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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 17,11-19 - 28º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galiléia. Estava para entrar num povoado, quando dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a certa distância e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto estavam a caminho, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. (Lucas 17,11-19)

1. LECTIO – Leitura
A subida a Jerusalém continua e é nesta caminhada que encontramos um encontro especial. No “caminho” de Jesus e dos discípulos aparecem, dez leprosos. O leproso, no tempo de Jesus, é um marginalizado, excluído… Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual (veja Lev 13-14). A lepra era entendida como castigo de Deus, assim, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém. Devia, também, afastar-se de qualquer contato com as outras pessoas para que não as contaminasse com a sua impureza física e religiosa. Segundo a lei, em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (veja Lev 14). Um dos leprosos (precisamente aquele que vai desempenhar o papel principal, neste episódio) é samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.

O episódio dos dez leprosos (que encontramos exclusivamente no evangelho de Lucas) insere-se no estilo do evangelista que deseja mostrar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação a todos, particularmente os excluídos e marginalizados.

O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos. sem exceção, mesmo àqueles que a religião oficial considerava definitivamente afastados da salvação.

Contudo, o acento do episódio está no fato de que, dos dez leprosos curados, só um voltou trás para agradecer a Jesus e, ainda por cima, foi um samaritano que voltou. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com freqüência, são os excluídos, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à auto-suficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons; no entanto, não reconheceram a proposta de salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui, também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação).

2. MEDITATIO – meditação
A “lepra” do evangelho recorda tudo aquilo que na sociedade gera exclusão, opressão, injustiça. Lucas garante que Deus tem um projeto de salvação para todos, sem exceção. É através de Jesus que esse projeto chega a todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.

Às vezes, aqueles que lidam diariamente com o mundo do sagrado estão demasiado cheios de auto-suficiência e de orgulho para acolherem com humildade e simplicidade os dons de Deus, para manifestarem gratidão. É preciso ter uma resposta de gratidão e de adesão à proposta de salvação que Deus faz. Qual é a minha atitude perante Deus? Reconheço e agradeço os dons que Deus realiza em minha vida?

Como lidamos com aqueles que a sociedade de hoje considera “leprosos” e que, muitas vezes, se encontram numa situação de exclusão e de marginalidade: com desprezo, com indiferença, com medo de ficar contaminados ou como testemunhas da bondade e do amor de Deus?

Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos batizados ou fazemos a primeira comunhão; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova. Como está decorrendo este “caminho” espiritual? A que ponto estou nesta caminhada?

3. ORATIO – oração

Pense em todos os momentos quem que Deus tem sido bom para você. Anote-os, faça uma lista para mais tarde recordar. Responda a Deus com gratidão e louvor. Peça a Deus para o ajudar a ser sempre agradecido, por todos os dons recebidos na vida. Peça também perdão pelas vezes em que não reconheceu os dons de Deus.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple com o texto de Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças” (4,4-6).

5. MISSIO – missão
“A nossa santidade não consiste em fazer milagres, mas em cumprir os nossos deveres com perfeição no devido tempo e lugar.” José Allamano

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