).

  12. Tempo da homilia:

  • 3 minutos para a palavra

  • 3 minutos para a realidade

  • 3 minutos para a hermenêutica

  • 1 minuto para a conclusão.

  • Total: 10 minutos
Obs.: Pode-se dedicar 4 minutos para a palavra e reduzir o tempo para os demais intens.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 16,19-31 - 26º Domingo do Tempo Comum


Por Patrick Silva

“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico. Queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico, mas, em vez disso, os cães vinham lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que durante a vida recebeste teus bens e Lázaro, por sua vez, seus males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda então Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Que ele os avise, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas! Que os escutem! ’ O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão. Mas se alguém dentre os mortos for até eles, certamente vão se converter’. Abraão, porém, lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não acreditarão’”. (Lucas 16,19-31)

1. LECTIO – Leitura

Inserido na caminhada rumo a Jerusalém, o evangelho desta semana quer aprofundar o tema, que já foi abordado no último domingo. O tema da relação com os bens materiais. Trata-se de um tema não fácil de abordar, mas que o evangelista Lucas apresenta aos “caminhantes” com Jesus de uma forma clara. O texto apresentado, a história do rico e do pobre Lázaro é um texto que encontramos apenas no evangelho de Lucas. Não sabemos a fonte de inspiração do evangelista. De qualquer forma, estamos perante uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16) em que se aborda a relação entre que o cristão deve ter com os bens deste mundo. Desta vez Jesus dirige-se aos fariseus (veja Lc 16,14), os quais representam todos aqueles que colocam o dinheiro em primeiro lugar e vivem em função dele.

É fácil entender que a parábola apresentada é composta por duas partes. Na primeira (vs 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um cliché literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que está aqui em causa? Atentemos nos dois personagens… Acerca do rico sabemos, apenas, que se vestia de roupa elegante e fina, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se freqüentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento; no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro sabemos que ficava junto ao portão do rico, que estava coberto de feridas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cachorros vinham lamber-lhe as feridas; quando morreu, Lázaro foi “levado pelos anjos ao seio de Abraão” (quer dizer, a um lugar de honra na festa presidida por Abraão. Trata-se do “banquete do Reino”, onde os eleitos se juntarão – de acordo com a tradição judaica – com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más ações, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação… Nesta história, não parecem ser as ações boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao “banquete do Reino”?

A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os “tormentos” porque é rico; o pobre conhece o “banquete do Reino” porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico eqüivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos “tormentos”?

Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular; mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos… Quem não partilha os bens está defraudando o projeto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros está a defraudando aqueles que vivem na miséria. O objetivo de Jesus é ensinar que não somos donos dos bens, mas apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos “tormentos”.

Na segunda parte do nosso texto (vs. 27-31), deseja mostrar que a Escritura apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (v.. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espetaculares são inúteis, quando a pessoa não acolheu no seu coração a Palavra de Deus.

2. MEDITATIO – meditação

O Evangelho apresenta uma proposta que podemos considerar demasiado radical. Será que não nos é permitido desfrutar daquilo que conquistámos honestamente? No entanto, convém recordar que cerca de um quarto da humanidade tem nas mãos cerca de 80% dos recursos disponíveis do planeta!

Como se posicionar face a esta proposta do Evangelho? Vejo os bens que Deus me concedeu como “meus, muito meus, só meus”, ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar?

É importante ter atenção, que ainda que não sejamos ricos materialmente, por vezes, podemos ter um “coração de rico”! Convém não esquecer que é a Palavra de Deus que nos questiona continuamente e que nos permite a mudança de um coração egoísta para um coração capaz de amar e de partilhar.

3. ORATIO – oração
Peça a força de Deus para não se “escandalizar” com a proposta do evangelho. É fácil rejeitar a proposta, fazer de conta de que não “fala para mim”, mas para ostros. Ore para que tenha a capacidade de ter um coração aberto aos outros para partilhar daquilo que conquistou.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Feche seus olhos e reveja este episódio do pobre Lázaro e do rico, pense em quantas situações semelhantes encontra hoje ao seu lado.

5. MISSIO – missão
“Muitas vezes julgamos ter caridade, quando, afinal, o que nós temos não passa de uma pura ficção.” José Allamano

Confira semanalmente em www.consolata.org.br

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ser ecumênico é... *

> Para começo de conversa:

- Chamamos de ECUMENISMO a busca da unidade entre as Igrejas Cristãs.
- Chamamos de DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO o processo de entendimento mútuo entre diferentes tradições religiosas.


> O Ecumenismo que queremos não é...
- Mistura de tudo num mesmo cristianismo;
- Disfarce, para uma igreja dominar a outra;
- Algo que afaste a pessoa de sua própria igreja;
- Fazer todos concordarem em tudo;
- Fingir que as diferenças não existem;
- Desvalorizar as normas de cada igreja;
- Deixar de lado o espírito crítico diante de qualquer grupo cristão.

> Então, o que é?
- Diálogo que reconhece e respeita a diversidade;
- Valorização de tudo que já une as Igrejas;
- Trabalho conjunto na construção de um mundo melhor;
- Criação de laços de afeto fraterno entre Igrejas;
- Oração em comum a partir da mesma fé;
- Busca sincera de caminhos para curar as feridas da separação;
- Valorização leal de tudo de bom que as diferentes denominações cristãs realizam.

> Boas razões para sermos Ecumênicos:
- Jesus pediu a unidade de seus discípulos e discípulos (Jo 17,21);
- A fé comum e o batismo;
- Igrejas que se agridem mutuamente prejudicam a pregação de evangelho aos que não creem;
- O mundo precisa desse testemunho de que a paz é sempre possível;
- Igrejas unidas tem mais força para defenderem a justiça e realizarem obras importantes, na caridade;
- Ter amigos é melhor e mais saudável do que ter competidores.

> Campos complementares de Ecumenismo
- NA VIDA: são as boas relações de amizade entre pessoas de Igrejas diferentes.
- NA AÇÃO SOCIAL: são os trabalhos em conjunto para socorrer os necessitados e lutar pela justiça.
- NA ORAÇÃO: são as celebrações e preces feitas em conjunto ou orações pessoais pela causa da unidade.
- NO DIÁLOGO TEOLÓGICO: são os estudos sobre doutrina realizados por teológicos de várias igrejas, trabalhando juntos na busca de melhores modos de tratar as divergências.

> Espiritualidade Ecumênica:
O ecumenismo exige um coração voltado para a paz e a valorização do outro. Não basta realizar ações ecumênicas, é preciso ter de fato a espiritualidade do diálogo. Essa espiritualidade exige o cultivo de muitas qualidades, como por exemplo:
- Esperança, amor à paz, humildade, capacidade de ouvir, paciência, discernimento, lealdade, alegria ao ver o bem e respeito ao outro.
- Se tivermos essas qualidades, não seremos só ecumênicos. Seremos pessoas melhores!

> Orientação que pode ajudar:
- No essencial: A UNIDADE
- No que é próprio de cada igreja: A LIBERDADE
- Em tudo: A CARIDADE E A FIDELIDADE A JESUS

> Como você pode Colaborar:
- Tratando as outras igrejas como você gosta que tratem a sua;
- Divulgando o material, os eventos e as alegrias do movimento ecumênico;
- Orando também pelas outras igrejas, quando pedir a Deus pela sua;
- Aprendendo a ouvir o que as igrejas têm a dizer sobre o seu jeito de viver o seguimento de Jesus;
- Conhecendo bem a sua igreja para apresentá-la correta e serenamente aos irmãos cristãos;
- Participando de eventos ecumênicos sempre que possível;
- Cultivando uma atitude de boa vontade, capaz de reconhecer o que há de bom em cada igreja;
- Apresentando a falar com irmãos de outras denominações cristãs, numa linguagem tranqüila, não agressiva, que informe, mas não ofenda;
- Perdoando e compreendendo, se houver falhas no diálogo, o que pode acontecer, depois de tantos séculos de rejeição mútua.

O movimento de fraternidade de Igrejas Cristãs (MOFIC) é, oficialmente, o representante de Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) no Estado de São Paulo. A Casa da Reconciliação, sede do MOFIC, disponibiliza um site, onde você poderá se informar a respeito do que acontece sobre Ecumenismo.



Igrejas-membro do MOFIC
- Apostólica Armênia
- Episcopal Anglicana do Brasil
- Católica Romana
- Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
- Presbiteriana Unida
- Ortodoxa Antioquina



Casa da Reconciliação:
Rua Afonso de Freitas, 704, Paraíso, 04.006-052, São Paulo – SP.
Diretor da Casa da Reconciliação: Padre José Bizon


* este conteúdo está no folheto informativo da Casa da Reconciliação...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O homem e o peso da cruz




Havia algumas pessoas que iam andando em um terreno enorme, cada um com uma cruz. Só que um só reclamava do peso de sua cruz, então falou para o outro:

- Esta cruz está muito pesada , vou cortá-la.

E realmente cortou. Continuou andando e viu que a cruz ainda estava pesada. E cortou mais um pedaço da cruz. Não satisfeito com o peso cortou mais um pedaço e disse:
- Agora sim está leve.

Continuaram andando e chegaram diante de um abismo. O homem que tinha cortado sua cruz jogou para ver se alcançava do outro lado, mas como estava cortada não pode atravessar o abismo.

Então vieram os demais que suportaram o peso de sua cruz e a jogaram para ver se chegava do outro lado também. Realmente alcançaram. Aí atravessaram através da própria cruz e seguiram seu destino, enquanto o outro homem ficou pelo caminho...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 16,1-13 - 25º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Depois, Jesus falou ainda aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: ‘Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’. O administrador, então, começou a refletir: ‘Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Cavar, não tenho forças; mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’. Então chamou cada um dos que estavam devendo ao seu senhor. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor? ’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo! ’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve: cinqüenta! ’ Depois perguntou a outro: ‘E tu, quando deves? ’ Ele respondeu: ‘Cem sacas de trigo. ’ O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve: oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com esperteza. De fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. “Eu vos digo: usai o ‘Dinheiro’, embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do ‘Dinheiro iníquo’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’”. (Lucas 16,1-13)

1. LECTIO – Leitura
Após a apresentação das “parábolas da misericórdia” com as quais Jesus procurou mostrar a lógica de Deus em relação aos pecadores, mostrando grande amor e misericórdia de Deus. Desta vez, o Evangelho apresenta-nos mais um passo do “caminho para Jerusalém”. Jesus não Se dirige aos fariseus, mas aos discípulos. Com este episódio, que apresenta contornos de caso real, tirado da vida, Jesus ensina os discípulos acerca da forma como se situar face aos bens deste mundo.

A mensagem está centrada na boa utilização dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir outros bens, mais duradouros. Na primeira parte do texto (vs. 1-9) apresenta-se a parábola de um administrador sagaz. A parábola apresenta um homem que é acusado de administrar de forma incompetente (possivelmente desonesta) os bens do patrão. Chamado a prestar contas, acaba sendo despedido. No entanto, este homem tem a preocupação de assegurar o seu futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma – supõe ele – os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde, manifestar-lhe-ão a sua gratidão e acolhê-lo-ão em sua casa. Como justificar o proceder deste administrador, que assegura o futuro à custa dos bens do seu senhor? Porque é que o senhor, prejudicado nos seus interesses, não tem uma palavra de reprovação ao inteirar-se do prejuízo recebido? Como pode Jesus dar como exemplo aos discípulos as atitudes de um tal administrador?

Algumas destas dificuldades desaparecem se tivermos em conta as leis e costumes da Palestina nos tempos de Jesus. O administrador de uma propriedade atuava em nome e em lugar do seu senhor; como não recebia remuneração, podia ressarcir-se dos seus gastos a expensas dos devedores.

Habitualmente, ele fornecia um determinado número de bens, mas o devedor ficava a dever muito mais; a diferença era a “comissão” do administrador. Deve ser isso que serve de base a este caso… Dos cem “barris” de óleo (uns 3.700 litros) consignados no recibo (v.. 6), só uns cinqüenta haviam sido, na realidade, emprestados; os outros cinqüenta constituíam o reembolso dos gastos do administrador e a exorbitante “comissão” que lhe devia ser paga pela operação. Provavelmente, o que este administrador sagaz fez foi renunciar ao lucro que lhe era devido, a fim de assegurar a gratidão dos devedores: renunciou a um lucro imediato, a fim de assegurar o seu futuro. Este administrador (se ele é chamado de “desonesto” – v. 8 – não o é por este gesto, mas pelos atos anteriores, que até levaram o patrão a despedi-lo) é um exemplo pela sua habilidade e sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros valores mais significativos – a amizade, a gratidão. Jesus conclui a história convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador (v. 9): os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro (o que, na lógica de Jesus, tem a ver com os valores do “Reino”).

Na segunda parte do texto (vs. 10-13), Lucas apresenta-nos uma série de “frases” de Jesus sobre o uso do dinheiro (originariamente, estas “frases” não tinham nada a ver com o contexto desta parábola). No geral, essas “frases” alertavam os discípulos para o bom uso dos bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do “Reino”, seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado. O nosso texto termina com um alerta de Jesus acerca da “deificação” do dinheiro (v. 13): Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar conjugá-los é impossível… Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de injustiça (dinheiro) e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade (Deus e o “Reino”).

2. MEDITATIO – meditação
Nossa sociedade acredita que o dinheiro é o deus fundamental e que o resto não tem importância. A troco de dinheiro tudo é possível e aceitável. Ser escravo do dinheiro é algo que só acontece aos outros ou que também eu posso estar na mesma situação? Até onde seríamos capazes de ir por causa do dinheiro?

Jesus avisa os discípulos de que a aposta obsessiva no “deus dinheiro” não é o caminho mais seguro para construir valores duradouros, geradores de vida plena e de felicidade. O que é mais importante: os valores do “Reino” ou o dinheiro? O que é que me move: o dinheiro, ou o serviço aos irmãos?

Todo este discurso não significa que o dinheiro seja uma coisa desprezível e imoral. O dinheiro é algo necessário para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade… No entanto, Jesus recomenda que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão, pois não nos assegura a conquista dos valores duradouros e da vida plena.

3. ORATIO – oração
Em seu momento de oração peça a Deus a coragem de usar os seus bens para buscar aquilo que é mais importante e duradouro para a sua vida. Recorde também aqueles que colocaram o dinheiro como centro das suas vidas e não conseguem enxergar para além disso.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple o Mestre que adverte os discípulos para as coisas que são mais importantes na vida. Hoje é o próprio Jesus que a/o adverte para não seguir os caminhos que não levam a bom porto.

5. MISSIO – missão
“Não basta ter só caridade espiritual; é preciso também a caridade material, ou seja, é preciso ajudar-nos mutuamente no trabalho, partilhar as tarefas. Dar a mão ao companheiro que necessita de ajuda.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A História do Laicato

Por: Júlio Caldeira, imc *
 

1. DEFININDO ALGUNS TERMOS:
  • MISSÃO = Novo Testamento (grego) não usa esta palavra (mas usa envio, evangelizar...); provêm do latim missio = ser enviado a...
  • VOCAÇÃO = vocare (latim) = chamado...
  • LEIGO: A expressão “leigo” (como entendemos na língua portuguesa) está associada a alguém não qualificado, iletrado, da plebe, que não tem muito conhecimento sobre algo. Por exemplo: “fulano é leigo em história ou em medicina”.  Na sua origem: provém do grego laikós = raiz em laós (povo) = Laós Theós (Povo de Deus); foi traduzido para o latim laicus = multidão, massa, povo (referindo-se àquele que não está qualificado para “as coisas de Deus”)
 2. POVO DE DEUS:
 
 Existem três estados de vivência da fé na Igreja (Povo de Deus):
      1. Leigo = cristão batizado
     2. Ministros ordenados = receberam o sacramento da Ordem (diáconos, padres, bispos)
     3. Vida consagrada (religiosos e religiosas) = aqueles que se consagraram por um voto solene, normalmente em uma comunidade religiosa.
 
- Leigo, portanto, não é o inferior, aquele que não sabe, não participa ou não entende de nada, como parece ser o sentido da palavra. Leigo, na verdade, é aquele que vive sua fé na vida simples e cotidiana do mundo e da sociedade.
 
 3. HISTÓRIA DO LEIGO/A NA IGREJA:
 
 a) Primórdios:
 - At 2,41-47: batizados, crentes, povo... “Todos participavam fielmente no ensino dos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações” (v.42).
 - Existia o Povo de Deus, identificados como “os do caminho” (At 9,2) = e depois “cristãos” (At 11,26)
 - Apóstolos + crentes
 
 b) Primeiros séculos
 - Igreja (Ecclesia) das catacumbas – mártires: Após a morte dos apóstolos, os cristãos se dividiam em ministérios (serviços à comunidade), sendo que a missão continuou através dos missionários itinerantes e com o compromisso individual de cada um que se considerava cristão: comerciantes, soldados, famílias, entre outros.
 - Aos poucos foi se formando uma organização interna (sempre com a noção de serviços):
     1. Episcopos: coordenador... (Tt 1,6-7)
     2. Presbiteros: anciãos, chefes da comunidade...
     3. Diakonos: servidores, visitadores... (At 6,1 ss.)
     4. Outros ministérios... (Ef 4,11-12)
 
- Neste período, a Igreja desenvolveu sua base intelectual e doutrinal, sacramental e litúrgica, comunitária e de lideranças (baseado na colegialidade, autonomia das igrejas locais e nos Concílios locais e universais), na busca de manter a comunhão, a fraternidade e a unidade, e combater os conflitos internos e heresias
 
 c) Igreja-Estado
 - 3 séculos: Igreja das “catacumbas” – “mártires”...
 - 313: Imperador Constantino dá liberdade de culto às religiões, inclusive aos cristãos (que eram menos de 10% da população do Império).
 - 391: Imperador Teodósio torna o cristianismo religião oficial do “decadente” Império Romano.
 OBS: O Imperador romano renunciou a usar o título de Pontifex Maximus, que foi assumido pelo bispo de Roma (papa), o “Sumo Pontífice”.
 
Missão: tornar os “pagus” (90% da população do Império, que viviam nos campos) cristãos... Começa a organização das paróquias...
 
 d) hierarquia X laicato
 
- O termo laikós foi latinizado em laicus e passou a designar os cristãos que ouviam e obedeciam às ordens dos ministros ordenados (clero), “dispensadores dos poderes temporais e espirituais”.
 
- Agora temos dois grupos:
    1. o clero como hierarquia, que se considera “a Igreja”
    2. os leigos, que se tornam sinônimo daqueles que não sabiam o latim (língua oficial da Igreja), visto como pouco cultos, considerados incapazes de entender a Bíblia, livro para especialistas. (cristãos de “segunda categoria”).
 
- A partir daí a missão, a doutrina e a organização da Igreja ficou nas mãos da hierarquia, aumentando a distância com relação aos leigos.
 
 e) Cristandade (séc. VI-XX):
     1. aspectos importantes:
- Igreja – Império... (amigos no Poder)
- Cruz e espada caminham juntos
- Sociedade Perfeita
- Ser cristãos: trazer para dentro da Igreja...
 
      2. divisões dentro do cristianismo:
- 1054: Divisão das Igrejas: Ocidente x Oriente
- 1530: Divisão do Ocidente: Católicos x Protestantes
- Séc. XIX-XX: surgimento das igrejas pentecostais (Assembléia de Deus, Deus é Amor, Universal do Reino de Deus...)
 OBS: três ondas pentecostais no Brasil: 1) entre 1910-1950: pentecostalismo de migração (vindo, principalmente, dos EUA: congregacionais, presbiterianos, batistas...): Congregação Cristã (1910 – São Paulo: imigrantes italianos) e Assembléia de Deus (1911 – Belém/PA), que cresceram com as migrações, operários e fenômeno urbano. 2) déc. 1950-60: pentecostalismo fragmentado (fragmentação na metrópole: êxodo rural): época de cura e milagres aos que tentam se adaptar à metrópole (carentes, sofredores, empobrecidos) – ideal do “reavivamento”: Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), O Brasil para Cristo (1955), Deus é Amor (1962). 3) final dos anos 70 até hoje: o neo-pentecostalismo (aproveitando a onde do marketing e dos meios de comunicação): prática da cura, exorcismo, teologia da prosperidade, soluções imediatas às massas ameaçadas – Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Internacional da Graça (1980), Renascer em Cristo (1986) e tantas outras que surgem a cada dia...
 
     3. Movimentos proféticos, contestadores e anticlericais: com o propósito de reformá-la, procurando voltar às origens (pobreza evangélica, comunidade, Palavra de Deus, laicato):
 Exemplos:
 * séc. 12: franciscanos, dominicanos...
 * América (séc. 16): influência de Portugal e Espanha: leigos se organizaram em irmandades, associações, ordens seculares, confrarias, em torno a um santo de devoção e obras de caridade.
 * OBS: Missão Jesuíta entre os indígenas no séc. XVI (que influenciou nossa catequese): “precariedade de uma fé assumida por medo, esvaziada interiormente, levando ao fingimento ao invés da conversão de coração e adesão da vontade” (Maria Cecília Domezzi). Mais do que continuar sacramentalizando é necessário evangelizar, oferecer oportunidade para conversão, par o encontro pessoal com Jesus Cristo. “MUITA CONVERSÃO E POUCA EVANGELIZAÇÃO!”
 
         4. Século XIX – metade do XX
- A partir da Revolução Francesa e Industrial (séculos 18 e 19), com a secularização do mundo civil e das relações de trabalho, os movimentos de leigos crescem dentro e fora da Igreja. Surgem vários movimentos espiritual-caritativo-missionários, tais como o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, a Santa Infância. As questões internas da Igreja eram confiadas ao clero e as externas eram o espaço onde os leigos atuam.
 
- O leigo passa a ser visto como um membro da Igreja e que atua na sociedade civil. Depois deste período, as questões sociais, a defesa dos direitos da Igreja, a busca da prática da caridade e do socorro aos necessitados, levou os leigos a se organizarem, sob a orientação da hierarquia, dando origem à Ação Católica, que com o tempo vai deixando de ser uma organização político-social para se tornar uma escola de formação dos leigos.
 
- O braço forte da Ação Católica no Brasil foram os “5 J” da juventude católica: JAC (agrária), JEC (estudantil), JIC (independente), JOC (operária) e JUC (universitária).
 
f) Concílio Vaticano II (1962-1965)
- Recuperação do conceito “Povo de Deus” a todos os batizados: leigos, ministros ordenados, vida consagrada...
- Passa-se a definir o real sentido do leigo na Igreja... descreve positivamente o leigo e a leiga, enfatizando o batismo e a participação na tríplice função de Cristo: sacerdote, profeta e rei.
  OBS: Pelos sacramentos do Batismo e da Crisma, os fiéis leigos participam, a justo título, no tríplice múnus, sacerdotal, profético e real, de Cristo! Múnus sacerdotal = Incorporados em Cristo Jesus, unem-se a Cristo e ao Seu sacrifício, na oferta de si mesmos e de todas as suas actividades; Múnus profético = exercem a sua missão profética na medida em que se tornam ouvintes, anunciadores e testemunhas da Palavra. Múnus real = chamados para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão no mundo.
- Igreja Povo de Deus: evitando “restringir a tarefa profética, real e sacerdotal da Igreja somente ao papa, aos bispos e padres. Dessa definição deduz-se também a profunda igualdade entre os cristãos.”
- A hierarquia dever estar a serviço do Povo de Deus e não ao contrário.
 
4. PRINCIPAIS DOCUMENTOS DA IGREJA
QUE SE REFEREM AOS LEIGOS:
 
Concílio Vaticano II: Lumen Gentium (LG), Apostolicam actuositatem (AA), Gaudium et Spes (GS), Ad Gentes (AG)...
 
João Paulo II: Christifideles Laici (CfL)
 
CELAM: Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida
 
CNBB: Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas (doc. 62)
 
 5. O LEIGO/A HOJE...
 
- Vocação... Ministérios... Pastorais... Movimentos... Comunidades... Conselhos...
 
"Vocação acertada, vida feliz!!!"
 
6. BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
 
- COPPI, Paulo de. Igreja em Missão: Teologia e História da Missão, Animação Missionária e Nova Evangelização. São Paulo: Mundo e Missão, 2006. p.77-91.
- ROMANELLI, Francisco R. Missão do leigo. In: Revista Itaici, nº 19, março de 1995, p.3-10.
- CALDEIRA, Júlio C. Leigo, onde está a tua missão? In: Revista Missões, JAN/FEV 2010 – nº 01 – ano XXXVI, p. 15-16. In: http://www.julioimc.blogspot.com/
- MANZATTO, Antônio. Quem é leigo? In: www.oarcanjo.net/congressodeleigos  
- VANZELLA, José Adalberto. Protagonismo do leigo na Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.
 
 
* OBS: Este esquema é parte do curso que ministrei em São Roque para ministros e agentes de Pastoral do setor Barueri (Diocese de Osasco), no dia 11 de setembro de 2010.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O frio que veio de dentro

Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro.


Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam. Se o fogo apagasse - eles o sabiam, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver.

O primeiro homem era um racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura. Então ele raciocinou consigo mesmo:

- "Aquele negro! Jamais darei minha lenha para aquecer um negro." E guardou-as protegendo-as dos olhares dos demais.

O segundo homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu um círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas roupas velhas e remendadas. Ele fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou:

- "Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?"

O terceiro homem era o negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático:

- "É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem". E guardou suas lenhas com cuidado.

O quarto homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve.

Ele pensou:
- "Esta nevasca pode durar vários dias. vou guardar minha lenha."

O quinto homem parecia alheio a tudo. Era um sonhador. Olhando fixamente para as brasas. Nem lhe passou pela cabeça oferecer da lenha que carregava.

Ele estava preocupado demais com suas próprias visões (ou alucinações?) para pensar em ser útil.

O último homem trazia nos vincos da testa e nas palmas calosa das mãos, os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido.

- "Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos."

Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou.

Ao alvorecer do dia, quando os homens do Socorro chegaram à caverna encontraram seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe de Socorro disse:

- "O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro."

FONTE: Ideal dicas

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 15,1-32 - 24º Domingo do Tempo Comum


Por: Patrick Silva

Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam contra ele. “Este homem acolhe os pecadores e come com eles”. Então ele contou-lhes esta parábola: “Quem de vós que tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, alegre a põe nos ombros e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida! ’ Eu vos digo: assim haverá no céu alegria por um só pecador que se converte, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende a lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la? Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido! ’ Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte”. E Jesus continuou. “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: “Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistiu com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”. (Lucas 15,1-32)

1. LECTIO – Leitura
No “caminho rumo a Jerusalém” Jesus oferece uma catequese sobre a misericórdia de Deus… O capítulo 15 de Lucas apresenta as chamadas “parábolas da misericórdia”. É um tema que Lucas aprecia, ele entende que Jesus é o Deus que veio ao encontro da humanidade para lhe oferecer, em gestos concretos, a salvação. As parábolas da misericórdia expressam o amor e a misericórdia de Deus que se derrama sobre todos, de modo especial para os pecadores. A parábola da ovelha perdida – a primeira que encontramos – é comum a Lucas e Mateus, embora, neste evangelho, apareça em contexto diferente. Já as parábolas da moeda perdida e do filho pródigo (as outras duas parábolas que completam este capítulo) são exclusivas de Lucas.

O discurso de Jesus apresentado neste capítulo está enquadrado numa situação concreta. Ao ver que alguns infratores notórios da moral pública (como os cobradores de impostos) se aproximavam de Jesus e eram acolhidos por Ele, os fariseus e os escribas (que não admitiam qualquer contato com os pecadores) expressaram a sua admiração por Jesus os acolher e por se sentar à mesa com eles (o sentar-se à mesa expressava familiaridade, comunhão de vida e de destinos). É essa crítica que vai provocar o discurso de Jesus sobre a atitude misericordiosa de Deus. As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.

A primeira parábola (vs. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o entusiasmo à volta de um acontecimento banal como é o achar a ovelha perdida… Nesses exageros revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O “deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida” mostra a preocupação de Deus com cada pessoa que se afasta da comunidade da salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus. A alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que “reencontra” alguém se afastou dEle.

A segunda parábola (vs. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. Já a terceira parábola (vs. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua auto- suficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua amando, esperando ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas que tinham uma atitude de intolerância e de exclusão.

O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles, alegra-se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai.

2. MEDITATIO – meditação
Se essa é a lógica de Deus em relação aos pecadores, é essa mesma lógica que devo ter. Como é que eu acolho aqueles que me ofendem, ou que assumem comportamentos considerados reprováveis? Sou capaz de ir ao seu encontro? Capaz de os acolher?

Ser testemunha da misericórdia e do amor de Deus no mundo não significa, no entanto, aceitar o pecado… O pecado – tudo o que gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento – é mau e deve ser combatido e vencido. Deus convida-me a amar o pecador e a acolhê-lo sempre como um irmão; mas convida-me também a lutar contra o mal, pois este é a negação desse amor de Deus que eu devo testemunhar.

3. ORATIO – oração
Use as palavras do Salmo 51 como sua oração pessoal. Agradeça a Deus por sua imensa misericórdia e carinho por todos. Ore pelas “ovelhas perdidas” para retornem ao Pai que as amas. Não tenha medo de rezar por alguém em especial.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple a figura deste pastor que sai ao encontro da “ovelha perdida” e com carinho e alegria a faz regressar a casa. Sinta-se abraçado por este imenso amor.

5. MISSIO – missão
“É preciso viver com a certeza de que Deus se compadece das nossas fraquezas e desculpa as nossas faltas; só deseja é que mostremos um pouco de boa vontade.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Bíblia: Revelação de Deus


Por: Francisco Rubeaux, omi

Todos os livros reunidos na Bíblia nos narram experiências de vida, pelas quais pessoas humanas, iguais a nós, reconheceram a presença de Deus, descobriram um pouco do seu rosto, afinal chegaram a conhecer quem é Deus e como age em nosso favor. Para guardar memória dessa revelação deram um nome a Deus. Por isso, ao longo da Bíblia, encontramos tantos nomes dados a Deus, para dizer quem Ele é e quem Ele é para nós.

Vamos percorrer alguns livros da Bíblia para nós também contemplar esse rosto de Deus, e, quem sabe, acrescentar outros nomes, a partir das nossas próprias experiências.

1. Abraão, nosso pai na fé, descobre que Deus não é distante e terrível, mas ao contrário, quer fazer aliança com a humanidade: “eu farei de você um grande povo e o abençoarei, tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma bênção. Abençoarei os que abençoarem você e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem. Em você, todas as famílias da terra serão abençoadas”. (Gênesis 12, 2-3). Deus é o Deus da aliança, um Deus que quer unir-se à vida e às andanças dos homens. Deus caminha com a gente. É PRÓXIMO.

2. Deus próximo, também o experimenta Moisés. Na sarça ardente, Deus se revela como aquele que desce: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios, e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel”. (Êxodo 3, 7-8). Deus mesmo se dará o nome de JAVÉ, isto é, Deus presente, Deus atuante. “Esse é meu nome para sempre e assim eu serei lembrado de geração em geração”. (Êxodo 3, 15).

3. Deus vem para libertar, salvar o seu povo da opressão. Ele é REDENTOR: “Não tenha medo, vermizinho, Jacó, bichinho Israel. Eu mesmo o ajudarei, palavra do Senhor. O seu Redentor é o Santo de Israel”. (Isaías 41, 14).

4. O Redentor é o mesmo que o CRIADOR: “Assim diz Javé, o Santo de Israel, aquele que o formou. Eu fiz a terra e criei nela o homem. Minhas mãos estenderam os céus e dei ordens para todo o exército dos astros”. (Isaías 45, 11-12).

5. Deus cuida de nós como um PAI ou uma MÃE: “Quando Israel era menino, eu o amei. Do Egito chamei o meu filho. Fui eu que ensinei Efraim a andar, segurando-o pela mão. Eu os atraí com laços de bondade, com cordas de amor. Fazia com eles como quem levanta até seu rosto uma criança; para dar-lhes de comer, eu me abaixava até eles. O meu coração solta em meu peito, as minhas entranhas se comovem dentro de mim. Eu sou Deus, e não um homem. Eu sou o Santo no meio de você”.(Oséias 11, 1-4 e 9).

6. Deus é AMOR e FIDELIDADE: “Javé passou diante de Moisés, proclamando: Javé, Javé! Deus de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade. Ele conserva o seu amor por milhares de gerações”. (Êxodo 34, 6-7). Para falar de Deus, muitas vezes os profetas usaram essas palavras “Deus de amor e fidelidade” No novo Testamento João escrevera “cheio de graça e verdade”.(João 1, 14).

7. Esse Deus de bondade e de misericórdia é o ÚNICO Deus: “Eu sou Javé, e fora de mim não existe salvador. Eu sou Deus e o sou para sempre. Não há quem possa livrar-se de minha mão”(Isaías 43, 11-13).

8. Deus FILHO nos revela o PAI: “Quem me viu, viu o Pai. Você não acredita que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu digo a vocês, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, ele é que realiza as suas obras. Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim”. (João 14, 9-11).

9. Deus é ESPÍRITO SANTO: “O Senhor é o Espírito; e onde se acha o Espírito do Senhor aí existe a liberdade”. (2ª Coríntios 3, 17).

10. Concluindo todo esse percurso histórico, João vai resumir quem é Deus numa palavra só: “Nós reconhecemos o amor que Deus tem por nós e acreditamos nesse amor. DEUS É AMOR; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele”. (1ª João 4, 16).

Se nós vivermos o amor uns para com os outros, é a vida de Deus que está em nós, é Deus mesmo que permanece em nós, ele vive em nós, nos tornemos sua morada: “Se alguém em ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada”. (João 14, 23).

A fé é a certeza que temos que Deus nos ama, que por isso Ele está sempre conosco, ao nosso lado, dentro de nós, Ele é o “Deus conosco” e essa certeza nos leva a afirmar que a vida plena, a vida segundo Deus é estar junto com Ele: “Essa é a tenda de Deus com os homens. Ele vai morar com eles. Eles serão o seu Povo, e Ele, o Deus-com-eles, será o seu Deus. O vencedor receberá esta herança: eu serei o Deus dele, e ele será o meu filho”. (Apocalipse 21, 3 e 7).

“Escuta, Povo de Deus, Javé nosso Deus é o único Javé. Portanto ame a Javé seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força” (Deuteronômio 6, 4-5).

“Bendiga a Javé, ó minha alma, e não esqueça nenhum dos seus benefícios.
Ele perdoa suas culpas todas, e cura todos os seus males.
Ele redime da cova a sua vida, e a coroa de amor e compaixão.
Ele sacia seus anos de bens. Javé faz justiça e defende todos os oprimidos.
Javé é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor.
Como um pai é compassivo com seus filhos,
Javé é compassivo com aqueles que o temem.
Porque ele conhece a nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós". (Salmo 103)
 
 

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Visão de Adulto… Visão de Criança…

Éramos a única família no restaurante com uma criança.

Eu coloquei Daniel numa cadeira para crianças e notei que todos estavam tranqüilos, comendo e conversando.

De repente, Daniel gritou animado, dizendo: ‘Olá, amigo!’, batendo na mesa com suas mãozinhas gordas.
Seus olhos estavam bem abertos pela admiração e sua boca mostrava a falta de dentes.
Com muita satisfação, ele ria, se retorcendo.
Eu olhei em volta e vi a razão de seu contentamento.

Era um homem andrajoso, com um casaco jogado nos ombros, sujo, engordurado e rasgado.
Suas calças eram trapos com as costuras abertas até a metade e seus dedos apareciam através do que foram, um dia, os sapatos.
Sua camisa estava suja e seu cabelo não havia sido penteado por muito tempo.
Seu nariz tinha tantas veias que parecia um mapa.
Estávamos um pouco longe dele para sentir seu cheiro, mas asseguro que cheirava mal.

Suas mãos começaram a se mexer para saudar..
‘Olá, neném. Como está você?’, disse o homem a Daniel.
Minha esposa e eu nos olhamos: ‘Que faremos?’.
Daniel continuou rindo e respondeu, ‘Olá, olá,amigo’.
Todos no restaurante nos olharam e logo se viraram para o mendigo.
O velho sujo estava incomodando nosso lindo filho.
Trouxeram a comida e o homem começou a falar com o nosso filho como um bebê.
Ninguém acreditava que o que o homem estava fazendo era simpático.
Obviamente, ele estava bêbado.

Minha esposa e eu estávamos envergonhados.
Comemos em silêncio; menos Daniel que estava super inquieto e mostrando todo o seu repertório ao desconhecido, a quem conquistava com suas criancices.

Finalmente, terminamos de comer e nos dirigimos à porta.
Minha esposa foi pagar a conta e eu lhe disse que nos encontraríamos no estacionamento.
O velho se encontrava muito perto da porta de saída.

‘Deus meu, ajuda-me a sair daqui antes que este louco fale com Daniel’, disse orando, enquanto caminhava perto do homem.
Estufei um pouco o peito, tratando de sair sem respirar nem um pouco do ar que ele pudesse estar exalando.
Enquanto eu fazia isto, Daniel se voltou rapidamente na direção onde estava o velho e estendeu seus braços na posição de ‘carrega-me’..
Antes que eu pudesse impedir, Daniel se jogou dos meus braços para os braços do homem.
Rapidamente, o velho fedorento e o menino consumaram sua relação de amor.
Daniel, num ato de total confiança, amor e submissão, recostou sua cabeça no ombro do desconhecido.

O homem fechou os olhos e pude ver lágrimas correndo por sua face.
Suas velhas e maltratadas mãos, cheias de cicatrizes, dor e trabalho duro, suave, muito suavemente, acariciavam as costas de Daniel.

Nunca dois seres haviam se amado tão profundamente em tão pouco tempo.
Eu me detive, aterrado. O velho homem, com Daniel em seus braços, por um momento abriu seus olhos e olhando diretamente nos meus, me disse com voz forte e segura: ‘Cuide deste menino’.
De alguma maneira, com um imenso nó na garganta, eu respondi: ‘Assim o farei’.
Ele afastou Daniel de seu peito, lentamente, como se sentisse uma dor.
Peguei meu filho e o velho homem me disse: ‘Deus o abençoe, senhor. Você me deu um presente maravilhoso’.
Não pude dizer mais que um entrecortado ‘obrigado’.

Com Daniel nos meus braços, caminhei rapidamente até o carro.
Minha esposa perguntava por que eu estava chorando e segurando Daniel tão fortemente, e por que estava dizendo: ‘Deus meu, Deus meu, me perdoe’.

Eu acabava de presenciar o amor de Cristo através da inocência de um pequeno menino que não viu pecado, que não fez nenhum juízo; um menino que viu uma alma e uns adultos que viram um montão de roupa suja.
Eu fui um cristão cego carregando um menino que não o era.
Eu senti que Deus estava me perguntando: ‘Estás disposto a dividir seu filho por um momento?’, quando Ele compartilhou Seu Filho por toda a eternidade..

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 14,25-33 - 23º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: “Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar! ’ Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de paz. Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo! (Lucas 14,25-33)

1. LECTIO – Leitura
Após a parada, na semana passada, na casa de um dos chefes dos fariseus. Jesus retoma seus ensinamentos voltado para as grandes multidões que o acompanham na sua jornada rumo a Jerusalém. O evangelho vai fazer um convite a tomar consciência das exigências da opção pelo Reino. Optar pelo “Reino” não é escolher um caminho de portas largas, de facilidade, mas sim aceitar entrar pela porta “estreita”, isto é, percorrer um caminho de renúncia. Jesus apresenta as coordenadas deste “caminho do discípulo”. Trata-se de um caminho em que o “Reino” deve ter o primeiro lugar. Jesus não admite meios-termos: ou se aceita a proposta ou não vale a pena começar algo que não vai ter continuidade.

Quais são, na perspectiva de Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do discípulo” e chegar a sentar-se à mesa do “Reino”? Jesus coloca três exigências fundamentais, todas elas subordinadas ao tema da preferência (preferir algo é renuncia, abrir mão em favor disso). A primeira exige o preferir Jesus à própria família (v. 26). A este propósito, Lucas põe na boca de Jesus uma expressão muito forte. Literalmente, podemos traduzir o verbo “misséô” aqui utilizado como “odiar” (“quem não odeia o pai, a mãe… não pode ser meu discípulo”). Esta expressão facilmente nos assusta. Necessita entender, que segundo o jeito oriental de falar, “odiar” significa “pôr em segundo lugar algo porque, entretanto, apareceu um valor que é mais importante”. É evidente que Jesus não está a pedir o ódio a ninguém, muito menos aqueles que nos deram a vida. Está, sim, a exigir que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao “Reino”. Se for necessário escolher, a prioridade deve ser do “Reino”.

A segunda exige a renúncia à própria vida (v. 27). O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses, os seus projetos, aquilo que é melhor para ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um dom em favor dos outros, se necessário até ao extremo de doar a própria vida. Foi essa a via escolhida por Jesus: o discípulo é convidado a imitar o mestre.

A terceira exige a renúncia aos bens (v. 33). Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando a pessoa e levando-a a viver em função deles; assim sendo, que espaço fica para o “Reino”? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos outros; ora, viver na dinâmica do “Reino” implica viver no amor e deixar que a vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha… Pode, então, viver-se no “Reino” sem renunciar aos bens?

Com tais exigências, fica claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda o pesar bem as implicações e as conseqüências da opção pelo “Reino”. A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem com que terminá-la (vs. 28-30) e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores (vs. 31-32) convidam os candidatos a discípulos tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do “Reino”. O intuito de Jesus não é assustar ou demover aqueles que desejam se tornar discípulos, mas fazer entender que a sua proposta é exigente, é a proposta da “porta estreita”, onde aqueles que assumem o projeto não devem abandonar a “construção” a meio. Por isso, o convite a pensar se se está pronto para assumir essas exigências. Jesus não aceita gente de meios termos, mas quer gente decidida.

2. MEDITATIO – meditação
Jesus não está apenas interessado em ter seguidores, mas quer seguidores decididos pela causa do Reino. O caminho que Jesus propõe não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção. Como me coloque perante isso? A proposta de Jesus é, para mim, uma opção decidida ou algo que aceitei, mas não estou muito convencido?

Às vezes parecemos mais interessados nas estatísticas, querendo mostrar um grande número de batismos, de casamentos, de crismas, de comunhões, do que propor, com exigência, a o caminho de Jesus. A nossa pastoral deve facilitar tudo, ou ir pelo caminho da exigência?

Às vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, porque “fica lindo nas fotografias”… Sem fechar a porta a ninguém, é necessário mostrar as exigências da proposta de Jesus. Por vezes passamos a sensação de que tudo é aceitável.

Jesus exige a capacidade de renunciar à própria vida e a tomar a cruz do amor, do serviço, do dom da vida. O que é mais importante para mim: os meus interesses, os meus valores egoístas, ou o serviço dos irmãos?

Jesus exige preferir o Reino em relação aos bens. Os bens, a procura da riqueza são, para mim, uma prioridade fundamental? O que é mais importante: a partilha, a solidariedade, a fraternidade, o amor aos outros, ou o ter mais, o juntar mais?

3. ORATIO – oração
As exigências de Jesus, tantas vezes, nos assustam! Não é essa a intenção de Jesus. Na caminhada de discípulos temos a consciência de que nos falta a radicalidade da nossa opção. Peça perdão ao Senhor por não ter sido ainda capaz de se entregar incondicionalmente ao projeto do Reino. Renove o seu entusiasmo por ser um discípulo de Jesus.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple o exemplo de Jesus, capaz de se entregar totalmente à vontade do Pai, mesmo que tivesse sentido medo “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26, 39).

5. MISSIO – missão
“Para ser discípulo é preciso ter fogo. O morno, aquele que não é quente nem frio, não conseguirá fazer nada. Quem não arder deste fogo divino nunca será missionário.” José Allamano

Disponível semanalmente em www.consolata.org.br