Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

terça-feira, 22 de março de 2011

Situação difícil da Igreja no Vicariato de San Miguel de Sucumbíos - Equador

POR: Júlio Caldeira, imc, missionário em Sucumbíos (Equador)

Este artigo tem a finalidade de informar aos cristãos católicos de língua portuguesa da situação que vive a Igreja do Vicariato de Sucumbíos - Equador.

No dia 28 de outubro de 2010 o Vaticano aceitou a renúncia de Dom Gonzalo López, por idade, que esteve 40 anos à frente do Vicariato e nomeou como Administrador Apostólico do Vicariato, no dia 30 de outubro, o Pe. Rafael Ibarguren Schindler, EP (da Sociedade de Vida Apostólica "Virgo Flos Carmeli" - Arautos do Evangelho, que no Equador também são conhecidos como “Cavalheiros da Virgem”)

1. Protocolo nº 4417/10 da Congregação para a Evangelização dos Povos

Causou muito mal-estar em muitas lideranças a mensagem do Cardeal Días (prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos), datado de 15/11/2010, que questiona algumas atitudes pastorais contrárias à “exigência pastoral da Igreja como tal”, feita por Dom Filipo Santoro, bispo de Petrópolis/RJ (que foi o Visitador Apostólico nomeado pelo Vaticano – sendo que seu relatório nunca foi conhecido).

E continua afirmando que “por tal motivo, o novo Administrador Apostólico terá que organizar o Vicariato e implantar de maneira diferente todo o trabalho pastoral”. E conclui dizendo (o que causou indignação) que “para não impedir neste delicado serviço sua organização, a Congregação considera oportuno que depois da nomeação do novo Administrador Apostólico, Vossa Excelência (Dom Gonzalo) deixe o Vicariato Apostólico transladando-se a um lugar diferente, se possível, a seu País de origem (Espanha)”.

2. Assembleias Diocesanas de Pastoral e divisão entre os católicos

A única reunião entre Pe. Rafael e os Arautos com representantes do Vicariato foi no dia 20 de novembro de 2010 (durante a Assembleia Diocesana Extraordinária – que em ISAMIS é realizada mensalmente).

Dois fatos aumentaram a crise:

a) Os Arautos realizaram uma “Assembléia Extraordinária do ISAMIS” no dia 26 de novembro de 2010 com a presença exclusiva deles, onde “elegeram” um Conselho Jurídico e Econômico formado por Arautos, que foi invalidado pelo Ministério de Justiça, Direitos Humanos e Culto do Governo Equatoriano, em 29/12/2010.

b) No dia 07 de janeiro de 2011 realizou-se a Assembléia Diocesana Extraordinária, instância legitimamente constituída, que não contou com a presença do Pe. Rafael nem dos Arautos (que enviaram a polícia e não justificaram sua ausência). Nesta, as autoridades eclesiais, entre outras coisas, pedem a saída dos Arautos do Vicariato.

Após estes fatos, e vários outros que foram discorrendo com a chegada de uma comitiva dos Arautos do Evangelho, que segundo Pe. Rafael Ibarguren “foi encarregado à comunidade dos Arautos do Evangelho, jovem congregação que conta com vocações e crescimento, o cuidado do Vicariato”, começou-se uma série de acusações, que levou as comunidades cristãs católicas à divisão: por um lado estão os pró-Arautos e, por outro, os contra-Arautos…

Também começaram muitas acusações de atitudes dos Arautos, como ir às comunidades sem comunicar aos responsáveis, demitir funcionários/as “revolucionários/as”, desrespeitar pessoas que trabalham há anos nas pastorais, etc… E, por parte dos Arautos, que os Carmelitas e Dom Gonzalo não levavam com transparências a administração econômica do Vicariato nestes 40 anos, que a Igreja deve se preocupar com “as almas”, deixando o social para o Estado, etc…

3. Aumento das tensões

A divisão aumenta cada vez mais e encontra-se dificuldades de diálogo entre as partes. A Conferência Episcopal Equatoriana (CEE) já enviou uma delegação que contou com três bispos, que não conseguiram colocar as partes em diálogo.

Diante destes fatos, o Ministério de Relações Exteriores, Comércio e Integração, no dia 4 de fevereiro de 2010, em carta dirigida ao Núncio Apostólico Dom Giacomo Guido Ottenelli, reconheceu a Assembléia Diocesana de 7 de janeiro e pediu a investigação das atividades dos Arautos no Vicariato e a nomeação de um bispo que continu o trabalho de Dom Gonzalo.

O grupo que defende a saída dos Arautos (apoiada pelo clero diocesano, por muitos religiosos/as, lideranças comunitárias e sociais presentes no Vicariato), realiza desde 7 de janeiro uma vigília diária na praça em frente à catedral e realizou uma Marcha no dia 11 de março.

A sociedade civil e o Governo (em pronunciamento dos prefeitos da Província e do próprio Presidente da República) pediram a saída dos Arautos do Evangelho de Sucumbíos.

No passado dia 18 de março, o Núncio anunciou que o Vaticano enviará um Legado Papal para buscar solucionar o caso.

DUAS MANIFESTAÇÕES EM LAGO AGRIO: por fim, no dia 20 de março passado, aconteceram, simultaneamente, duas manifestações:
a) A "Marcha Branca pela Paz", organizada pelo Comitê pela unidade e paz entre os cristãos católicos (pró-Arautos), formada basicamente por um público urbano (e da Renovação Carismática) com uma caravana de carros e motos levando "bandeiras brancas".
b) A "Concentração" organizada pelo Comitê pela dignidade de ISAMIS e pela defesa da Rádio Sucumbíos (contra-Arautos), com a ampla participação da população urbana, de campesinos e indígenas (em suas mais diversas organizações).

Conclusão

Esperamos que este conflito se resolva, o mais rapidamente possível, e que a fraternidade volte a imperar entre os católicos de Sucumbíos, bem como se mantenha a vitalidade desta Igreja-Comunidade "Povo de Deus", pois é triste ver esta divisão...

Unamo-nos em oração por esta Igreja de San Miguel de Sucumbíos (ISAMIS) e que o Espírito de Deus ilumine as partes para que se chegue à unidade, “para que todos sejam um, como Tu, Pai, está em Mim e Eu em Ti. E para que também eles estejam em Nós, a fim de que o mundo acredite que Tu me enviaste” (Jo 17,21).