Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Retidão de vida e religião

Por: Aloísio Roque Oppermann

Nem sempre podemos constatar, nos dias atuais, que somos uma geração de pessoas retas e íntegras. “Jó era homem íntegro e reto, e se mantinha afastado do mal” ( Jó 1,1).

Os noticiários, dia por dia nos assustam, nestes tempos de orgulhosa modernidade, descrevendo a ousadia dos que assaltam, invadem residências, matam com requintes de malvadeza, roubam fortunas dos incautos...

Durante vários anos prestei atenção nas informações desses fatos mais grosseiros e de alta imoralidade. Queria perceber alguma coisa no que diz respeito ao senso religioso de tais protagonistas do mal. Cheguei à conclusão de que entre eles não existia ninguém que fosse participante de missa, ou mais ainda, fosse alguém de reconhecer seus pecados na Confissão, e que recebesse a Eucaristia. Antes de serem marginais da convivência social, já eram marginais da fé. Com o perdão da expressão.

Mas a minha admiração não parou aí. Observei na vida dentro da sociedade, uma abundância de personagens de mau caráter. E não só do sexo masculino, como é evidente, mas com uma grande preponderância varonil.

Aqui se observam campanhas vergonhosas de mentiras contra o bom nome das pessoas; lá se vê um inteligente que compra adoidado e não paga os seus débitos, (mas circula de Corolla); acolá se constata uma pessoa, vestida com os requintes da moda, mas com uma vida sexual promíscua e infiel.

O povo os mima com a alcunha de “safados”, “sem-vergonhas”, “canalhas”, “velhacos” e outros nomes com os quais a língua portuguesa é muito pródiga.

Cheguei a estas conclusões: podem até ser pessoas que guardaram a fé. Mas não participam da vida comunitária, nem muito menos tem paciência para suportar uma missa. Aí se verifica uma lógica interna irrefreável. Só quem procura levar a vida de um justo, ouve com prazer a lei do Senhor, e a medita dia e noite.

O salmista arrisca uma explicação: “Os pecadores não ficarão de pé na reunião dos justos” (Sl 1, 5). Todos nós poderemos alcançar a santidade de vida, se adequarmos nossa vida à de Jesus, “o santo e justo” (At 3, 14).

Eis o grande ideal para santos e pecadores.


sábado, 28 de agosto de 2010

A história do burro

Um dia, o burro de um camponês caiu num poçoo e embora não tivesse se ferido não conseguia sair por conta própria. Depois de muito pensar, o camponês tomou uma decisão terrível: concluiu que já que o burro estava muito velho e que o poço estava mesmo seco, precisaria ser tapado de alguma forma. Então chamou seus vizinhos para ajudá-lo a enterrar vivo o burro. Cada um deles pegou uma pá e começaram a jogar terra dentro do poço. O burro não tardou a se dar conta do que estavam fazendo com ele e ficou desesperado. Porém, para surpresa de todos, o burro aquietou-se depois de umas tantas pás de terra que levou.

O camponês olhou para o fundo do poço e se surpreendeu. A cada pá de terra que caía sobre suas costas o burro se sacudia e dava um passo sobre esta mesma terra que caía. Assim, em pouco tempo, o burro conseguiu chegar na boca do poço, passar por cima da borda e sair dali trotando. A vida vai te jogar muita terra nas costas, principalmente, se você já estiver dentro de um poço. Cada um de nossos problemas é um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos mais profundos buracos se não nos dermos por vencidos. Use a terra que te jogam para seguir adiante!
 
Recorda-te de cinco regras para ser feliz:
1. Liberte o seu coração do ódio;
2. Liberte a sua mente das preocupações;
3. Simplifique a sua vida;
4. Dê mais e espere menos;
5. Ame mais e... aceite a terra que lhe jogam. Ela pode ser a solução, não o problema.
 
(autor desconhecido)
 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A voz dos profetas: rezando com dois grandes profetas brasileiros (Dom Helder e Dom Luciano)


Por: Júlio Caldeira, imc (fotos: Innocent Bakwangama, imc)

Por iniciativa do CAAFA (Centro Acadêmico Ana Flora Anderson) da EDT (Escola Dominicana de Teologia), neste dia 27 de agosto, no auditório da faculdade de teologia, tivemos a alegria de recordar, numa celebração marcante, os ensinamentos trazidos pela experiência concreta de duas pessoas que fizeram a diferença, pela riqueza de qualidades, capacidades, talentos a partir de vidas marcadas pela simplicidade e serviço. Ambos faleceram no dia 27 de agosto, não por coincidência, mas por obra e desígnio de Deus, que chama os santos (e profetas) a estarem contigo.

Dom Hélder Pessoa Câmara (1909-1999), nascido em Fortaleza, esteve presente em vários momentos religiosos, sociais e políticos da história do Brasil, destacando-se na fundação da CNBB, participação no Concílio Vaticano II, “opção pelos pobres” e da vida pastoral que não se restringiu ao Rio de Janeiro e Olinda, onde foi bispo. Foi chamado de “comunista” e de demagogo durante a ditadura militar. Mas, como diz a profecia, “se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão” (Lc 19,40): mesmo tendo sido proibido de se manifestar publicamente, seu clamor se espalhou pelo mundo e sua voz denunciou a prática de abusos e torturas, bem como a necessidade de se amar o próximo, o “meu irmão”. Desta maneira, era chamado por todos de “dom”, e não tanto pelo seu nome, Hélder. Realmente, isto expressa a dádiva, este dom de amor, que ele foi e continua sendo na vida de todos nós.

Dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006), nascido no Rio de Janeiro, em família nobre (era filho do Conde Cândido Mendes de Almeida), ficou marcado em nossas mentes, porque “em nome de Jesus, passou fazendo o bem” (título de um livro dedicado a ele). Segundo J.Comblim, “dom Luciano viveu ma vida de amor. Amou muito e também foi muito amado. Poucos talvez tenham sido tão amados por tantas pessoas de tantos grupos diferentes. Era tão humano que não se podia não amá-lo”. Sobre ele tivemos a alegria de contar com o testemunho ocular do profº Fernando Altemeyer, que nos recordou de fatos marcantes de encontros com Dom Luciano, tais como o do dia “em que segurou o seu báculo” (onde depois Dom Luciano disse da alegria de partilhar a alegria), da “reunião pastoral às 1h30 da madrugada (e que acabou sendo uma lição ao separar a briga de dois “irmãos bêbados”, sendo que Dom Luciano cedeu a própria cama para um deles dormir), entre tantas outras experiências de Deus a partir deste homem santo que mostrou com a sua vida que, realmente, “Deus é bom”. Por fim, foi lida a mensagem especial enviada pelo srº Cândido Mendes de Almeida, irmão de Dom Luciano e reitor da Universidade Cândido Mendes (RJ), que segue transcrita abaixo.

Que o exemplo destes dois “homens de Deus”, seja recordado não com saudosismo, mas trazendo para nossas vidas, com seus ensinamentos, “mil razões para viver”.



A DOCE CERTEZA DA ETERNIDADE – D. LUCIANO

Em que posso ajudar? Quem não tem o seu retrato, e na tessitura da alma, o recado de D. Luciano? E é só, e cada vez mais, a sua lembrança que está aí, no Belenzinho como em Mariana, na CNBB ou no episcopado latino-americano?

Junto a quem não esteve? A quem fechou a porta? A quem negou a própria cama? Quem saiu da sua casa sem a fome saciada ou, sobretudo, sem a paz na alma, de vez, e sem trégua?

Quem não o teve como seu irmão? O outro, logo, do amor para além da caridade, ou do encontro para além da prédica.

Devemos a D. Luciano essa descoberta da oração, o tom e no toque de cada conta do rosário, da entoação do seu Padre Nosso, do dizer a missa, como o enlace da sua entrega.

No D. Luciano de cada um de nós o que mais perdura? Os olhos, a voz, o sorriso? As flores a cada dia se renovam no túmulo da cripta da Sé de Mariana. Frescas, coladas nos mármores, no pedido e na prece, no que só, e sempre, nos antecipa a doce certeza da eternidade.

Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2010

Candido Mendes de Almeida

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 14,1.7-14 - 22º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: “Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor! ’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. E disse também a quem o tinha convidado: “Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos!Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. (Lucas 14,1.7-14)

1. LECTIO – Leitura
Na caminhada rumo a Jerusalém temos uma parada na cada de um dos chefes dos fariseus para uma refeição num dia de sábado. Será nesse contexto que Jesus nos oferece mais uma das suas catequeses. Provavelmente trata-se da refeição festiva de sábado, realizada por volta do meio-dia, ao regressar da sinagoga. Era habitual convidar hóspedes; enquanto comiam, partilhavam sobre as leituras escutadas na sinagoga. Apesar de muitas vezes encontrarmos Jesus em disputa com as autoridades religiosas do seu tempo, Lucas mostra os fariseus próximos de Jesus que até o convidam para casa e se sentam à mesa com Ele (veja Lc 7,36; 11,37). Os fariseus formavam um dos principais grupos religiosos da sociedade palestina desta época. A sua preocupação fundamental era transmitir a todos o amor pela Torah (lei), quer escrita, quer oral. Conscientes das suas capacidades, da sua integridade, da sua superioridade, não eram propriamente modelos de humildade. Isso talvez explique o ambiente de luta pelos lugares de honra que o Evangelho refere. Convém, também, ter em conta que estamos no contexto de um “banquete”. O “banquete” é, no mundo semita, o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo alimento e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade. Jesus aparece, muitas vezes, envolvido em banquetes, porque, o banquete era sinal de comunhão, de encontro, de familiaridade, o banquete anuncia a realidade do “reino”.

O texto apresenta duas partes. A primeira (v. 7-11) onde a questão da humildade é apresentada e a segunda (v. 12-14) onde encontramos o tema da gratuidade e do amor desinteressado. Ambas estão unidas pelo tema do “Reino”: são atitudes fundamentais para quem desejar participar no banquete do “Reino”. As palavras que Jesus dirigiu aos convidados que disputavam os lugares de honra não são novidade, pois já o Antigo Testamento aconselhava a não ocupar os primeiros lugares (veja Prov 25,6-7); mas o que aí era uma exortação moral, nas palavras de Jesus converte-se numa apresentação da lógica do “Reino”: o “Reino” é um espaço de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço, que exclui qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, de domínio sobre os outros; quem quiser entrar nele, tem de fazer-se pequeno, simples, humilde e não ter pretensões de ser melhor, mais justo, ou mais importante que os outros. Esta é, aliás, a lógica que Jesus sempre propôs aos seus discípulos: Ele próprio, na “última ceia”, lavou os pés aos discípulos e constituiu-os em comunidade de amor e de serviço – avisando que, na comunidade do “Reino”, os primeiros serão os servos de todos (veja Jo 13,1-17). Na segunda parte, Jesus põe em causa a prática de convidar para o banquete apenas os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos. Os fariseus escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Nas suas refeições, não convinha haver alguém de nível menos elevado, pois a “comunidade de mesa” vinculava os convivas e não convinha estabelecer obrigatoriamente laços com gente desclassificada e pecadora. Por outro lado, também os fariseus tinham a tendência – própria de todas as pessoas, de todas as épocas e culturas – de convidar aqueles que podiam retribuir da mesma forma… A questão é que, dessa forma, tudo se tornava um intercâmbio de favores e não gratuidade e amor desinteressado. Jesus denuncia esta atitude, mas vai mais além e apresenta uma proposta verdadeiramente subversiva… Segundo Ele, é preciso convidar “os pobres, os coxos e os cegos”. Os cegos, coxos eram considerados pecadores notórios, amaldiçoados por Deus, e por isso estavam proibidos de entrar no Templo (veja 2 Sm 5,8) para não profanar esse lugar sagrado (veja Lv 21,18-23). No entanto, são esses que devem ser os convidados para o “banquete”. Fica fácil entender que Jesus já não está simplesmente a falar dessa refeição comida em casa de um fariseu, na companhia de gente distinta; mas está já a falar daquilo que esse “banquete” anuncia e prefigura: o banquete do “Reino”. Jesus traça aqui os contornos do “Reino”. Ele é apresentado como um “banquete”, onde os convidados estão unidos por laços de familiaridade, de comunhão. Para esse “banquete”, todos – sem exceção – são convidados (inclusive aqueles que a cultura social e religiosa tantas vezes exclui e marginaliza). As relações entre os que aderem ao banquete do “Reino” não serão marcadas pelos jogos de interesses, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado; e os participantes do “banquete” devem despir-se de qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, para se colocarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço.

2. MEDITATIO – meditação
A Igreja, fruto do “Reino”, deve ser essa comunidade onde se torna realidade a lógica do “Reino” e onde se cultivam a humildade, a simplicidade, o amor gratuito e desinteressado. É isso que acontece de verdade?

Nas comunidades cristãs, por vezes, se assiste à procura dos primeiros lugares, dos serviços que se destacam. No entanto, para Jesus, as coisas são bastante claras: esta lógica não tem nada a ver com a lógica do “Reino”; quem prefere esquemas de superioridade, de prepotência, de humilhação dos outros, de ambição, de orgulho, está a impedir a chegada do “Reino”.

Também há, na comunidade cristã, pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir… Aquilo que os motiva e estimula são os títulos, as honras, as homenagens, os lugares privilegiados, e não o serviço humilde e o amor desinteressado. Essas atitudes precisam ser mudadas!

Para Lucas, as comunidades cristãs não podem estar unidas por laços de interesses, mas ao contrário, pela lógica da fraternidade e da doação desinteressada, só assim, se cresce na vida comunitária.

Os cegos e coxos representam, no Evangelho proposto, todos aqueles que a religião oficial excluía da comunidade da salvação; apesar disso, Jesus diz que esses devem ser os primeiros convidados do “banquete do Reino”. Como é que os pecadores notórios, os marginais, os divorciados, os homossexuais, as prostitutas são acolhidos na Igreja de Jesus?

3. ORATIO – oração
Peça a Deus para falar-lhe sobre a humildade e hospitalidade. Leia o Salmo 68,1-10. Observe o contraste entre a majestade de Deus e sua preocupação com os pobres, os solitários, para as viúvas, os órfãos e prisioneiros. Ore pelas pessoas que vivem nessas situações.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Leia o hino presente em Filipenses 2,3-11, em palavras extraordinárias o autor dessa carta coloca a atitude de Jesus que de divino aceita se tornar um de nós para melhor nos apresentar a proposta de Jesus.

5. MISSIO – missão
“Há pessoas que só procuram as coisas grandes, extraordinárias. Ora isso não é procurar a Deus. Deus tanto se encontra nas coisas grandes como nas pequenas.” José Allamano

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Artimanhas de classe": Obstáculos à vivência do voto de pobreza (parte 2)*


No final deste texto, o autor enumera possíveis “artimanhas de classe” que provocam faltas, mais ou menos graves à vivência da pobreza na vida consagrada em geral (neste ponto iremos descrever literalmente o que o autor cita):


1. De pessoas que vem da classe média alta:

1.1. A pessoa está tão apegada ao que tem que encontra dificuldades em compartilhá-lo com os outros, gerando seu ‘pecúlio’ (mesada ou, modernamente, talão de cheques ou cartão de crédito particulares) e seu ‘mundinho’ de amizades exclusivas.

1.2. A pessoa que renunciou às suas coisas pode, assim, ser muito sensível diante das faltas dos companheiros em matéria de pobreza. Ela se sente enganada quando algum companheiro de extração social inferior à sua tem coisas ou usa recursos de que ela se desprendeu.

1.3. Fervores indiscretos: pode ocorrer que, por ter escrúpulos com relação ao seu estilo de vida passado, a pessoa se exceda em termos de pobreza e chegue a ponto de descuidar-se de si, ou então venha a ser, como se disse em b, juiz dos outros.

1.4. Complexos de inferioridade: a pessoa se sente estigmatizada por vir de uma classe social que se identifica com os opressores do povo.

1.5. A pessoa acredita que sua extração o torna, desde o começo, pior que os outros.

1.6. Compensações: busca de pequenas compensações, que justifica por ter-se desprendido de muitas de suas posses anteriores.

1.7. Acomodação: tentativa de manter o máximo possível seu antigo estilo de vida. A pessoa busca sempre o melhor para si: alimentos, entretenimentos, amizades. Não mostra ter rompido com seu passado.

1.8. Conformismo: como baixou de nível econômico, a pessoa pensa já ser pobre e não procura radicalizar mais sua pobreza.

1.9. Atitudes de ‘menino rico’: muito preocupado com o que come, onde dorme etc. Trata em algumas ocasiões os empregados como criados e é de modo geral muito ‘condescendente’ e paternalista com os pobres.


2. De pessoas que vem da classe média:

2.1. Tendência a aburguesar-se, busca sistemática de ter ou usar tudo aquilo que não possuía antes ou a que não tinha acesso. Sua atitude é de ‘subir de status’.

2.2. Indiferença diante dos pobres: reprodução, em sua vida pessoal e em seu trabalho apostólico, das atitudes próprias de sua classe, sobretudo de indiferença diante do sofrimento dos pobres. Embora haja uso da retórica do ‘compromisso com os pobres’, os sentimentos não estão com eles.

2.3. Usar o prestígio da Companhia [congregação] ou o compromisso com os pobres para se sobressair diante dos outros ou para obter engrandecimento social e prestígio. Uso da plataforma da Companhia [congregação] não para servir, mas para alcançar maior status social.


3. De pessoas que vem da classe pobre:

3.1. Saída da classe social: assunção de formas de vida e de ideologias que não são as de sua classe. Esquecimento das próprias raízes.

3.2. Acumulação: diante da incerteza, da ansiedade e da angústia em que viveu sua cotidianidade, a pessoa aproveita todas as oportunidades de acumulação que se apresentarem.

3.3. Aproveitamento dos recursos: uso de recursos para ter tudo o que não pôde ter antes ou para experimentar aquilo a que antes não tinha acesso. O uso excessivo de carros, telefones etc. é típico. Mais típico, e sobretudo mais perigoso, é contudo o uso em benefício próprio do prestígio e do poder da congregação.

3.4. Comparação com os outros: compara-se com os outros a fim de justificar o monopólio e o uso excessivo dos recursos. Pode haver complexos de inferioridade ou recusa visceral de companheiros de extração social mais elevada.

3.5. Auto-estima viciada: acreditar que, por vir de família pobre, é melhor que os outros. Crê que a pobreza anterior à vida consagrada dá direito a se tornar juiz dos outros e a ter sempre razão.


O autor recorda que, para superá-las, é primordial apegar-se ao triângulo fundamental: amadurecimento pessoal, experiência do Deus da justiça e da ternura, e o vínculo direto com os pobres e suas lutas, conforme o esquema a seguir:

* Resenha feita por Júlio Caldeira a partir de: CABARRÚS, Carlos R. Seduzidos pelo Deus dos pobres: os votos religiosos a partir da justiça que brota da fé. São Paulo: Ed. Loyola, 1999. p. 60-66.



sábado, 21 de agosto de 2010

Não deixe o amor afundar...

Era uma vez uma Ilha onde moravam todos os sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria o Amor e outros...Um dia avisaram aos moradores da Ilha que ela seria inundada! Apavorado, o Amor cuidou para que todos os sentimentos se salvassem. Ele disse: fujam!!! A Ilha vai se inundada! Todos correram e pegaram os barquinhos para irem até um morro bem alto. Só o amor não se apressou...amava a Ilha e queria ficar um pouco mais...


Quando já estava se afogando, correu pra pedir ajuda...Vinha vindo a riqueza e ele disse: Riqueza me leva com você? – Não posso, meu barco está cheio de prata e ouro...você não cabe aqui...Passou a Vaidade e o Amor pediu: Vaidade, me leva com você? – Não posso, você vai sujar meu barco novo...Daí, passou a Tristeza e mais uma vez o Amor pediu: Me leva com você? – Ah! Amor! Eu estou tão triste que prefiro ir sozinha...Passou a Alegria, mas ela estava tão alegre que nem viu o Amor...! Já desesperado e achando que iria ficar só, o amor começou a chorar...

Daí, passou um velhinho e, olhando, falou: Sobe Amor...eu te levo! O Amor ficou tão feliz que esqueceu de perguntar o nome do velhinho!!!Por fim, chegando no morro alto, o amor encontrou a Sabedoria e perguntou-lhe: Quem era aquele velhinho que me trouxe até aqui? – O Tempo! Respondeu a Sabedoria.-O Tempo? Mas por que só o tempo me trouxe até aqui? A Sabedoria respondeu: Só o Tempo é capaz de reconhecer um grande Amor...!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Site da JMJ 2011 está disponível, no Facebook, em 18 idiomas

O site da Jornada Mundial da Juventude - Madri 2011 (JMJ), presente na rede social Facebook, está disponível agora em 18 idiomas, graças à colaboração de jovens dispostos a fornecer informações sobre o evento em várias línguas, incluindo o português.

Os últimos idiomas acrescentados foram o vietnamita, croata, maltês e japonês; disponíveis agora junto ao inglês, espanhol, chinês, francês, entre outros.

A responsável pela "community manager" da JMJ, Cristina del Campo, explicou que o objetivo "é chegar a todos os jovens do mundo, não só aos que falam e entendem os idiomas mais conhecidos".

Ela indicou que a ampliação da página da JMJ se deve ao interesse dos jovens de línguas minoritárias de informar aos seus coetâneos em seus próprios idiomas. O site em português pode ser visto no endereço: http://www.facebook.com/jornadamundialdajuventude


Fonte: CN/Rádio Vaticano e Revista Missões

Lectio Divina do texto de Lucas 13,22-30 - 21º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ele respondeu: ”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças!’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniqüidade!’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”. (Lucas 13, 22-30)

1. LECTIO – Leitura

O evangelho proposta para nossa reflexão recorda-nos o rumo de Jesus, ele vai em direção a Jerusalém. Este pequeno detalhe é importante para entender o quadro onde se insere este “pedaço” do evangelho. O interesse central desta “viagem” é apresentar os traços do autêntico discípulo e apontar o caminho do “Reino” à comunidade cristã. O texto em consideração é constituído por materiais que chegaram ao autor do evangelho de várias procedências. O autor os junto neste contexto por razões de interesse temático. Inicialmente, eram “ditos” de Jesus (pronunciados em contextos distintos) sobre a entrada no “Reino”. Lucas aproveita-os para mostrar as diferenças entre a teologia dos judeus e a de Jesus, a propósito da salvação. Assim fica fácil entender que o tema do evangelho seja a salvação. Tudo começa com uma pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” A questão da salvação era uma questão muito debatida entre os estudiosos judeus. Para os fariseus da época de Jesus, a “salvação” era uma realidade reservada ao Povo eleito e só a este; mas, nos círculos apocalípticos, dominava uma visão mais pessimista, que sustentava que muito poucos estavam destinados à felicidade eterna. Em sua pregação, Jesus falava de Deus como um Pai cheio de misericórdia, cuja bondade acolhia a todos, especialmente os pobres e os débeis. Fazia, portanto, sentido saber o que pensava Jesus acerca da questão… Como habitualmente Jesus não responde diretamente à pergunta. Para Jesus, mais do que falar em números concretos a propósito da “salvação”, é importante definir as condições para pertencer ao “Reino” e estimular os discípulos à decisão pelo “Reino”. Assim, na perspectiva de Jesus, entrar no “Reino” é, em primeiro lugar, esforçar-se por “entrar pela porta estreita” (v. 24). A imagem da “porta estreita” é sugestiva para significar a renúncia a uma série de fardos que “engordam” a pessoa e que o impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são esses? A título de exemplo, poderíamos citar o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo de poder e de domínio… Tudo aquilo que impede a pessoa de embarcar numa lógica de serviço, de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida, impede a adesão ao “Reino”. Afim de explicitar melhor o ensinamento acerca da entrada do “Reino”, Lucas põe na boca de Jesus uma parábola. Nela, o “Reino” é descrito na linha da tradição judaica, como um banquete em que os eleitos estarão lado a lado com os patriarcas e os profetas (vs. 25-29). Quem se sentará à mesa do “Reino”? Todos aqueles que acolheram o convite de Jesus à salvação, aderiram ao seu projeto e aceitaram viver, no seguimento de Jesus, uma vida de doação, de amor e de serviço… Não haverá qualquer critério baseado na raça, na geografia, nos laços étnicos, que barre a alguém a entrada no banquete do “Reino”: a única coisa verdadeiramente decisiva é a adesão a Jesus. Quanto àqueles que não acolheram a proposta de Jesus: esses ficarão, logicamente, fora do banquete do “Reino”, ainda que se considerem muito santos e tenham pertencido, institucionalmente, ao Povo eleito. É evidente que Jesus está a falar para os judeus e a sugerir que não é pelo fato de pertencerem a Israel que têm assegurada a entrada no “Reino”; mas a parábola aplica-se igualmente aos “discípulos” que, na vida real, não quiserem despir-se do orgulho, do egoísmo, da ambição, para percorrer, com Jesus, o caminho do amor e do dom da vida.

2. MEDITATIO – meditação
É importante ter a consciência de que o acesso ao “Reino” não está condicionado a qualquer lógica de sangue, de etnia, de classe, de ideologia política, de estatuto econômico: é uma realidade que Deus oferece gratuitamente a todos; basta que se acolha essa oferta de salvação, se adira a Jesus e se aceite entrar pela “porta estreita”. Será que tenho consciência de que a comunidade de Jesus é a comunidade de todos e onde ninguém é excluído e marginalizado?

“Entrar pela porta estreita” significa, na lógica de Jesus, fazer-se pequeno, simples, humilde, servidor, capaz de amar os outros até ao extremo e de fazer da vida um dom. Por outras palavras: significa seguir Jesus no seu exemplo de amor e de entrega. É essa a lógica que procuro seguir na minha vida de cada dia?

A “porta estreita” não é, hoje, muito popular. Hoje o mundo pensa que a felicidade se encontra por “portas largas”. Como nos situamos face a isto? As nossas opções vão mais vezes na linha da “porta larga” do mundo, ou da “porta estreita” de Jesus?

O acesso ao “Reino” não é, nunca, uma conquista definitiva, mas algo que Deus nos oferece cada dia e que, cada dia, nós aceitamos ou rejeitamos. Ninguém tem automaticamente garantido, por decreto, o acesso ao “Reino”. Será que procuro o acesso ao “Reino” em cada dia que Deus me oferece?

Para mim onde está a salvação? Jesus dizia que, no banquete do “Reino”, muitos apareceriam a dizer: “comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças”; mas receberiam como resposta: “não sei de onde sois; afastai-vos de mim…” Este aviso toca de forma especial aqueles que conheceram bem Jesus, que se sentaram com Ele à mesa, que escutaram as suas palavras, mas que nunca se preocuparam em entrar pela “porta estreita” do serviço, da simplicidade, do amor, do dom da vida. Esses – Jesus é perfeitamente claro e objetivo – não terão lugar no “Reino”.

3. ORATIO – oração
“Portanto, meus queridos, como sempre fostes obedientes, não só em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência, realizai a vossa salvação, com temor e tremor. Na verdade, é Deus que produz em vós tanto o querer como o fazer, conforme o seu agrado” (Fil 2,12-13). Paulo exorta a comunidade a realizar a salvação. Na sua oração peça perdão pelas vezes em que preferiu a porta larga da vida fácil e esqueceu a “porta estreita”. Agradeça a Deus por não fazer qualquer tipo de distinção no acesso ao “Reino”, onde todos serão iguais. Reze para que a sua vida seja sempre um esforço para entrar pela “porta estreita”

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Na carta aos Filipenses Paulo recorda que Deus continua agindo em nós. Contemple este Deus que deseja habitar no seu coração para lhe indicar o caminho que leva ao “Reino”.

5. MISSIO – missão
“O espírito de sacrifício constitui a essência da vida missionária. Quem diz missionário diz pessoa de sacrifício.” José Allamano

disponível semanalmente em: http://www.consolata.org.br/
 

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Obstáculos à vivência do voto de pobreza (parte 1)*


Este texto é uma parte do livro “Seduzidos pelo Deus dos pobres”, de Carlos R. Cabarrús, antropólogo jesuíta da Guatemala. Neste opúsculo, faz uma análise de fatores que são obstáculos à vivência do voto de pobreza, causados, entre outros, pela relativização da pobreza de Jesus, pelo relaxamento, pelas comodidades institucionais etc. Dentro deste quadro, propõe que vejamos dois caminhos a seguir na construção de soluções para esta aporia (uma institucional e outra pessoal):

(1º) Dar a devida ênfase à pobreza característica de Jesus (institucional)

Neste ponto, ressalta que a Igreja tentou reproduzir a pobreza encarnada e modelar, mas deu menos importância à pobreza profética e transformadora, que desencadearam em paradoxos, como o invocar a Deus enquanto falta solidariedade e irmandade com os empobrecidos de fato, bem como a falta de força capaz de ser semente de mudanças sociais profundas. Evidencia que “a pobreza encarnada, e mesmo a modelar, se não for perpassada pela influência da profética e da transformadora, degenera e perde a força. Qualquer pobreza, se não situada no contexto do Reinado de Deus, perde também seu horizonte adequado e se dispersa”.

(2º) Estar atentos para os empecilhos subjetivos à vivência dos votos (pessoal):

O autor evidencia sete elementos que devem ser analisados para se chegar aos obstáculos à vivência do voto de pobreza:

1. Quanto à classe social: se a pessoa viveu uma vida de folga e caprichos, isso pode gerar, na vida consagrada, inércia com relação à vida interior (talvez a pessoa não queira renunciar a tanta comodidade); se a pessoa vem de um ambiente de pobreza ou miséria, isto pode gerar instabilidade, ansiedade e angústia, poderá haver a tentação de reivindicar o que nunca teve; por fim, se a pessoa vem de um ambiente austero, poderia ser a melhor forma de viver de modo discreto, mas pode levá-lo a ser um fervoroso juiz dos ‘caprichosos’ e dos ‘ansiosos’ em matéria de pobreza.

2. Amadurecimento pessoal: é importante a pessoa se conhecer bem, inclusive o seu mundo vulnerado e as falsas saídas ou compensações com as quais tenta viver, para solucionar seu mundo psicológico.

3. Ideologia: é preciso discernir os ideais que o move de verdade, tentando superar atitudes, tais como “o falar da boca para fora” de um mundo idealizado, mas agir e deixar-se guiar para manter o status quo e pela comodidade pessoal.

4. Aspirações pessoais: é importante ter aspirações e ideais concretos na visualização; por exemplo: como me vejo trabalhando, onde, com quem...

5. Experiência de Deus: é da cultura que se recebe os elementos fundamentais que levam a assumirmos hábitos (como o ter fé ou ser descrente, por exemplo), que nos levam a arriscar boa parte de nossa vida. Também há a possibilidade de um encontro gratuito, inesperado e desafiador, com Deus, que me dá o referencial para viver a pobreza, sempre tendo o Reino no centro.

6. O contato direto com os pobres e sua luta: é um elemento fundamental e determinante para a correta compreensão da pobreza e no proceder quanto a ela, para não se cair em paternalismos ou ideologizações.

7. Vigor no viver a vida comunitária: no corpo “social” é que está a correta compreensão e práxis do voto de pobreza. “Ser capaz de entregar tudo e de entregar-se e esperar tudo dos companheiros numa congregação é um exercício de pobreza equivalente à dos discípulos de Jesus”.

Destes sete aspectos, devemos destacar a importância de um triângulo fundamental para superar as artimanhas e vivermos, autenticamente, o voto de castidade:

- maturidade pessoal: onde a pessoa não se deixa levar por mecanismos de compensação, de defesa e/ou de falsas saídas;

- experiência pessoal com o Deus de Jesus Cristo, que é justo e solidário;

- ligação com os empobrecidos e sua luta: pela justiça de Deus somos convidados (convocados) a sermos solidários com os pobres concretos e a arriscar-nos por eles e, neles, com Jesus.

 
Confira a continuação: “artimanhas de classe”
 
 
* Resenha feita por Júlio Caldeira a partir de: CABARRÚS, Carlos R. Seduzidos pelo Deus dos pobres: os votos religiosos a partir da justiça que brota da fé. São Paulo: Ed. Loyola, 1999. p. 60-66.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O grande mestre Samurai


Conta-se que perto de Tóquio vivia um grande mestre Samurai. Já com uma certa idade, ele dedicava-se então a ensinar o Zen aos jovens. Apesar da sua idade, corria a história de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde apareceu por ali um jovem guerreiro conhecido pela sua total falta de escrúpulos. Era famoso por usar a técnica da provocação e da humilhação.

Utilizando as suas habilidades para provocar, esperava que o seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de inteligência e agilidade, contra-atacava com velocidade fulminante.

Este jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta.

Assim que soube da reputação do velho Samurai, propôs-se a não sair dali sem antes derrotá-lo e aumentar sua fama.

Todos os discípulos do Samurai se manifestaram contra a ideia, mas o velho mestre aceitou o desafio.

Foram todos para a praça da pequena cidade e diante dos olhares espantados, o jovem guerreiro começou a insultar e a provocar o velho mestre.

Chutou algumas pedras na sua direcção, cuspiu no seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo os seus ancestrais.

Durante horas fez tudo para provocá-lo mas o velho mestre permaneceu sereno e impassível.

No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

Desapontados pelo facto de o mestre ter aceitado calado tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram:

- Como é que senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, em vez de mostrar-se cobarde diante de todos nós?

O sábio ancião olhou calmamente para os alunos e, fixando o olhar num deles perguntou-lhe:

- Se alguém chega até si com um presente que lhe oferece mas você não o aceita, com quem fica o presente?

- Com quem tentou entregá-lo, respondeu o discípulo.

- Pois bem, o mesmo vale para qualquer outro tipo de provocação e também para a inveja, a raiva, e os insultos, disse o mestre. Quando não são aceites, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.

(autor desconhecido)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 12, 49-53 - Festa da Assunção de Maria

Por Patrick Silva

Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”. Maria então disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz, porque o Poderoso fez para mim coisas grandiosas. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os que tem planos orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos, e mandou embora os ricos de mãos vazias. Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Maria ficou três meses com Isabel. Depois, voltou para sua casa. (Lucas 12, 49-53)

1. LECTIO – Leitura
A nossa liturgia nos convida a celebrar neste domingo a Festa da Assunção de Maria e para tal nos oferece o texto de Lucas para nossa reflexão. O texto proposto faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. Trata-se de um gênero literário especial, que não pretende ser um relato fotográfico sobre acontecimentos, mas antes uma catequese destinada a proclamar as realidades salvíficas que a fé prega sobre Jesus. Como gênero literário apresenta algumas características próprias que se comparam ao midrash haggádico (técnica de leitura e de interpretação do Antigo Testamento usada pelos rabinos judeus na época em que foi escrito o Novo Testamento). Assim poderíamos considerar que o texto traz para nós não uma informação “jornalística” sobre os fatos concretos, mas uma catequese sobre Jesus, feita a partir de um conjunto de referências tiradas da mensagem e das promessas do Antigo Testamento.

A primeira referência vai para a indicação de que, à saudação de Maria, o menino (João Baptista) saltou de alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica: para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro da humanidade, e que tem uma mensagem de salvação que concretiza as promessas feitas por Deus aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso provoca uma enorme alegria, por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.

Segue-se a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora” (veja Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade, foi o instrumento de Deus para libertar o Povo das mãos de Sísera, o opressor. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o instrumento de Deus para concretizar a salvação da humanidade.

Novamente se segue uma resposta, agora a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”, a qual retoma um salmo de ação de graças (veja Sl 34,4), destinado a dar graças a Deus porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da prepotência e da injustiça. Com Jesus, chegou esse tempo novo de libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas. Maria dirige o seu louvor para Deus, que realizou todas as maravilhas, ao passou que ela deixou fazer. Na passagem prodigiosa da virgindade à maternidade ela descobre o estilo e o esquema da ação renovadora de Deus.

2. MEDITATIO – meditação
A vinda de Jesus entre nós é a concretização das promessas de salvação e de libertação feitas por Deus ao seu Povo. Nós, que somos no mundo o rosto vivo de Jesus, propomos esta boa notícia? Os pobres, os que sofrem, todos os que são vítimas de opressão e suspiram ansiosamente por um mundo novo encontram no nosso anúncio esta proposta?

O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?

A proposta libertadora de Deus para a humanidade alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher que aceita dizer “sim” a Deus. Deus se serve de cada um de nós, apesar dos nossos limites e da nossa fragilidade, porém precisa que estejamos disponíveis. Será que estamos disponíveis para Deus?

Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos outros, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?

3. ORATIO – oração
O evangelho coloca na boca de Maria uma oração extraordinária, faça suas essas palavras. Ao longo desta semana reze com essas palavras. Disponibilize-se para Deus poder realizar o seu projeto de salvação.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple no silêncio o encontro destas duas mulheres. Contemple a alegria deste encontro. Recorde momentos em que sentiu uma alegria enorme em encontrar alguém.

5. MISSIO – missão
“O desejo mais ardente de Nossa Senhor é que todas as pessoas se salvem. Foi para isso que Jesus veio ao mundo. E ela, que esteve sempre unida a Jesus, não pode desejar outra coisa.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/
 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Alegres na esperança" - testemunho sobre o Pe. Franco Piccoli

Por: Pe. Urio Girardi- IMC

"Ci vedremmo in paradiso" (encontrar-nos-emós no céu), foram as últimas palavras que o Pe. Franco me disse, ao despedir-se, no hospital Cotolengo, em Turim- Itália, onde fui visitá-lo, no dia 09 de julho passado. Expressão que revela não só a consciência da gravidade da doença, mas principalmente a grande fé na esperança do encontro definitivo com Deus.

Pe. Franco Piccoli pode ser definido como homem de fé e esperança, missionário zeloso e incansável, um verdadeiro filho da Consolata e Allamano, plenamente identificado com sua família missionária.

Conheci Pe. Franco nos anos 70, em Manaus, na Paróquia Santa• Luzia: jovem entusiasta, amante do povo simples e sofredor, zeloso, sempre preocupado em animar ou socorrer alguém, com preferência os mais necessitados. Como bom pastor,recém chegado da Europa, tentava conhecer seu "rebanho". Gostava de caminhar por aquelas ruas, melhor, becos poeirentos, sujos e quentes, contatando centenas de crianças, visitando famílias, consolando doentes e idosos.

Depois de trabalhar em Roraima, como Pároco da Catedral de Boa Vista e, na Itália, como animador vocacional, onde deixou um testemunho de dedicação, entusiasmo e competência, encontrei-o no Rio de Janeiro, na Paróquia Nossa Senhora Consolata, mais idoso, mas sempre zeloso,entusiasta, incansável, subindo e descendo morros das favelas. Sua paixão era a missão: doar-se gratuitamente. Organizar e acompanhar conselhos comunitários, pastorais e movimentos. Um cuidado especial reservava à catequese e ao dízimo, como caminho da maturidade da Comunidade. Programar e realizar cursos de formação de Iíderes.A preparação e celebração dos sacramentos era feita com extrema dedicação, priorizando a iniciação cristã. Tudo com ótica missionária. "Vocacionalizar" todas as pastorais e movimentos, era seu lema. A infância missionária, o grupo vocacional, os leigos missionários são expressão desta preocupação. O atendimento diário no seu "sagrado" expediente, era o lugar e o instrumento adequado para semear luzes, orientações, consolações, coragem. Nas dificuldades, nas horas críticas, o desabafo: "ma santa polenta!!!" e logo emendava: "avanti, para frente, na alegria da esperança !"

A Paróquia de São Braz, em Salvador- BA, foi o derradeiro lugar de sua paixão missionária. O pouco tempo que ali trabalhou foi suficiente para ele aprender a amar aquele povo e para o povo aprender a amar o padre Franco. Quando estive com ele, há poucos dias, já gravemente doente, colocou em minhas mãos um envelope, dizendo: "entregue-o à Comunidade de Nossa Senhora do Mabaço. É o Corporal sobre o qual celebrei a Missa do Jubileu dos 50 anos do meu Sacerdócio." Esse é o coração deste heróico missionário da Consolata que, no caminho do calvário, ofereceu ao Senhor sua vida para as vocações missionárias. "Arrivederci in paradiso", padre Franco.


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O alpinista

Esta é a história de um alpinista que sempre buscava superar mais e mais desafios. Ele resolveu depois de muitos anos de preparação escalar o Aconcágua. Mas ele queria a glória somente para ele, e resolveu escalar sozinho sem nenhum companheiro, o que seria natural no caso de uma escalada dessa dificuldade. Começou a subir e foi ficando cada vez mais tarde, e por que não havia se preparado para acampar, resolveu seguir a escalada decidido a atingir o topo. Escureceu, e a noite caiu como um breu nas alturas da montanha, e não era possível mais enxergar uma palmo à frente do nariz, não se via absolutamente nada! Tudo era escuridão. Zero de visibilidade. Não havia Lua e as estrelas estavam coberta pelas nuvens. Subindo por uma "parede" a apenas 100 m. do topo ele escorregou e caiu ... Caia a uma velocidade vertiginosa. Somente conseguia ver as manchas que passavam cada vez mais rápidas na mesma escuridão, e sentia a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade. Ele continuava caindo ... e nesses angustiantes momentos passaram por sua mente todos os momentos felizes e tristes que já havia vivido em sua vida. De repente ele sentiu um puxão forte, que quase o partiu pela metade. Shack!...Como todo alpinista experimentado, havia cravado estacas de segurança com grampos a uma corda comprida que fixou em sua cintura. Nesses momentos de silêncio suspendido pelos ares na completa escuridão, não havia nada a fazer a não ser gritar:

- Ó meu Deus me ajude!

De repente uma voz grave e profunda vinda dos céus respondeu:

- O que você quer de mim meu filho?

- Me salve meu Deus por favor?

- Você realmente acredita que eu possa te salvar?

- Eu tenho certeza meu Deus!

- Então, corte a corda que te mantém pendurado ... Ouve um momento de silêncio e reflexão. O homem se agarrou mais ainda a corda e refletiu que se fizesse isso morreria...

Conta o pessoal de resgate que ao realizar as buscas encontrou um alpinista congelado, morto, agarrado com força com suas duas mãos a uma corda...a somente meio metro do chão ...

"Por vezes nos agarramos as nossas velhas cordas que nos mantém seguros, porém ter fé é arriscar-se a perder total controle sobre a própria vida confiando-a ao Pai. Que possamos todos entregar-nos e viver plenamente na confiança de que existe Aquele que está sempre ao nosso lado a nos suportar, mesmo que nossa corda arrebente".
 
autor desconhecido
 

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 12,31-48 - 19º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. “Ficai de prontidão, com o cinto amarrado e as lâmpadas acesas. Sede como pessoas que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os servos que o Senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade, vos digo: ele mesmo vai arregaçar sua veste, os fará sentar à mesa e passará para servi-los. E caso ele chegue pela meia-noite ou já perto da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar! “Ficai certos: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, não deixaria que fosse arrombada sua casa. Vós também ficai preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem”. Então Pedro disse: “Senhor, é para nós ou para todos que contas esta parábola?” O Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e atento, que o senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa? Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade, vos digo: ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. Ora, se um outro servo pensar: ‘Meu senhor está demorando’ e começar a bater nos criados e nas criadas, a comer, beber e embriagar-se, o senhor daquele servo chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o excluirá e lhe imporá a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. O servo, porém, que não conhecendo essa vontade fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. Portanto, todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; a quem muito foi confiado, dele será exigido muito mais! (Lucas 12, 32-48)

1. LECTIO – Leitura

O evangelho apresentado é a continuação daquele que meditamos na semana passado, onde foi estabelecida a ‘verdadeira riqueza’ e o convite a se precaver contra todo o tipo de cobiça, Jesus oferece mais alguns instruções aos que com ele continuam rumo a Jerusalém. Jesus dirige-se explicitamente ao grupo dos discípulos (designado como “pequeno rebanho” – veja Lc 12,32). O Mestre vai mostrar o que é necessário fazer para que o “Reino” seja uma realidade presente na vida dos discípulos e para que os “tesouros” deste mundo não sejam a prioridade: trata-se de estar sempre vigilante. Provavelmente Lucas apresenta aqui parábolas que devem ter aparecido em contextos diversos; mas todas estão ligadas pelo tema da vigilância, que será o tema central deste episódio.

Este ‘pedaço’ do evangelho começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está entre os bens deste mundo (vers. 33-34): trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em três “parábolas”, que apelam à vigilância. A primeira parábola (vers. 35-38) convida a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas (o que parece aludir a Ex 12,11 e à noite da primeira Páscoa, celebrada de pé e “com os rins cingidos”, antes da viagem para a liberdade), como pessoas que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Estar cingido significa estar disponível. Lucas não apresenta o patrão como noivo, mas como convidado a um casamento. A reação do patrão é inesperada: ele age como um servo e convida ao banquete. Os discípulos são, deste modo, convidados a estarem preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer. São também convidados a acolherem “o noivo” (Jesus) que veio propor à “noiva” (a humanidade) a comunhão plena com Deus (a “nova aliança”, representada na teologia judaica através da imagem do casamento). A segunda parábola (vers. 39-40) aponta para a incerteza da hora em que o Senhor virá. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem que pode parecer estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem. A terceira parábola (vers. 41-48) parece dirigir-se (é nesse contexto que a pergunta de Pedro nos coloca) aos responsáveis da comunidade, que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço: se algum deles descuida as suas responsabilidades no serviço aos irmãos e usa as funções que lhe foram confiadas de forma negligente ou em benefício próprio, será castigado. Nos dois últimos versículos, o castigo diversifica-se de acordo o tipo de desobediência: os que desobedeceram intencionalmente serão mais castigados; os que desobedeceram não intencionalmente serão menos castigados. A referência às “vergastadas” deve ser entendida no contexto da linguagem dos pregadores da época e manifesta a repulsa de Deus por aqueles que negligenciam a missão que lhes foi confiada.

2. MEDITATIO – meditação
- Ser discípulo de Jesus significa viver nesta atitude de vigilância constante. Será que essa atitude está presente na vida cotidiana? O que nos impede de permanecer numa vigilância constante?
- Ser cristão não é um trabalho “com horários marcados”, mas um compromisso a tempo inteiro. Estamos conscientes dessa exigência?
- Estamos atentos e disponíveis para acolher e responder aos apelos e desafios de Deus?
- A Palavra proposta contém uma interpelação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, quer noutras esferas, como são exercidos esses responsabilidades? Será que o serviço é a nota dominante?

3. ORATIO – oração
Numa atitude de oração peça perdão pelas vezes em que a busca das riquezas do mundo foi mais importante do que a busca pelo “tesouro” do Reino de Deus. Agradeça por fazer parte a este “pequeno rebanho”. Ore para que seja capaz de se manter sempre numa atitude de vigilância.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Sem precisar de palavras contemple este Deus que o convida a buscar o verdadeiro tesouro da sua vida.

5. MISSIO – missão
“Cuidado! Não aconteça que, depois de termos começado a trabalhar com ardor, nos deixemos cair no desânimo e, vencidos por algum contratempo, venhamos a arrepender-nos da própria vocação.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/
 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

COMO TRAÇAMOS NOSSO PROJETO DE IGREJA

Por Edil Tadeu P. França


Ao lutarmos pela paz e justiça entre os povos, precisamos lembrar nosso apelo missionário em um mundo macro-ecumênico, onde as Igrejas cristãs se descubram pascais, serviçais, livres dos acordos com as elites, desinteressadas, fiéis ao mandato de Jesus. Sendo esta a hora e o tempo de profeticamente denunciar um anti-Reino neoliberal do "DEUS MERCADO" e firmemente anunciar o Reino de Deus, da justiça e da paz, pois se o povo de Deus que compõe as Igrejas cristãs perderem este rumo histórico, perder-se-á o sentido do Evangelho e do próprio seguimento a Jesus.


Não podemos retroceder ou ficar à mercê da cristandade embutida dentro das mentes dos líderes religiosos, onde se determina o esquecimento das conquistas na espiritualidade, nas liturgias, na teologia e, principalmente, na vida religiosa inserida nos meios do viver popular, nas pastorais sociais e na diversidade dos ministérios proféticos dos cristãos leigos e da mulher, que deve ser respeitada em seu ministério.

Hoje vivemos dentro de um Kairós neoliberal, "a noite escura dos pobres", e podemos cair em três grandes tentações, a saber:
- a tentação de renunciar a memória e a história;
- a tentação de renunciar a cruz e a militância;
- a tentação de renunciar a esperança e a utopia"

Como diz Dom Pedro Casaldáglia, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a mundialização na qual vivemos nos empurra para uma fé idolátrica, escatológica - pois anuncia o "fim da história", consumista, privatizadora, narcisista e sem alternativas possíveis. Nega-se com isso a radicalidade do Evangelho, o compromisso com o "kairós do Reino", com a utopia. Nesta lógica substitui a ética pelo estético, se ignora os pobres renegados de Javé atirando-os à programas assistencialistas e compensatórios.


Devemos pensar que não basta cumprir os preceitos religiosos e práticas devocionais para a construção de um Reino; é preciso um compromisso de fidelidade maior com o Evangelho com projeto de Jesus, pois ser discípulo e discípula de Jesus não significa dizer "eu te amo Jesus" ou "Jesus é Dez"; é preciso ir muito mais além: tem-se que ser testemunha do Evangelho, sem negar a TRADIÇÃO da Igreja Primitiva; e, para nós aqui da América Latina, temos o testemunho dos mártires da caminhada, que nos estimulam a assumir a postura do engajamento nessa luta sem perder a mística da contemplação na gratuidade e na exigência do Evangelho, com base na ação libertadora e na espiritualidade da libertação que se enraíza nas culturas oprimidas de nossa história, herdeira do sangue de muitos que tombaram doando a vida e o sangue pelo martírio, profeticamente com corresponsabilidade eclesial e, por fim, com profundo espírito ecumênico e macro-ecumênico.

O perigo desta cultura religiosa neoliberal é o “espiritualismo” centralizador, que nos leva a cairmos numa formação dispersiva, mutilada, dicotômica, unilateral e mecanicista. A vida do ser humano é importante neste processo e ela pode ser entendida como problemática (mistério), como desafio (uma missão), um espaço (graça); assumir este espaço requer atitudes, com a finalidade de se atingir a opção fundamental na vida. Por isso devemos buscar a ESPIRITUALIDADE em uma fé cristã onde descobrimos o Deus presente no cosmo, na vida e na história da humanidade.
Na fé cristã, Deus vem morar conosco. Deus é amor gratuito, sem cobranças vazias. Assim, nossa espiritualidade é religiosa porque o Deus vivo é revelado por meio de Jesus, seu Filho, e é cristã porque somos convidados a seguir o projeto do Reino no seguimento a Jesus. O Deus de Jesus é o nosso Deus. A causa de Jesus é a nossa causa. Já dizia Paulo: "Nosso viver é o Cristo" (Fl 1,21). Jesus é nosso "pathos" - paixão -, e seu Espírito a nossa espiritualidade. Fácil então, seria entender a espiritualidade somente como sendo práticas ritualistas ou compromisso mecânico de ir a um culto ou missa, ou participar de algum evento religioso; mas isso não basta!  Temos que crer e viver uma espiritualidade como algo mais comprometedor que nos engaja na luta pela vida, pelo Reino.

Precisamos entender que a espiritualidade possui a liberdade do espírito. Os espiritualismos, ao contrário, fazem com que as pessoas vejam o mundo por outro prisma. Para os cristãos e cristãs de ontem e de hoje, o importante é agir conforme o espírito do Reino tendo como eixo norteador a ESPIRITUALIDADE DO SEGUIMENTO A JESUS, tornando-a patrimônio de toda a humanidade, de todos os povos da terra, pois toda e qualquer pessoa é animada por uma espiritualidade que a contagia na caminhada quando a nutrimos com ideais de vida e, essencialmente, da experiência com o sagrado.

Assim, percebemos que fazer a experiência da espiritualidade não é algo simplesmente "transcendental", "metafísico", assim como ocorre com o crescimento universal das religiões e de comunidades alternativas (teosóficas ou recheadas de teologismo e de superstições), onde a falta de sinceridade com o projeto de Jesus promove a fixação nestas doutrinas, que estimulam a escravidão das consciências das massas, que são chamadas a tornarem-se consumidoras.

Então perguntamos: Como saber qual deve ser nossa espiritualidade?
1) devemos abrir-nos ao clamor dos pobres e de todo o povo que clama por libertação, e ao vento do Espírito "que sopra e age onde quer".
2) querer sempre "beber do poço da água viva" da esperança, ser um seguidor das lutas e da busca pelo Deus da Vida, sem nunca se deixar afogar na água suja que o mundo pós-moderno oferece.


* Edil Tadeu P. França – Teol. - Coord. Dos Min. Região Barueri