Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O valor de cada um...

Um menino entrou numa loja de animais e perguntou o preço dos filhotes de cachorro que estavam à venda.

- Entre R$ 60,00 e 100,00, respondeu o dono.

O garoto puxou então uns trocados do bolso e disse:
- Mas eu só tenho R$ 10,00... Poderia ver os filhotes?

O dono da loja chamou Lady, a mãe dos cachorrinhos, que veio correndo, seguida por cinco bolinhas de pêlos.

Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando.

O menino apontou aquele bichinho e perguntou:
- O que a de errado com ele?

O proprietário do estabelecimento explicou que ele tinha um problema no quadril e andaria daquele jeito para sempre.

A criança se animou e disse com enorme alegria no olhar:
- esse é o cachorrinho que eu quero comprar!

O dono da loja estranhou...
- Não, você não vai querer comprar esse. Mas, se quiser ficar com ele, eu lhe dou de presente.

O menino emudeceu... Olhou para o dono da loja e falou:
- Eu não quero que você me dê aquele cachorrinho, pois ele vale tanto quanto qualquer um dos outros. Vou pagar o preço que me for pedido. Na verdade, eu lhe dou R$ 10,00 agora e R$ 5,00 por mês, até completar o valor total.

Surpreso o dono da loja contestou:
- Mas este cachorrinho nunca vai poder correr, pular e brincar com você como qualquer um dos outros...

Sério, o menino levantou lentamente a perna esquerda da calça, deixando á mostra a prótese que usava para andar.
- Veja. Eu também não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que entenda isso...

Às vezes desprezamos as pessoas com quem convivemos todos os dias por causa dos seus "defeitos", quando na verdade somos tão iguais ou pior do que elas. Desconsideramos que essas mesmas pessoas precisam apenas de alguém que as compreenda e as ame, não pelo que elas podem fazer, mas pelo que realmente são. Amar a todos é difícil, mas não impossível.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lectio Divina de Mt 5,1-12 - 4º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva, imc

Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (Mateus 5,1-12)

1. LECTIO – Leitura

O evangelho desta semana é bem conhecido e, provavelmente, terá já sido refletido diversas vezes, tal pode ser uma vantagem, mas também um desvantagem. Vantagem porque dispomos desde logo boas referências do texto; desvantagem porque o fato de conhecermos “bem” o texto nos faz não observar alguns detalhes que são importantes. Assim, o primeiro convite é a ler o testo como se fosse a primeira vez.

Depois de dizer quem é Jesus (Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.

O evangelista Mateus organiza o seu “alicerça” seu evangelho em cinco grandes pilares, que são os cinco grandes discursos presentes no evangelho. Provavelmente a inspiração de Mateus vem dos cinco livros do Pentateuco, desde logo afirmando quem em Jesus se receberá uma nova lei. Estamos considerando parte do primeiro desses cinco discursos, conhecido como o “sermão da montanha” (Mt 5-7).

Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.

As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano.

As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura, quer nas ações de graças pela alegria presente, quer nas exortações a uma vida sábia e prudente. O ponto em comum é que se referem sempre a uma alegria oferecida por Deus.

Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, pela sua situação estão disponíveis para acolher a proposta de salvação e libertação de Deus.

As quatro primeiras “bem-aventuranças” estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” e os felecitam porque se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade. Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.

Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.

Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…

A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.

O segundo grupo de “bem-aventuranças” (7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.

Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros, que são capazes de ir ao encontro do outro e estender-lhe a mão.

Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.

Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação.

Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.

Na última “bem-aventurança” (11) temos uma exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.

No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do seu lado; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

2. MEDITATIO – meditação

Os primeiros a serem declarados felizes são os pobres, mas hoje os que são considerados “felizes” sãos os ricos, os que têm muito dinheiro. Na verdade, o que é verdadeira felicidade?

Ao reler o texto consegue concordar com aqueles que são declarados felizes? Acredita que é esse o caminho da felicidade?

3. ORATIO – oração

As bem-aventuranças são desafiadoras, são um convite radical de Jesus para o nosso tempo que parece viver “ao contrário”. Peça ao Senhor a coragem para acolher o seu convite e aceitar esta nova lógica.

4. CONTEMPLATIO – contemplação

Releia o texto e imagine estar presente naquele episódio. A montanha, Jesus que convida a sentar, a multidão pronta para o escutar, Jesus falando… Qual seria a sua reação às palavras de Jesus?

5. MISSIO – missão
“Como é triste ver um companheiro necessitado de ajuda e os outros que estão ali presentes, nãos e mexerem! Tal como nossas mãos se ajudam uma à outra, assim também nós devemos ajudar-nos uns aos outros.” José Allamano



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O mito da caverna - Platão

  Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados.
  Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam pro­jetadas como sombras nas paredes do fundo da caver­na. Do lado de fora, pessoas passam conversando e car­regando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projeta­das na parede da caverna, como num teatro de fanto­ches.
  Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que trans­portam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam. Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver (sem vê-Ias realmente, pois estão na obs­curidade) e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das pró­prias sombras e não dos homens cujas imagens estão projetadas na parede; também imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses homens carregam nos ombros são vozes de seres reais.
  Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das coi­sas e dos homens exteriores como as sombras dos artefa­tos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem co­mo causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas em que se encontram.
  Que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria? Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-Ia. Fabrica um instru­mento com o qual quebra os grilhões. De início, move a ca­beça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um cami­nho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primei­ra vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque será obri­gado a decidir onde sé encontra a realidade: no que vê ago­ra ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos não con­seguem ver com nitidez as coisas iluminadas.
  Seu primei­ro impulso é o de retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna on­de tudo lhe é familiar e conhecido. Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior.
  Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vi­da toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Dora­vante, desejará ficar longe da caverna para sempre e luta­rá com todas as suas forças para jamais regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e con­vencê-los a se libertarem também.
  Que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam faze-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente aca­bam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo de aparências em que vi­vemos.
Que são as sombras projetadas no fundo? As coi­sas que percebemos.
Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade.
Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo.
O que é a luz do Sol? A luz da verdade.
O quê é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade.
Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os ou­tros prisioneiros? A Filosofia.

(Marilena Chaui – Convite a Filosofia)
 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lectio Divina de Mateus 4,12-23 - 3º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva, imc

Quando soube que João tinha sido preso, Jesus retirou-se para a Galiléia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galiléia, no território de Zabulon e de Neftali, para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galiléia, entregue às nações pagãs! O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu”. Daí em diante, Jesus começou a anunciar: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. Caminhando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando as redes ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse-lhes: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. Eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram. Prosseguindo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam no barco, com seu pai Zebedeu, consertando as redes. Ele os chamou. Deixando imediatamente o barco e o pai, eles o seguiram. Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo. (Mateus 4,12-23)


1. LECTIO – Leitura
Neste domingo somos “transportados” até Galiléia, a região setentrional da Palestina, ponto de encontro de muitos povos. Encontramos uma outra referência geoagráfica à cidade de Cafarnaum: situada no limite do território de Zabulão e de Neftali, na margem noroeste do lago de Genezaré, considerada a capital judaica da Galileia (embora Tiberíades fosse a capital política). A sua situação geográfica abria-lhe, também, as portas dos territórios dos povos pagãos da margem oriental do lago.

Num primeiro momento, o evangelista Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato um significado profundo, à luz de Is 8,23-9,1: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Será exatamente na terra humilhada de Zabulão e Neftali, que vai começar a brilhar a luz da libertação. O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal, assim, não é por acaso que o primeiro anúncio comece na Galiléia, terra onde os gentios se misturam com os judeus.

Num segundo momento, o evangelista apresenta o início da missão de Jesus, definindo o conteúdo básico da pregação, mostrando o “Reino” como realidade viva e apresentando os primeiros discípulos que acolhem o apelo do “Reino” e que vão seguir Jesus na missão.

Conteúdo do anúncio: o versículo 17 é explicito, Jesus veio trazer “o Reino”. A expressão “Reino de Deus” (ou “Reino dos céus”, como prefere dizer Mateus) refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder soberano de Deus sobre a humanidade). Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte proposta: “arrependei-os (‘metanoeite’) porque o Reino dos céus está a chegar”.

O convite à conversão (“metanoia”) é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência da pessoa; só quando a pessoa aceita que Deus ocupe o lugar que lhe compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.

O “Reino” não é uma realidade vazia, assim, o evangelista mostra desde logo a construção dete “reino” realizada através de Jesus. Tal é realizado através das suas palavras e dos seus gestos (milagres, curas, expulsões) são sinais evidentes de que Deus começou já a reinar e a transformar a escravidão em vida e liberdade.

Por último, Mateus descreve o chamado dos primeiros discípulos. Estamos perante um texto com um intuito catequético sobre o chamado e a adesão ao projeto do “Reino”. Através da resposta imediata de Pedro e André, Tiago e João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas exigências.

O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes propõe uma missão. A resposta dos quatro discípulos ao chamamento é paradigmática: renunciam à família, ao seu trabalho, à segurança e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura indicia uma opção radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.

Os discípulos serão “pescadores de homens”. O mar é, na cultura judaica, o lugar dos demônios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade; logo, a missão dos discípulos será colaborar na libertação da humanidade de tudo o que a impede de alcançar a verdadeira vida.

Os primeiros quatro discípulos representam todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Estes são o paradigma para aqueles que hoje chamados a continuar a colaboração na libertação da humanidade.

2. MEDITATIO – meditação
O primeiro anúncio de Jesus é um apelo à conversão. O que é que na minha vida, nas minhas escolhas, nos meus comportamentos constitui um obstáculo à chegada do “Reino”?

A resposta dos primeiros chamados se caracteriza pela prontidão da resposta. A minha resposta a Deus como é que a caracterizo?

Os discípulos são chamados a “pescadores de homens”, colaborando na libertação da humanidade de tudo o que não leva à vida. Estou dentro deste projeto de libertação?

3. ORATIO – oração
Ore para ser capaz de responder prontamente ao apelo de Jesus, para que tenha a coragem de deixar os seus projetos para abraçar o grande projeto de Deus para você.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple Jesus que se aproxima de você e o convida a segui-lo. Abandone-se a este Jesus que a/o convida a ir mais além.

5. MISSIO – missão
“A vocação ao apostolado é própria de todos aqueles que amam intensamente a Deus, que anseiam por fazê-lo amar, e estão dispostos a qualquer sacrifício para conseguir tão nobre intento” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/ e http://www.palavramissionaria.com.br/

sábado, 15 de janeiro de 2011

O ferreiro

Havia um ferreiro numa vila que após uma vida de excessos resolveu consagrar sua vida a Deus. Durante muitos anos, procurou realizar caridade, cumpria com seus deveres, mantia seus valores morais, mas, apesar de todo este esforço e dedicação nada parecia dar certo em sua vida, pelo contrário, dívidas cresciam e acumulavam, brigas constantes, etc.

Uma bela tarde, um amigo que o visitara, e que se compadeceu de sua situação dificil, comentou: ” É realmente estranho que justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar”. E ele continuou : ” Não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda a sua crença espiritual, parece que nada tem melhorado”.

O ferreiro não conseguiu respondê-lo imediatamente, mas sentia que necessitava dizer algo para o amigo. Ele já havia meditado no assunto várias vezes e se colocado a mesma questão. Entretanto sentia que algo de maior atuava e baseando-se nisso respondeu: “Eu recebo em minha oficina o metal, aço, que ainda não foi trabalhado e preciso transformá-los em espada. Você sabe como faõ isso? Primeiro aqueço o metal num calor absurdo, até que fique, vermelho. Em seguida golpeio com meus martelos mais pesados para dar-lhe a forma desejada. Logo depois mergulho a peça no balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor. Repito estas ações até que obtenha a espada perfeita. Uma vez não é suficiente” .

O ferreiro deu uma longa pausa e continuou: ” As vezes o aço que chega até minhas mãos não consegue suportar o tratamento… o calor, as marteladas, água fria, acabam por gerar rachaduras nele. E eu sei que ele não dará uma boa espada . Então eu simplesmente o coloco num monte de ferro velho que tenho em frente a minha oficina. “

O ferreiro fez outro longa pausa e terminou: ” Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições; tenho aceito as marteladas que a vida me dá, e às vezes, sinto-me tão frio e insensivel como a água fria que faz sofrer o aço. Mas a unica que coisa que peço em minhas orações é que Deus não desista de mim e continue até que eu tome a forma que ele espera de mim. E que jamais desista de mim e me coloque na pilha do ferro velho de almas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Lectio Divina de João 1,29-34 - 2º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva, imc

No dia seguinte, João viu que Jesus vinha a seu encontro e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. É dele que eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia’! Eu também não o conhecia, mas vim batizar com água para que ele fosse manifestado a Israel”. João ainda testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como pomba, e permanecer sobre ele. Pois eu não o conhecia, mas aquele que me enviou disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, é ele quem batiza com o Espírito Santo’. Eu vi, e por isso dou testemunho: ele é o Filho de Deus!” (João 1,29-34)

1. LECTIO – Leitura

Após todas as festividades que foram propostas pela liturgia durante o tempo de Natal, agora caminharemos no “tempo comum”, onde não celebramos festas “especiais”, mas continuamos celebrando e atualizando a Páscoa do Senhor. Para começar, lemos um trecho da parte inicial do evangelho João, onde o evangelista começa a responder à questão: “quem é este Jesus”? A primeira pessoa que vai oferecer uma resposta é João Batista. João Baptista, o percursor, desempenha aqui um papel especial. Cabe a ele, apresentar aquele que está chegando e o apresentar à humanidade. Assim, podemos dizer que João é o apresentador de Jesus. A apresentação é feita através de duas afirmações com um profundo impacto teológico: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.

A primeira afirmação (“Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo”) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais extremamente sugestivas. Por um lado, evoca a imagem do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação dos pecado (imagem presente nos textos de Is 52,13-53,12); por outro lado, evoca a imagem do cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel (veja Ex 12,1-28). Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação. Sua missão é tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado” aparece, aqui, no singular: não designa os “pecados” das pessoas, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira; esse “pecado” provavelmente no contexto de João se refere à recusa da proposta de vida com que Deus quis presentear a humanidade. O “mundo” designa, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer… Deus propôs-se tirar a humanidade da situação de escravidão em que esta se encontra; enviou ao mundo Jesus, com a missão de realizar um novo êxodo, que leve a humanidade da terra da escravidão para a terra da liberdade.

A segunda afirmação (o “Filho de Deus”) completa a afirmação anterior. Temos vários elementos sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito; e tem por missão batizar a humanidade no Espírito. Dizer que Jesus é o Filho de Deus é dizer que Ele é o Deus que se faz pessoa, que vem ao encontro da humanidade, que monta a sua tenda no meio desta, com a finalidade de lhe oferecer a plenitude da vida divina. Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. Por outro lado, a descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”).

Jesus é, finalmente, aquele que batiza no Espírito Santo. O verbo “batizar” aqui utilizado tem, em grego, duas traduções: “submergir” e “ensopar (como a chuva ensopa a terra)”; refere-se, em qualquer caso, a um contato total entre a água e o sujeito. “Batizar no Espírito” significa, portanto, um contato total entre o Espírito e a pessoa, uma chuva de Espírito que cai sobre a pessoa e lhe “ensopa” o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre a pessoa; a qual aderindo a Jesus e “ensopado” do Espírito abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança a plenitude da vida.

2. MEDITATIO – meditação

João batista foi quem apresentou Jesus à humanidade, Também sou um “apresentador” de Jesus aos que me rodeiam?

Tenho consciência de que estou “ensopado” do Espírito Santo, que me convida a abandonar a “escuridão” para aderir à vida plena?

A missão dos seguidores de Jesus consiste em anunciar a vida plena e em lutar contra tudo aquilo que impede a sua concretização na história. Será que é isso que realizo em minha caminhada cristã?

3. ORATIO – oração
Peça a Deus o dom do Espírito, para que cheio do Espírito viva segundo o projeto de Deus e assim alcance a vida plena, cheia da felicidade divina.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
No silêncio contemple este Jesus Filho de Deus que vem oferecer a libertação dos nossos pecados e nos encaminhar para a luz verdadeira.

5. MISSIO – missão
“O Espírito Santo é fogo, é chama ardente. Todos nós devemos viver inflamados nesse amor. Peçamos que este fogo divino nos envolva totalmente e nos aqueça. É preciso amar, amar, porque o Espírito Santo é todo amor.” José Allamano



 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Lectio Divina de Mateus 3,13-17 - Batismo do Senhor

Por: Patrick Silva, imc

Jesus veio da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Mas João protestou, dizendo: ‘Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!’ E João concordou. Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado’. (Mateus 3,13-17)

1. LECTIO – Leitura

O tempo de Natal é cheio de festividades. Celebramos o nascimento de Jesus, de seguida Jesus se revelou ao mundo na celebração da Epifania e agora celebramos o Batismo de Jesus. Ao longo destas celebrações somos convidados a realizar um percurso espiritual que nos aproxima de Jesus.

O texto do evangelho apresenta Jesus indo ao encontro de João Baptista afim de ser batizado no rio Jordão. João, o primo e percursor de Jesus, no deserto convidara à conversão, essa conversão passavam por um rito de purificação realizado com água; um rito frequente na época entre os judeus. Nesta perspectiva o que fez Jesus procurar o batismo de João? Para o evangelista Mateus, o batismo é um momento privilegiado da manifestação de Jesus à humanidade: antes de começar a sua atividade, Jesus se apresenta… A passagem tem duas partes: o diálogo entre João e Jesus (vs. 14-15) e a manifestação de Jesus como Filho de Deus (vs. 16-17). Na primeira parte, o diálogo entre João e Jesus explica o porquê da ida de Jesus ao encontro de João para ser batizado… Em sua resposta, Jesus deixa claro que o seu batismo é um passo necessário para a realização da vontade de Deus (“devemos cumprir toda a justiça”… O cumprir a “justiça” equivale ao cumprimento da vontade de Deus. Assim, Jesus se apresenta como “Filho”, que cumpre fielmente a vontade do Pai (na cultura semita, a obediência era aquilo que definia a relação entre um filho e um pai…

Que é que este batismo tem a ver com o projecto salvador do Pai para a humanidade? Ao receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava) Jesus se solidariza com a humanidade limitada e pecadora, assumindo sua condição, colocou-se ao lado da humanidade para a ajudar a sair dessa situação e para percorrer no caminho da libertação, da salvação.

Na segunda parte, temos uma reflexão sobre a identidade de Jesus e sobre a sua missão. Para isso, Mateus recorre a três elementos simbólicos expressivos: os céus abertos, o Espírito que desce em forma de pomba e a voz do céu. A abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do Povo interrompeu. Desta forma, Mateus anuncia que a atividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.

O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (veja Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – veja Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da ação que Jesus vai iniciar.

Finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Jahwéh” que encontramos em Is 42,1. Afirmando então que Jesus é o Filho de Deus… Mas acrescenta-se que sua missão acontecerá em obediência total ao Pai.

O episódio do batismo de Jesus oferece a seguinte catequese: Jesus é o Filho de Deus, enviado pelo Pai para cumprir um projeto de salvação em favor da humanidade, para tal o Filho se solidarizou com a humanidade a se incarnar como homem. Através do Filho o Pai realizará uma nova criação, a definitiva criação. Além desta catequese sobre Jesus, o texto sugere outras duas linhas importantes quanto à definição da identidade de Jesus. Uma delas apresenta Jesus como o novo libertador: o batismo de Jesus no Jordão recorda a passagem do Mar Vermelho e estabelece um novo paralelo entre Jesus e Moisés… Jesus é o novo Moisés, revestido do Espírito de Deus, para conduzir o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade. A outra linha torna-se patente no diálogo entre João e Jesus: se João reconhece humildemente a sua inferioridade e a sua condição de percursor, é porque Jesus é esse Messias esperado, da descendência de Davi.

2. MEDITATIO – meditação

No episódio do Batismo de Jesus vemos a confirmação da filiação divina e da missão de Jesus. Em nosso batismo recebemos também a filiação divina e uma missão. Tenho sido fiel ao meu batismo?

Com o seu batismo Jesus assume plenamente a sua condição de “Filho” e se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projeto do Pai. É nesta atitude de obediência, de confiança que eu assumo na minha relação com Deus? O projeto de Deus é, para mim, mais importante de que os meus projetos pessoais?

No batismo Jesus aceita solidarizar-se com a debilidade da natureza humana, nas minhas relações sou uma pessoa solidária?

3. ORATIO – oração
Reze por todos aqueles que ao longo deste ano receberão o batismo, pedindo para que sejam fieis ao compromisso assumido. Ore pela sua fidelidade e missão ao serviço do Pai.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Recorde o seu batismo e a condição que lhe concedeu. Você é um filho/filha de Deus. Contemple com amor este Pai que lhe concedeu a condição divina.

5. MISSIO – missão
“Cada qual diga a si próprio, de todo o coração: ‘Eu amo a Deus mais que todos os outros.’ E não tenha medo, que isso não é soberba nenhuma.” José Allamano