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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Igreja Missionária, no livro dos Atos dos Apóstolos (parte 2)

Por: Francisco Rubeaux, omi


4. A missão é universal, porque a comunidade é aberta a todos.

É provavelmente a característica mais visível no livro dos Atos. Já vimos o versículo 8 do capítulo primeiro, que serve até de estrutura a todo o livro. A missão recebida de Jesus pelos Apóstolos é serem testemunhas dele desde Jerusalém, passando pela Judéia e Samaria e até os confins da terra. Essa divisão geográfica permite a organização do livro em três partes:

- Atos 1 a 7: a missão em Jerusalém.
- Atos 8 a 12: a missão na Judéia e na Samaria, incluindo até a Galiléia, como podemos ler em Atos 9, 31.
- Atos 13 a 28: até os confins da terra, que é a capital do Império: Roma.

Sabemos por Romanos15, 23-24, que foi a vontade de Paulo ir até a Espanha, última terra conhecida naquela época. Sempre foi o desejo dos missionários ir o mais longe possível. Paulo escrevia aos Romanos: “Não tendo mais campo para meu trabalho nestas regiões, e desejando há muitos anos chegar até vós irei quando eu for apara a Espanha". (Romanos 15, 23).

A Igreja nasce universal (=Católica). Basta reler a narração do evento de Pentecostes: “Achavam-se em Jerusalém, homens piedosos de todas as nações que há debaixo do céu: Partos, Medos e Elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia limítrofe de Cirene, Romanos adventícios, Judeus e prosélitos, cretenses e árabes.” (Atos 2, 5 e 9-10). Mas a expansão da Palavra não é somente geográfica, de fato, o anúncio da Boa Nova vai penetrando todos os diversos grupos religiosos da época:

- após o anúncio aso Judeus, a Boa Nova, graças a Filipe, um dos Sete, chega até os Samaritanos (Atos 8, 5). Sabemos que os Samaritanos não eram bem quistos pelos Judeus, mas a Boa Nova é para eles também (Jesus não tinha iniciado essa missão com a Samaritana?).

- após os Samaritanos a Boa Nova chega também aos Tementes a Deus (pagãos simpatizantes de fé israelita, mas que não aceitam a circuncisão é o caso de Cornélio em Atos 10 1-2 e 24-48).

- o eunuco, pertencia a um grupo marginalizado pela religião judia, de fato o seu estado físico não lhe permitindo ser circuncidado ele era excluído da comunidade de Israel. Com a pregação de Filipe, ele se converte e é acolhido na nova comunidade, novo Povo de Deus, pelo batismo

- por fim são os pagãos que recebem a Boa Nova: “Aqueles que haviam sido dispersos devido à tribulação sobrevinda por causa de Estêvão avançaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, a pregavam a Palavra apenas aos Judeus. Havia, contudo, entre eles alguns cipriotas e cireneus que, vindos a Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes a Boa Nova do Senhor Jesus. (Atoa 11, 19-20). Lucas vai dar ênfase a essa nova situação a partir da pregação de Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia: “ Cheios de coragem, Paulo e Barnabé declararam: era primeiro a vós (Judeus) que devíamos anunciar a Palavra de Deus. Como a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, nós nos voltamos para os pagãos.” (Atos 13, 46).

A Palavra anunciando a ressurreição de Cristo anuncia também que um novo mundo é possível. É possível se organizar socialmente a partir de novas relações econômicas, sociais, políticas e religiosas. Assim a missão não é somente anunciar, testemunhar é também construir um mundo novo, que Jesus chamava de Reino de Deus, e que podemos chamar também de novo céu e nova terra, nova sociedade...


O livro dos Atos nos mostra a transformação social operada pela Palavra nas pessoas e no seu modo de viver:
- Economicamente os discípulos passam a viver a partilha: “Eles se mostravam assíduos à comunhão fraterna, à fração do pão... todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum... partiam o pão pelas casas.” (Atos 2, 42-47). Existe também entre as comunidades uma solidariedade nas necessidades da vida: “Os discípulos decidiram então enviar, cada um conforme as suas posses, auxílios aos irmãos que moravam na Judéia. Assim fizeram, enviando-os aos anciãos por mãos de Barnabé e Saulo.” (Atos 11, 19-20).

- Socialmente os discípulos vivem como irmãos e irmãs. São laços fraternos que os unem numa mesma comunidade, que por isso é chamada COMUNHÃO. Por isso não tem mais distinção de raça, de cor ou de religião e nem de sexo: todos e todas são iguais e vivem a mesma responsabilidade da missão.

- Politicamente, ou seja, na maneira de se organizar, a liderança é serviço. Nem os Apóstolos se exaltam ou procuram serem maiores do que os outros porque viram o Senhor. “No momento em que Pedro chegou, Cornélio veio ao seu encontro e, caindo-lhe aos pés, prostrou-se. Pedro, porém, o reergueu dizendo: levanta-te. Eu também sou apenas um homem.” (Atos 10, 25-26).

- Religiosamente é claro que uma nova relação estabeleceu-se entre Deus e a Humanidade, pois pelo Espírito de Jesus todos e todas são filhos e filhas de Deus. A Boa Nova questiona também as formas religiosas da época: “Não somente em Éfeso, mas em toda a Ásia, este Paulo, com suas persuasões, arrastou uma multidão considerável, afirmando não serem deuses os que saem das mãos dos homens. Isto não só pode lançar o descrédito sobre nossa profissão, mas ainda fazer reputar por nada o santuário da grande deusa Artêmis.” (Atos 19, 23-40).

Assim podemos concluir que no livro dos Atos dos Apóstolos, a missão é uma tarefa específica da comunidade-Igreja. Ninguém pode se desinteressar pelo avanço da Boa Nova, tanto geograficamente como socialmente, nas diversas camadas populacionais e nos diversos setores da vida em sociedade. A Palavra é envolvente.

Os primeiros discípulos têm viva essa consciência, e não delegam a outros esse trabalho missionário. Todos se sentem responsáveis. Além de Pedro ou Paulo, conhecemos também Barnabé, Estêvão, Filipe, Timóteo, Silas, mas também Lídia, Dorcas. Sabemos da existência de uma comunidade cristã em Roma, desde cedo, mas ninguém até hoje sabe com precisão quem foi ou quem foram os evangelizadores da capital do Império. O próprio Paulo ao escrever a essa comunidade de Roma, lembra bom número de evangelizadores, homens e mulheres: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, saudai Prisca e Áquila meus colaboradores em Cristo Jesus... Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo.” (Romanos 16, 1-16).



 

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