Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

sábado, 31 de julho de 2010

A pipoca que somos

Por: Rubem Alves

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me atrevo a cozinhar. Mas, o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. Por isso, tenho mais escrito sobre comidas que cozinhando. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois, foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca é um milho mirrado e subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas, o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer.

Mas, a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Mas acho que o poder metafórico dos piru¦ás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é lixo.

Que o fogo do Espírito Santo possa estar queimando nossas cascas e fazendo-nos mais maleáveis ao seu sopro. Deixa-te moldar pela Palavra viva e pelo poder de Deus!

Saia da mesmice e faça diferença em sua geração.

 
OBS: Esta historinha foi usada na oração da manhã que tivemos durante o retiro inaciano


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 12,13-21 - 18º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Alguém do meio da multidão disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Ele respondeu: “Homem, quem me encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?” E disse-lhes: “Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! ’ Mas Deus lhe diz: ‘Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem ficará o que acumulaste? ’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico diante de Deus”. (Lucas 12,13-21)

1. LECTIO – leitura

Na semana passada o evangelho apresentou um pedido original por parte dos discípulos em relação a Jesus. Eles desejavam aprender a rezar, o testemunho de oração de Jesus e uma “certa inveja” em relação aos discípulos de João Batista motivou este pedido, Jesus aproveitou para nos ensinar a extraordinária oração do Pai Nosso. Desta vez o evangelho oferece uma nova catequese sobre a verdadeira riqueza. A nível contextual continuamos na caminhada rumo a Jerusalém. Após o ensino da oração Jesus entra em conflito com as autoridades religiosas, primeiro sendo acusado de estar ao serviço de Belzebu (Lc 1,15), depois segue uma provocação da parte de Jesus, acusando aquela geração de ser má (Lc 11,29); à mesa na casa de um fariseu lança mais uma critica às atitudes farisaicas (Lc 11,37-54). As atitudes de Jesus parecem agradar ao povo e o capítulo 12 recorda que uma grande multidão “comprime” Jesus, o qual aproveita a ocasião para se dirigir primeiramente aos discípulos convidando-os a estar atentos à hiprocrisia dos fariseus. Apesar de se dirigir aos discípulos, é da multidão que surge um pedido: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Jesus escusa-se a envolver-se em questões de direito familiar e a tomar posição por um irmão contra outro (v. 14). O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo às coisas. Jesus não se envolve porque propõe uma nova lógica: as coisas não são a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas da pessoa. Para evidenciar sua lógica Jesus propõe uma parábola. A parábola ilustra a atitude da pessoa voltada para os bens materiais, mas que se esquece do essencial. Apresenta uma pessoa previdente, responsável, trabalhadora (que até podíamos admirar e louvar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens que lhe asseguram tranqüilidade e bem-estar material (e nisso, já não o podemos louvar e admirar). Essa pessoa representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros. A resposta ao diálogo interior e às escolhas que fez em sua vida são dadas pelo próprio Deus. No entanto, o que interessa aqui não e o “fim” desta pessoa, mas o objetivo é mostrar que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.

O que é que Jesus pretende comunicar? Será que está convidando os seus discípulos a “livrarem-se” de todos os bens? E a viverem despreocupados com o futuro? Não! O que Jesus pretende é recordar que não podemos viver escravos dos bens materiais, como se eles fossem a única coisa e a mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva dos bens, constitui uma experiência de egoísmo. Quando o coração está cheio de cobiça, de egoísmo, quando a vida se torna uma luta obsessiva pelo “ter”, a pessoa torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto- suficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.

Atenção: esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas destina-se a todos aqueles que (tendo muito ou pouco) vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e o seu agir.

O episódio narrado por Lucas pode muito bem ter sido inspirado por Eclesiástico 11,18-28, o tema é recorrente no Antigo Testamento (Sl 49, Pr 11,28). Jesus continua a tradição que recorda que a verdadeira riqueza não consiste naquilo que acumulamos materialmente, mas na riqueza perante Deus, que se alcança quando somos capazes de partilhar, do muito ou pouco que temos com os irmãos.

2. MEDITATIO – meditação
+ O evangelho questiona fortemente alguns dos fundamentos sobre os quais a nossa sociedade se constrói. O capitalismo selvagem que, por amor do lucro, escraviza e obriga a trabalhar até à exaustão (e por salários miseráveis) homens, mulheres e crianças, continua vivo em tantos cantos do nosso planeta… Será que podemos ser indiferentes a toda essa realidade?
+ Na sua vida apenas se preocupa em acumular “coisas”? É capaz de partilhar aquilo que tem (mesmo sendo pouco)?
+ Será que uma vida vivida unicamente para acumular riqueza suficiente para um bom “descanso” futuro (uma boa aposentadoria) vale a pena? Muitos vivem assim, esquecendo família, amigos, lazer, etc… Cuidado, avisa o Senhor!
+ O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a “deificação” da riqueza (riqueza como um deus). Até alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.

3. ORATIO – oração
Agora é tempo de rezar com este texto. Pode começar por pedir perdão se às vezes na sua vida a única preocupação foi o acumular em vista de um futuro melhor, esquecendo o presente. Ainda está em tempo de mudar a direção, mas é bom não esquecer que não sabemos nem o dia, nem a hora. Agradeça a Deus por todas as vezes em que teve coragem de partilhar com o irmão.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
“Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6:19-21). O que você acha que faz uma pessoa rica aos olhos de Deus? Passe algum tempo em silêncio diante de Deus e deixe-o revelar as suas riquezas em sua vida.

5. MISSIO – missão
“Quanto mais nos desligamos das coisas do mundo, mesmo só em pensamento, tantos mais livres nos sentimos para voar em direção a Deus”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pe. Franco Piccoli, imc: um amigo, um pastor, um consolador... Agora um santo que intercede por nós junto a Deus...

Por Júlio Caldeira

Faleceu, no dia 26 de junho de 2010, o nosso querido Pe. Franco Piccolli, imc. “Pequeno” no nome, grande no coração e no espírito missionário, sempre confirmando sua felicidade pelo “sim” que deu a Cristo.

Pe. Francesco Piccoli nasceu no dia 30 de setembro de 1934, em Bettola (Piacenza – Itália), onde entrou no seminário em 1946 e cursou o ensino médio. Juntou-se à família dos missionários da Consolata em 1954, onde fez os estudos no seminário maior. Emitiu os primeiros votos em 1955 e foi ordenado sacerdote em 02 de abril de 1960 (completou recentemente 50 anos de ordenação sacerdotal).

Dedicou-se à formação de missionários da Consolata, em Turim (Itália). Depois, veio para o Brasil, onde se dedicou missionariamente, por 21 anos, aos trabalhos pastorais em Manaus (Amazonas) e Boa Vista (Roraima), sendo, inclusive pároco da catedral de Boa Vista (Roraima); além disso, desempenhou vários trabalhos nas periferias urbanas, defendendo a “opção preferencial pelos indígenas” feita pelos missionários da Consolata.

De 2004 a 2008 desempenhou seu apostolado na querida paróquia N.Sra.Consolata, no Rio de Janeiro, onde o conheci e demonstrava carinho com o povo. Marcava a todos seu zelo apostólico e espírito de oração e atenção às pessoas que se acercavam a ele. “Coragem”, “força”, “confie em Deus, Ele nunca nos abandona; está sempre conosco”... entre outras: estas eram palavras constantes em seu vocabulário, diante das dificuldades que lhe eram apresentadas. Desde 2008 foi chamado a estar junto ao povo de Salvador (Bahia).

Em meados de 2009, constatou-se um delicado problema de saúde, que o fez retornar à Itália, onde começou um tratamento urgente e prolongado que o levou à morte, ou melhor, ao “encontro com o Pai”. Este grande “especialista em sofrimento”, como seguidor de Jesus, mesmo nos momentos de sofrimento, ofereceu tudo o que tinha pela missão, pela Igreja e pela humanidade... Diante do “calvário” que vivia afirmava que “estou convencido de que Deus está me dizendo o que disse a Jeremias no capítulo 18: quer fazer de mim um vaso novo... também exteriormente... Seja feita sua santa vontade, que é sempre santa e santificante!”.

Disse certa vez que "apesar de ser aqui apenas um curto espaço de tempo, as pessoas começam a me conhecer e a amar-me." Querido Pe. Franco, como não poderíamos lhe conhecer e amar? Você sempre esteve atento a todos e dando-se a conhecer e amando aos demais...

Pe. Ronildo, Júlio e Pe. Franco
Agora só temos que agradecer também a Deus por haver nos dado tão zeloso e ardoroso operário que trabalhou... trabalhou... trabalhou na Sua Vinha. E agora, emocionados e com saudades, temos que reconhecer: se foi o nosso amigo, pastor, consolador... mas agora temos a certeza de ter mais um santo que intercede por nós junto a Deus...

Segue o depoimento de Aline Carvalhido (do Rio de Janeiro):
 
"Caros amigos,
é com imensa tristeza que externo meu sentimento aqui ... hoje foi para casa do Pai nosso amado PASTOR Pe. Franco Piccoli, ganhamos um intercessor no céu com certeza.
Fica no meu coração sua incansável luta para levar o Cristo Jesus a todos aqueles que não O conheciam como ele o conhecia, sua luta pela "Missão", pela verdadeira Missão. Pe. Franco dedicou sua vida até o último minuto a evangelizar, a ser aquilo que Deus o chamou a ser, UM MISSIONÁRIO POR INTEIRO!!
Por onde ele passou, ele deixou sua marca. Mudou não só os lugares por onde passou, mas mudou as pessoas. Ele sempre teimoso, sempre insistente, quando punha algo na cabeça ninguém o fazia mudar. Por muitas vezes discordamos, por muitas vezes queríamos fazer diferente dele, mas ele com seu jeitinho nos convencia, ou não, contudo ele fazia mesmo assim, e nos ensinava, pois dava certo, sempre deu certo.
Sofria sempre calado, era o silêncio de Nossa Senhora, um homem de profunda oração, tinha sempre a sua frente Jesus, sempre foi rastro de luz!!
Fica hoje no meu coração e sei que ficará sempre, seus conselhos, seus ensinamentos, sempre que falei com ele nestes últimos momentos de dor, ao invés de animá-lo pelo contrário, ele é quem me animava sempre! Tinha sempre uma frase pronta, que ele trazia do seu coração para me dizer. Para nos dizer, não é?!
Ele era o próprio Cristo que hoje foi para junto do Pai, e que está nos aguardando lá.
Foi-se meu amigo, meu PASTOR, meu conselheiro espiritual, meu Pai, foi-se desta terra, agora este SANTO homem é meu (nosso) intercessor!
Caros amigos, que Deus nos dê força para sermos verdadeiros missionários como nosso Pastor foi! Ele viveu verdadeiramente o carísma IMC. (...)
Fiquemos pois, ANIMADOS PELA ESPERANÇA e com OS OLHOS FIXOS EM JESUS!!!
Nossa Senhora Consolata, rogai por nós!"



PADRE FRANCESCO (FRANCO) PICCOLI, IMC (Breve curriculum vitae)

Padre FRANCESCO PICCOLI (mais conhecido como Padre FRANCO), fi-lho de Bonfiglio Piccoli e Rosa Piccoli, nasceu a 30 de setembro de 1934, em Béttola (Região de Piacenza), na Itália. Antes de ingressar no Instituto Missões Consolata, fez os estudos básicos no Seminário diocesano de Pia-cenza e no Colégio Alberoni de Piacenza (de 1946 a 1954).

Sentindo o chamado à vida missionária, no final de setembro de 1954 en-trou no Instituto Missões Consolata, em Turim. A 02 de outubro de 1954 iniciou o Noviciado, em Certosa di Pésio; emitiu a Profissão Religiosa temporânea a 02 de outubro de 1955. Fez os estudos teológicos no Semi-nário Maior do Instituto Missões Consolata, em Truim, sendo admitido à Profissão Religiosa perpétua a 02 de outubro de 1958. Recebeu a Ordem do Diaconato a 20 de dezembro de 1959 e a 02 de abril de 1960 foi orde-nado Sacerdote, em Turim.

CAMPOS DE APOSTOLADO APÓS A ORDENAÇÃO SACERDOTAL
Em Rovereto: de julho de 1960 a julho de 1967, como vice-reitor do seminário e orientador espiritual dos seminaristas.
Em Varallo Sésia: de julho de 1967 a julho de 1969, como orientador espi-ritual dos estudantes do Liceu.
Em Boário: de julho de 1969 a maio de 1975, como superior da comunida-de local e animador vocacional.
Em 1975 foi destinado ao Brasil, onde chegou no final do mês de maio do mesmo ano. Aqui, exerceu o cargo de pároco da paróquia “Santa Luzia”, em Manaus (AM), de junho de 1975 a maio de 1980.
Depois deste período de vida no Brasil, retornou à Itália, chamado para trabalhar como superior e animador vocacional em Rovereto. De Rovere-to passou para a comunidade de Bedizzole, durante alguns meses, sem-pre ocupado com a animação vocacional, até o final de 1987.
No primeiro semestre de 1988 retornou ao Brasil, sendo destinado a Boa Vista, em Roraima, onde assumiu o cargo de pároco da igreja catedral “Cristo Redentor”, trabalho que desempenhou até fevereiro de 1997.
Em março de 1997 voltou a trabalhar em Manaus (AM), como pároco da paróquia “ Santa Luzia”, até outubro de 2003.
No final de 2003, Padre Franco foi transferido para a Região Sul do Brasil, iniciando suas atividades pastorais e missionárias na paróquia “Nossa Senhora Consolata”, no Rio de Janeiro, como pároco e superior da comu-nidade missionária do Instituto Missões Consolata, permanecendo no cargo até 30 de junho de 2008, ocasião em que a paróquia foi devolvida à Arquidiocese do Rio.
Deixando o Rio de Janeiro, Padre Franco foi para a Paróquia de São Brás, na periferia de Salvador (Bahia), onde ficou até o final de 2009.

Atacado pela doença, deixou a Bahia e foi para São Paulo, para tratamento e internação no Hospital São Camilo (Região Sant´Ana). Assim que uma breve e temporária melhora na saúde lhe permitiu, viajou para a Itália, sua pátria, para um período de férias e continuidade do tratamento da saúde.

Faleceu no Hospital Cottolengo de Turim (Itália), a 26 de julho de 2010, com 75 anos de idade, 54 de Profissão Religiosa como Missionário da Conslata e 50 de Sacerdócio. Foi um grande e generoso missionário, que testemunhou seu amor a Jesus Cristo e à Igreja por palavras e com a vida.

Deus lhe dê um belo lugar no céu! Amém!
São Paulo, 27 de julho de 2010.        Padre Jordão Maria Pessatti, imc

Igreja: uma leitura teológica

Por: Leonardo Boff *

Nos artigos anteriores refletimos sobre uma questão particular, a do poder na Igreja, centralizado no clero e no Papa, de cariz absolutista. Alguns ficaram chocados; mas, a verdade é essa mesma. Agora cabe uma reflexão geral, de cunho teológico, quer dizer: considerar as realidades divinas subjacentes à Igreja, entendida como comunidade que se forma a partir da fé em Jesus como Filho de Deus e Salvador universal.

Notoriamente a intenção primeira de Jesus não foi a Igreja, mas o Reino de Deus, aquela utopia radical de completa libertação. Tanto assim que os evangelistas Lucas, Marcos e João sequer conhecem a palavra Igreja. É somente Mateus que fala três vezes de Igreja. Mas não se realizando o Reino devido a execução judicial de Jesus, foi a Igreja que entrou em seu lugar. O Novo Testamento nos transmite três formas diferentes de organizar a Igreja: a sinagogal de São Mateus, a carismática de São Paulo e a hierárquica dos discípulos de Paulo, Timóteo e Tito. Foi esta que prevaleceu.

Antes de tudo, a Igreja se define como comunidade de fiéis. Enquanto comunidade, ela se sente ancorada no Deus cristão que também é comunidade de Pai, Filho e Espírito Santo. Isto significa que a comunidade é anterior às instâncias de poder cujo lugar é no meio dela, como serviço de animação e de coesão. O amor e a comunhão, essência da Trindade, são também a essência teológica da Igreja.

Esta comunidade se sustenta sobre duas colunas: Jesus Cristo e o Espírito Santo. Jesus aparece sob duas figuras: a do homem de Nazaré, pobre, profeta ambulante que pregou o Reino de Deus (em oposição ao Reino de César) e que acabou na cruz; e sob a figura do ressuscitado que ganhou dimensão cósmica estando presente na matéria, na evolução e na comunidade, como antecipação do homem novo e do fim bom do universo.

A segunda coluna é o Espírito Santo. Ele estava presente no ato da criação do cosmos, sempre acompanha a humanidade e cada pessoa e chega antes do missionário. É ele que suscita a espiritualidade: a vivência do amor, do perdão, da solidariedade, da compaixão e da abertura a Deus. Na Igreja ele mantém vivo o legado de Jesus e é responsável por sua contínua atualização com carismas, pensamentos criativos, ritos e linguagens inovadoras.

Santo Ireneu (+200) disse bem: Cristo e o Espírito são as duas mãos do Pai com as quais nos alcança e nos salva.

Cristo por ser a encarnação do Filho, representa o lado mais permanente da Igreja, seu caráter institucional. O Espírito, o lado mais criativo, seu caráter dinâmico. A Igreja viva é simultaneamente algo estruturado mas também algo mutante como as inovações que fogem ao controle da instituição.

Diz-se também que a Igreja concreta, como comunidade e como movimento de Jesus, possui duas dimensões: a petrina e a paulina. A petrina (de São Pedro=Papa) é o princípio da Tradição e da continuidade. A dimensão paulina (de São Paulo) representa o momento de ruptura, a criatividade. Paulo deixou o solo judaico e partiu para a inculturação no mundo helênico. Pedro é a organização, Paulo a criação.

Pedro e Paulo se encontram unidos na figura do Papa, herdeiro e guardião das duas vertentes, simbolizadas pelos túmulos dos dois apóstolos em Roma. Ambas se pertencem mutuamente. Mas nos últimos séculos predominou a dimensão petrina, quase afogando a paulina. Tal desequilíbrio deu origem a uma organização eclesiástica centralista, com o poder em poucas mãos, conservadora e resistente ao novo, seja vindo do interior da Igreja mesma; seja da sociedade. O atual Papa é quase exclusivamente petrino, avesso a toda modernidade.

Hoje se impõe recuperar o equilíbrio eclesiológico perdido. A Igreja deve manter a herança intacta de Jesus (Pedro) e ao mesmo tempo renovar as formas de sua realização no mundo (Paulo). Só assim supera seu conservadorismo e mostra sua criatividade na comunicação com os contemporâneos. Ela não pode ser fonte de águas mortas, mas de águas vivas.

[Autor de Igreja: carisma e poder, Record 2009].

* Teológo, filósofo e escritor

Fonte: Adital


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Roteiro para visitas missionárias às casas

Por Júlio Caldeira*

ROTEIRO PARA VISITAS MISSIONÁRIAS:

1. Saudação Inicial: A paz esteja contigo! (ou) A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja nesta casa! (ou) A paz esteja nesta casa!

2. Apresentação: Quem somos? Quem nos enviou? Estamos em nome da comunidade...

3. Objetivo da visita: Por que estamos aqui? (falar da experiência pessoal com Jesus e vivência comunitária...)

4. Escutar o que a família visitada tem a dizer (esta é uma das partes mais importantes da visita!!!)



5. (Caso a família peça ou aceite fazer um momento de oração, pode ser feito a seguinte:)



se a família for católica:

a) Iniciar com o sinal da cruz

b) Canto: “Esta família será abençoada, porque o Senhor vai derramar o seu amor” ou outro.

c) Leitura e partilha de um texto bíblico. Sugestões:

          • Lucas 10, 38-42: “Marta recebeu a Jesus”

          • Lucas 19,1-9: “Hoje a salvação entrou nesta casa”

          • Lucas 10,5-9: “A paz esteja nesta casa”

          • Alguém doente: Mateus 11,28-30: “Vinde a mim e eu vos aliviarei”

d) Preces pela família, pela casa, pelas necessidades das pessoas etc. (opcional)

e) Bênção (sugestão): “Senhor, abençoa os membros desta família, sua casa e todos os seus bens, protegendo-os e livrando-os dos perigos e tentações, animando-os no compromisso familiar e comunitário, tornando-os testemunhas de vida nova. O Senhor os abençoe e guarde! O Senhor lhes mostre sua face e tenha piedade de vós! O Senhor lhes mostre o seu rosto e lhe conceda a paz!” Amém!!!

f) Canto: “Esta família já foi abençoada, porque o Senhor já derramou o seu amor!” ou outro. Neste instante pode ir rezando o Pai Nosso e Ave Maria. Ao mesmo tempo pode-se aspergir as pessoas e a casa com água benta.

g) É oportuno terminar com o abraço da Paz e o sinal da cruz...



se a família não for católica:

a) Saudação: A paz do Senhor esteja contigo!

b) Canto: Somos gente da Esperança ou outro

     1. Somos gente da Esperança que caminha rumo ao Pai.

         Somos povo da Aliança que já sabe aonde vai.

                  De mãos dadas a caminho porque juntos somos mais.

                  Pra cantar o novo hino de unidade, amor e paz.

    2. Para que o mundo creia na justiça e no amor,

        Formaremos um só povo, num só Deus, um só Pastor.

    3. Todo irmão é convidado para a festa em comum:

        Celebrar a nova vida onde todos sejam um.

c) Texto bíblico e partilha mútua no clima de irmãos que somos

d) Pai Nosso Ecumênico: “Pai Nosso, que estais nos céus, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, pois teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém!”

e) Bênção: A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam sempre conosco. Amém!!!



6. Conclui-se a visita agradecendo a família, dando alguns avisos e lembrança.


* OBS: após vários pedidos provenientes de várias partes, estou postando um pequeno roteiro que pode ajudar nas visitas missionárias às casas.



sábado, 24 de julho de 2010

Empurre sua vaquinha...

Um mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita...

Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.

Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar, sem calçamento, casa de madeira, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas... então se aproximou do senhor aparentemente o pai daquela família e perguntou:
- Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho; como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?

E o senhor calmamente respondeu:
- "Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outro gêneros de alimentos e a outra parte nós produzimos queijo, coalhada, etc.... para o nosso consumo e assim vamos sobrevivendo."

O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, depois se despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:
- "Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá embaixo."

O jovem arregalou os olhos espantado e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família, mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, foi cumprir a ordem.

Assim empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer. Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos e um belo dia ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo aquela família, pedir perdão e ajudá-los.

Assim fez, e quando se aproximava do local avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver, "apertou" o passo e chegando lá, logo foi recebido por um caseiro muito simpático e perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos e o caseiro respondeu:
- "Continuam morando aqui."

Espantado ele entrou correndo na casa; e viu que era mesmo a família que visitara antes com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha):
- "Como o senhor melhorou este sítio e está muito bem de vida???"

E o senhor entusiasmado, respondeu:
- "Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu, daí em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos, assim alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora..."

Moral da história: Todos temos uma vaquinha que nos dá alguma coisa básica para sobrevivência e uma convivência com a rotina. Descubra qual é a sua. Aproveite esse novo ano e a proximidade do final do milênio para empurrar sua "vaquinha" morro abaixo.



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 11,1-13 - 17º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva, imc

Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. Ele respondeu: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano,

e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação”. E Jesus acrescentou: “Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. Digo-vos: mesmo que não se levante para dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lucas 11,1-13)

1. LECTIO – leitura

A oração é o cerne do ensino deste “pedaço” de evangelho, sentados na “escola de oração” de Jesus, somos convidados a descobrir uma nova perspectiva para a nossa oração.

A nível de contexto, estamos ainda inseridos na caminhada rumo a Jerusalem. É exatamente nesta “caminhada” que se insere a “lição” de Jesus sobre a forma de dialogar com Deus. Lucas é, de todos os evangelistas, o que mais fala sobre a oração de Jesus, são vários os episódios onde se refere à oração de Jesus. Por exemplo, antes do Batismo (veja Lc 3,21), antes da eleição dos Doze (veja Lc 6,12), antes do primeiro anúncio da paixão (veja Lc 9,18), no contexto da transfiguração (veja Lc 9,28-29), após o regresso dos discípulos da missão (veja Lc 10,21), na última ceia (vejaLc 22,32), no Getsemani (veja Lc 22,40-46), na cruz (veja Lc 23,34.46). Poderíamos afirmar que, para Lucas a oração é o espaço de encontro de Jesus com o Pai, o momento do discernimento do projeto do Pai.

Neste evangelho concreto, Jesus é apresentado em coração ao Pai e a ensinar aos discípulos como orar ao Pai. Não se trata tanto de ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de memória, mas sobretudo propor um “modelo”. De resto, o “Pai nosso” conservado por Lucas é um tanto diferente do “Pai nosso” conservado por Mateus (veja Mt 6,9-13), que e mais conhecida por todos nós. Assim, como é que os discípulos devem rezar? Lucas refere-se a dois aspectos que devem ser considerados no diálogo com Deus. O primeiro diz respeito à “forma”: deve ser um diálogo íntimo, como o de um filho com o Pai; o segundo diz respeito ao “assunto”: o diálogo incidirá na realização do plano do Pai, no advento do mundo novo. Tratar Deus como “Pai” não é novidade, já no Antigo Testamento, Deus é “como um pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo (veja Os 11,1-9). No entanto, na boca de Jesus, a palavra “Pai” referida a Deus não é usada em sentido simbólico, mas em sentido real: para Jesus, Deus não é “como um pai”, mas é “o Pai”. A própria linguagem com que Jesus Se dirige a Deus mostra isto: a expressão “Pai” usada por Jesus traduz o original aramaico “abba” (veja Mc 14,36), tomada da maneira comum e familiar como as crianças chamavam o seu “pai”. Ao referir-se a Deus desta forma, Jesus manifesta a intimidade, o amor em relação a Deus.

No entanto, o aspecto mais surpreendente é Jesus ter aconselhado os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma, admitindo-os à comunhão que existe entre Ele e Deus. Porque é que os discípulos podem chamar “Pai” a Deus? Porque, ao identificarem-se com Jesus e ao acolherem as propostas de Jesus, eles estabelecem uma relação íntima com Deus. Tornam-se, portanto, “filhos de Deus”. Sentir-se “filho” desse Deus que é “Pai” significa outra coisa: implica reconhecer a fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos e irmãs. Dizer a Deus “Pai” implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com todos os filhos do mesmo “Pai”. Desta forma, Cristo convida os discípulos a assumirem, na sua relação e no seu diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega com confiança nas mãos do pai.

Quanto ao “assunto” ou “tema” da oração, podemos notar que o tema deve ser essencialmente vinda do Reino. A referência à “santificação do nome” expressa o desejo de que Deus se manifeste como salvador aos olhos de todos os povos e o reconhecimento por parte de todos, da justiça e da bondade do projeto de Deus para o mundo; a referência à “vinda do Reino” expressa o desejo de que esse mundo novo que Jesus veio propor se torne uma realidade definitivamente presente na vida de todos; a referência ao “pão de cada dia” expressa o desejo de que Deus não cesse de nos alimentar com a sua vida (na forma do pão material e na forma do pão espiritual); a referência ao “perdão dos pecados” pede que a misericórdia de Deus não cesse de derramar-se sobre as nossas infidelidades e que, a partir de nós, ela atinja também os outros irmãos que falharam; a referência à “tentação” pede que Deus não nos deixe seduzir pelo apelo das felicidades ilusórias, mas que nos ajude a caminhar ao encontro da felicidade duradoura, da vida plena…

Duas parábolas finais completam o quadro. O acento da primeira (vers. 5-8) não deve ser posto tanto na insistência do “amigo importuno”, mas mais na ação do amigo que satisfaz o pedido; o que Jesus pretende dizer é: se as pessoas são capazes de escutar o apelo de um amigo importuno, ainda mais Deus atenderá gratuitamente aqueles que se Lhe dirigem. A segunda parábola (vers. 9-13) convida à confiança em Deus: Ele conhece-nos bem e sabe do que necessitamos; em todas as circunstâncias Ele derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá enfrentar todas as situações da vida com a força de Deus.

2. MEDITATIO – meditação
+ Lucas sublinha Jesus como um homem de oração. Na sua vida qual a importância da oração? Encontra espaço para esse diálogo com o Pai?
+ Jesus mostra uma relação de grande intimidade com Deus e como é a sua relação?
+ Qual é o “assunto” da minha oração? Será que não se reduz a um pedir egoísta?
+ A sua oração é uma “negociação” entre dois parceiros comerciais (“dou-te isto, se me deres aquilo”) ou é um encontro com um amigo de quem preciso, a quem amo e com quem partilho as preocupações, os sonhos e as esperanças?

3. ORATIO – oração
Reze fazendo atenção a cada palavra da oração do Pai-Nosso, descubra nessa simples oração um verdadeiro programa de vida.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple com o salmo 138: “Eu te dou graças, SENHOR, de todo coração: pois ouviste as palavras da minha boca.”

5. MISSIO – missão
“Jesus tinha muitas mais ocupações do que nós. Entretanto, retirava-se para rezar, sem medo de perder tempo, ou subtraí-lo ao proveito espiritual das almas. Esta é a primeira lição que ele nos dá: para conseguirmos bons êxitos no apostolado temos de envolver a nossa vida toda em oração”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/


segunda-feira, 19 de julho de 2010

IGREJA, Razão do ser missionário/a...

Por: Edil Tadeu P. França – Teol.
Coord MIn. Região Barueri - Ass. CTP - Núcleo Cotia


Estamos vivendo um momento meio crítico em nossa Igreja, motivo que leva a pensar nos termos de se viver a Boa Nova, pois a razão de ser Igreja hoje e em qualquer tempo se expressa na solidariedade, na evangelização, no discipulado, no apoio, no cuidado com o próximo, expressando-se através do serviço (diakonia), onde todos os membros participam do cumprimento da missão; da comunhão (koinonia), e fundamentalmente com a integração entre os diversos ministérios pautado no amor e no apoio mútuo, além da solidariedade, e na valorização do relacionamento e no reconhecimento do dom e do ministério do outro.

Para melhor configurar essa articulação entre aqueles que fazem da história os imperativos éticos do Evangelho que visam contextualizar redenção, paz e justiça em seus eixos fundantes, devemos buscar o texto de Tito 2,7-8 que nos inspira nesta linha de reflexão, denotando os contornos do ministério exercido pela liderança (Tt 2,1) seja ela desempenhada por aqueles que receberam o sacramento da ordem ou simplesmente pelos reconhecidos como leigos, pois na relação dos deveres entre o que denominamos por “classes”, é destacado o papel da liderança que deve ser padrão das boas obras e ser modelo no ensino para a missão (didaquê).

E com consciência os lideres devem verificar que as diferentes sistematizações têm na Igreja um lugar de discernimento e de objetivação consensual que se pronuncia sobre o valor “salvífico” ou não daqueles que se encontram como perdidos em diversos caminhos da fé, e necessariamente, se abrem para o horizonte de múltiplas experiências de Deus e se concentram nas formas de revelação que lhe apresentam o Deus sem mediações institucionais de religiões ou igrejas. Mas com o devido cuidado devem ficar atentos aos falsos “mestres ou pastores” que ensinam doutrinas equivocadas aos membros das igrejas fundamentado-se na Palavra de Deus. Vemos, portanto, que a função dos lideres é trabalhar o dom (ou talento) dado por Deus para a edificação do Corpo de Cristo (1Cor 12,28; Rm 12,6-8; Ef 4,11).

Sabemos que na maioria das religiões existe a experiência de Deus, e hoje com as interpretações e o próprio discernimento eclesial têm que dar conta da articulação entre a revelação de Deus em Jesus Cristo e a continuidade das revelações na história, nas seitas, religiões e no neo pentecostalismo, além das religiões não-cristãs, os lideres da nossa Igreja precisam como discípulos missionários retomar e ampliar o trabalho hermenêutico que já está presente nos escritores do Novo Testamento entre eles Paulo e João, neste sentido, o ensinamento desenvolvido no novo ambiente eclesiástico torna-se-a uma atividade que acompanha o carisma apostólico dos diversos dons e ministérios, sobretudo do ministério pastoral.

Portanto o momento pede um exame de consciência sobre a “missionariedade” da nossa vida de lideres cristão. Precisamos rever se a nossa experiência de vida, ou de comunidade, se resume na vivência interna das estruturas da Igreja, ou me leva a ser testemunha no meio da sociedade, profetizando e demonstrando a chegada do Reino, não tanto pelas palavras, mas pelos valores que vivenciamos? Uma Igreja que não seja missionária (que não significa ser prosélita) é uma Igreja morta. Lembremo-nos que, pelo batismo, somos todos discípulos missionários, continuadores da missão de Jesus que mostrou-nos pela ação a forma de resgatarmos ao nosso próximo. Jesus nos adverte que nem todos iram acolher a sua mensagem - pois a mensagem Dele necessariamente entra em conflito com o espírito do egoísmo, enraizado na sociedade, aqui é onde devemos olhar para nossas bases, pois muitas vezes estamos aliados ao sistema que escraviza e destrói as sementes lançadas em terra fofa. Vale para os nossos tempos uma Igreja comprometida com os valores do Evangelho que será uma Igreja rejeitada pelos poderes desse mundo. Quando somos bem aceitos por todos, é porque não questionamos, porque perdemos a nossa voz profética! A Igreja verdadeira suscita mártires (literalmente, testemunhas) e não acomodados!

Para Jesus, o Nazareno, missão era coisa para homens e mulheres dispostos a pegar a própria cruz e seguir a dele, sem ter onde reclinar a cabeça; e até os apóstolos pensavam que eram pedras vivas, e nós precisamos nos esforçar para enfrentar o mundo como uma Igreja de pedras vivas, e não como um amontoado de pedras mortas que não reagem a determinadas situações deixando-se acuar nos ângulos onde ecoam acusações e outras ilegalidades. Não quero dessacralizar o entendimento da Igreja presente no pensar humano, mas sim ousar de forma radical o seu jeito de ser aquele sal que torna o mundo com mais sabor e aquela luz mais radiante.

Devemos prestar atenção que o nosso envio para a missão de nossas Igrejas acontece segundo a própria vocação de Jesus que está no encarar os “donos” desta terra a fim de alertar-lhes que Deus é o dono e o senhor do mundo, e que sua mensagem não é de exploração, mas sim, de perdão, amor, libertação, cura e partilha; e hoje, já que as autoridades humanas tentam distribuir para os mais pobres e desajustados sociais sua política de inclusão, a Igreja não deve se acomodar diante daqueles que sofrem, mas além de anunciar de forma escatológica que o banquete será servido para os excluídos da sociedade, deve sim dizer de forma profética e missionária que a distribuição dos serviços sociais nada mais é que a devolução do que foi tirado dos mais infortunados de alguma forma.

Assim sendo nossa missão somente estará completa quando falarmos sem medo que Jesus deixou bem claro que os propósitos de Deus estarão realizados quando atingirem toda a raça humana, classe social, etnia, ou grupos humanos, ali se realizando o projeto de amor dando-nos coragem de quebrar as barreiras que fixam nossos ministérios missionários e determinam as linhas de planejamento e trabalho de uma Igreja Missionária que poderá dar um novo contorno a história; pois seus membros não estarão preocupados com um programa triunfal e conquistador, mas sim com a missão pensante e suas múltiplas interpretações.

As peneiras da sabedoria

Terminada a missa, o padre recostou-se numa cadeira para descansar, e eis que seu ministro predileto aproximou-se dele e disse-lhe:
- Padre, vou contar-lhe o que disseram do segundo ministro.

O padre, com sua sabedoria, respondeu:
- Calma, meu ministro amado, antes de me contar, quero saber se o senhor já passou a informação pelas três Peneiras da Sabedoria?

- Peneiras da Sabedoria? – indagou o ministro. Não me foram mostradas.

- Sim, meu amado ministro – respondeu o padre. Ainda não lhe ensinei, porque não era chegada a hora. Mas agora escute com atenção: "Tudo o que for dizer dos outros, passe antes pelas Peneiras da Sabedoria". A primeira é a peneira da verdade. Nela eu lhe pergunto: Tem certeza de que o que vai me contar é verdade?

Meio sem jeito, o ministro respondeu:
- Bem..., certeza eu não tenho. Só sei o que me contaram.

O padre então continuou:
- Então, se não tem certeza, a informação vazou pelos furos da primeira peneira e repousou na Segunda, que é a peneira da bondade. Eu lhe pergunto: O que vai me contar é alguma coisa que gostaria que dissessem de você, ou é alguma coisa que vai trazer algo de bom para alguém?

- De maneira alguma. Claro que não! Exclamou o ministro.

- Então, a sua história acabou de passar pelos furos da segunda peneira e está na terceira peneira, que é a peneira da razão. E eu lhe pergunto: Acha mesmo necessário passar adiante essa história sobre seu irmão e companheiro?

- Pensando melhor, disse o ministro: Não há necessidade!

- Sendo assim, o assunto acaba de passar pelos furos da terceira , perdendo-se na imensa terra.

E não sobrou nada para ser contado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 10,38-42 - 16º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!” O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”. (Lucas 10,38-42)

1. LECTIO – leitura
A caminhada de Jesus chega agora na Marta e Maria, um encontro que se tornará revelador para os discípulos de Jesus. O contexto do evangelho continua sendo a caminhada de Jesus verso Jerusalem, que neste ponto chega a um povoado, cujo o nome não é revelado. Jesus é recebido na casa de duas irmãs (Marta e Maria). Apesar de não podermos ter certeza, estas duas irmãs são, provavelmente, as irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Se for esse o caso então estamos em Betânia, uma pequena aldeia situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de 3 quilômetros de Jerusalém.

O encontro acontece na casa destas duas irmãs, as quais adotam duas atitudes diferentes para acolher ao convidado: Jesus. Em si, tudo parece sugerir que estamos perante uma refeição. Impossível saber se havia outros convidados. Apenas sabemos Marta andava atarefada “com muito serviço” (v. 40), enquanto que Maria permanecia “sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua Palavra” (v. 39). A situação não agradou a Marta, que acabou se queixando a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus (vs. 41-42) constitui o centro do relato e dá-nos o sentido da catequese que se pretende apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse.

Há, neste texto, um pormenor que é preciso destacar: a “posição” de Maria: “sentada aos pés de Jesus”. É a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (veja Lc 8,35; At 22,3). É uma situação surpreendente, num contexto em que as mulheres tinham um estatuto de subalternidade e viam limitados alguns dos seus direitos religiosos e sociais; por isso, nenhum “rabbi” da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos que se sentavam aos seus pés para escutar as suas lições. Jesus, se afasta radicalmente das normas culturais do seu tempo, encoraja as mulheres a aprender sobre o Reino de Deus. Também elas são chamadas a ser discípulas de Jesus.

Marta deve ter ficado surpresa com a resposta de Jesus. Jesus criticou Marta suavemente por ter colocados os afazeres da casa acima da escuta da Palavra. Maria fez a opção mais certa, priorizou o que era mais importar: aprender de Jesus. Importa notar, que Jesus não disse que o trabalho doméstico não seja importante. Ele cresceu numa família em Nazaré, e sabia o valor da rotina doméstica. Jesus salienta a importância do estabelecer prioridades. O Reino de Deus deve vir em primeiro lugar e isso vale tanto para homens como para as mulheres. É importante reservar um tempo para as necessidades da família, e ainda mais importante reservar tempo para estar com Deus.

Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação; no entanto, não é bem isso que aqui está em causa… Lucas não está, nesta catequese, a explicar que a vida contemplativa é superior à vida ativa; está é a dizer que a escuta da Palavra de Jesus é o mais importante para a vida do crente, pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isto não significa que o “fazer coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante; mas significa que tudo deve partir da escuta da Palavra, pois é a escuta da Palavra que nos projeta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.

2. MEDITATIO – meditação

+ Com qual das personagens você mais se identifica?
+ Quais são as prioridades da sua vida? Será que escolheu a melhor parte?
+ Hoje vivemos em grande velocidade. Tudo deve ser rápido. “Tempo é dinheiro”, mas como é possível, neste ritmo, guardar tempo para as coisas essenciais? Como é possível encontrar espaço para sentar aos pés de Jesus?
+ O que é que você entende por hospitalidade e acolhimento? Esta leitura sugere que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, mas em “perder” tempo para estar com o outro, para o escutar.
+ Jesus, contra os costumes da sua época, aceita Maria como discípula. Será que você teria a mesma coragem de Jesus?

3. ORATIO – oração
Releia lentamente o Evangelho. Dialogue com Deus, apresente a sua vida, a sua correria, a sua luta cotidiana. Deus entende as pressões cotidianas e o cansaço que pode submergir. Apresente-lhe tudo o que está preocupando. Reze com o Salmo 15. Encontre algumas palavras que ressoam em você.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple o privilegio de ficar sentado aos pés de Jesus, escutando e aprendendo tudo aquilo que ele tem para revelar. Deixe-se maravilhar pelas novidades que Jesus lhe vai mostrar.

5. MISSIO – missão
“Trabalha-se mais em quinze minutos, depois de ter rezado, do que em duas horas sem oração”. José Allamano

Disponível semanalmente em www.consolata.org.br

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A opção pelos pobres: de Medellín a Aparecida

Por: Júlio Caldeira, imc *

Muito se tem falado e escrito sobre a opção pelos pobres na América Latina; mas muito tem que ser discutido sobre quem é o pobre? De onde vem esta opção? Sem dúvida são problemas teológicos, pastorais e humanos, que faz a Igreja pensar sobre sua origem e da fidelidade ao Evangelho, que Jesus pregou e ensinou a seus discípulos/as nas bem-aventuranças do Reino de Deus (Lc 6,20 e Mt 5,3), em seu ministério (discurso na sinagoga de Lc 4,16ss. e práticas de curas, acolhida e exortações) e na sua prerrogativa do julgamento final (“benditos de meu Pai” de Mt 25,31ss), por exemplo. Esta opção foi vivida ao longo destes 20 séculos pelos discípulos de Jesus e recordada em momentos de “crise” (com Antão, Francisco de Assis, Charles de Foucald, Teresa de Calcutá etc.).

Esta prática evangélica passou a ser sistematizada e colocada em consenso a partir do Concílio Vaticano II, principalmente como o grupo da “Igreja dos pobres”, e sendo assumida pela Igreja Latino Americana nas Conferências Episcopais que marcam profundamente pelo seu aspecto de inserção na realidade do povo: "Medellín (libertação), Puebla (comunhão e participação), Santo Domingo (inculturação) e Aparecida (missão). Estas conferências impregnaram também um caráter sacramental, um caráter indelével na Igreja latino-americana, como a opção pelos e com os pobres, a libertação, participação, CEBs, metodologia ver-julgar-agir” (Entrevista com Paulo Suess feita pela IHU). Neste sentido, somos chamados a continuar esta caminhada, revendo os passos dados, sejam com avanços ou retrocessos.

A Conferência de Medellín (1968) procurou implementar e contextualizar o Concílio Vaticano II, buscando colocar “a Igreja na atual transformação da América Latina”. “Na perspectiva de João XXIII – ‘uma Igreja dos pobres para ser a Igreja de todos’, Medellín conclama todos os batizados a ser uma Igreja pobre, para dar testemunho de uma Igreja solidária, samaritana, com a situação e a causa dos pobres, que é um mundo justo e solidário para todos. ‘A pobreza da Igreja deve ser sinal e compromisso de solidariedade com os que sofrem’ (Med 14,7). (...) Medellín, ao optar pelo ser humano, dada a situação dos excluídos, que são os proferidos de Deus, opta antes pelos pobres (Med 14,9). (...) Por isso, a opção pelos pobres, mais que um trabalho prioritário, é uma ótica que leva a todos a partir do pobre, em vista de um mundo inclusivo de todos” (BRIGHENTI, A. A opção pelos pobres e a urgência da missão). A opção pelos pobres baseia-se no serviço profético, expressada na vivência da fé cristã fiel a esta opção, diante da injustiça, opressão e exclusão das estruturas sociais existentes, “fazendo do pobre não um objeto de caridade, mas sujeiro de sua própria libertação, ensinando-lhe a ajudar-se a si mesmo” (Med 14,10).

Puebla (1979), procura continuar o processo, fundamentando, explicitando e valorizando a dimensão teológico-pastoral, na busca de “assumir para redimir” (DP 400), fazendo-se presente na vida dos pobres e na sua resistência, mesmo com certa tentativa de minimizar a expressão “opção pelos pobres” de Medellín; Puebla usa “opção preferencial pelos pobres”, “amor aos pobres”, “opção evangélica, universal, piedosa”, sendo “as CEBs expressão da opção preferencial da Igreja pelo povo simples” (DP 643).

Já em Santo Domingo (1992), continua a falar-se de opção preferencial pelos pobres, expressada no amor aos pobres, mas que significa que “não é nem exclusiva nem excludente” (SD 178), com uma visão mais espiritualizada (segundo o termo “pobre em espírito”), com o convite, especialmente aos religiosos, de se comprometer nas lutas e na promoção mais humana dos excluídos, até chegar ao pleno conhecimento de Jesus Cristo (cf. SD 162), frente aos poderes deste mundo (cf. SD 50).

Aparecida fez também a opção pelos pobres e excluídos, retomando o pensamento de Medellín e Puebla, já que esta se encontra implícita na fé de um “Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (DA 292). Ressalta que devemos ter um amor especial pelos empobrecido, mas com uma postura de engajamento e não paternalista e assistencialista (cf. DA 397), “procurando, a partir dos pobres, a mudança de sua situação, pois eles são sujeitos da evangelização e da promoção humana integral (DA 399)” (BRIGHENTI, A. O documento de Medellín: uma ousadia que continua fazendo caminho, p.140), visto que “tudo o que tenha relação com Cristo tem relação com os pobres, e tudo o que está relacionado com os pobres clama por Jesus Cristo” (DA 393). Para isso, convida-nos a olhar o “testemunho valente de nossos santos e santas, e aqueles que, até sem terem sido canonizados, viveram com radicalidade o Evangelho e ofereceram sua vida por Cristo, pela Igreja e por seu povo” (DA 98).

É impossível calar-se diante de tanta injustiça, exclusão e miséria que vive o povo latino-americano. São muitas as perguntas que nos questionam: Como o Brasil, um país tão grande em terras e riquezas naturais e o país mais “católico do mundo”, pode ser o país onde há a maior desigualdade social do mundo? Como ser autênticos discípulos-missionários de Jesus diante desse contexto? Sem dúvida, o que nos alenta são as iniciativas proféticas do “povão”, que vão, aos poucos, entranhando-se na hierarquia, que deixa-se evangelizar, notando que “enquanto houver pobres e Evangelho, continuará vigente o imperativo de se fazer da fé um compromisso de libertação” (BRIGHENTI, A. O documento de Medellín: uma ousadia que continua fazendo caminho,p.146).

Uma das minhas inquietações, como a de muitos, é de que a Igreja tem feito a “opção pelos pobres”, mas tem se esquecido, na maioria das vezes, de incluir “a partir dos pobres”, segundo sua realidade (rural, urbana, operária, universitária, periferias, etc.) e/ou faixa etária (criança, jovem, adulto, idoso). Vemos uma avalanche de teses, escritos e documentos ressaltando a opção pelos pobres (ou outra terminologia: opção preferencial, evangélica etc.), no entanto, com a tentação de uma linguagem “unificadora”, “racionalizante” (esquecendo a religiosidade popular, o sentimento, a particularidade de cada pessoa e de cada cultura) e “não-acessível”.

Tenho me dado conta de que a opção pelos pobres surge de uma opção radical pelo Evangelho e pelos valores-práxis deixados por Jesus a seus discípulos/as. E esta opção é pelos “pobres” pobres mesmos, aqueles que sofrem, são marginalizados, excluídos, não tem voz nem vez; e não minimizado pelos “pobres em espírito”, em seu sentido “espiritualizado”. Henri de Lubac, acertadamente, define que “quem se submeteu a uma ideologia, nunca está seguro de haver escolhido o partido certo. Quem optou pelos pobres, está sempre seguro, está duplamente seguro, de haver feito uma opção certa. Optou como Jesus. E optou por Jesus”.
 
 
* Trabalho apresentado à disciplina de História da Igreja na América Latina e no Brasil, sob orientação do profª Maria Cecília Domezi - EDT (Escola Dominicana de Teologia) - 1ºsem 2010

domingo, 11 de julho de 2010

Mensagem dos participantes do I Congresso Missionário Nacional de Seminaristas

Aos Senhores bispos, formadores e amigos seminaristas,

Entre os dias 04 e 10 de julho, nós, cerca de 150 seminaristas, 10 formadores e alguns bispos dos diversos regionais do Brasil, estivemos reunidos em Brasília participando do Iº Congresso Missionário Nacional de Seminaristas, com o objetivo de ajudar-nos a assumir a dimensão missionária universal da vocação cristã e presbiteral.

Gostaríamos de transmitir a todos quão rica foi a experiência deste Congresso e a grande festa da alegria e da unidade celebrada aqui na capital do nosso país em favor da missão.

Conduzidos pelo lema: chamados para estar com Ele e enviados (Mc. 3,14) e o tema formação presbiteral para uma missão sem-fronteiras, tivemos a graça de nos deparar com as realidades do campo formativo, nas dimensões voltadas para missão. Observamos as realidades eclesiais e formativas e chegamos a conclusão de que ainda temos que trabalhar muito para se chegar àquilo que é vontade da Igreja Universal e Latino-Americana: despertar a Igreja na América Latina e no Caribe para um grande impulso missionário (DAp. 548).

É bem verdade que, em alguns Seminários e Institutos, o sentido da vocação sacerdotal mais missionária está em plena atividade. Porém, é também fato de que em outros Seminários e Institutos o termo missão não recebe a devida atenção.

Iluminados pelo Espírito de Deus, e impulsionados pelo espírito de Aparecida, queremos que esta realidade seja transformada e transfigurada segundo a vontade de Deus para o nosso tempo, hoje, na Igreja do Brasil. Queremos melhorar o ambiente relacional estrutural do Seminário para que, como uma comunidade autenticamente cristã, formadores e formandos se unam em prol da vocação primeira da Igreja: a missão, a serviço do Reino de Deus. Queremos ser missionários padres e não padres missionários.

Cônscios da real necessidade de formarmos nos Seminários vocações verdadeiramente missionárias, vimos, por meio desta, encarecidamente pedir aos senhores bispos, formadores e seminaristas, que desenvolvam nos Seminários e Institutos uma formação voltada para a missão além-fronteiras. Cremos que se houver investimento, numerosas vocações missionárias brotarão no seio dos Seminários, a começar por nós que participamos deste Iº Congresso Missionário.

De Brasília voltamos para os nossos regionais dispostos a colaborar, com vivo ardor missionário, na conscientização missionária dos irmãos de Seminário e na constituição de organismos que favoreçam a missão em nossas casas de formação, como o Conselho Missionário dos Seminários (COMISE) e a Formação Missionária para Seminaristas (FORMISE).

Contamos desde já com o apoio de todos, pois o benefício não é para a nossa promoção pessoal, mas, para a promoção de todos os povos do orbe e para o bem da Igreja que age em nome de Cristo e a Ele se dirige.

Certos da atenção de todos a este pedido, reiteramos nosso desejo, de juntos, animados e guiados pelo Divino Espírito, construirmos no coração dos Seminários e Institutos, uma mentalidade viva e ardente direcionada a missão sem-fronteiras, tornando a Igreja no Brasil cada vez mais missionária.


Em Cristo Jesus
Brasília, 10 de julho de 2010.


Os participantes do I Congresso Missionário Nacional de Seminaristas.

sábado, 10 de julho de 2010

A parábola do Bambu Amado


Um belo dia, numa plantação qualquer de bambus, o vento resolveu soprar e a brisa mansa desse ventinho permitia que o bambuzal se mexesse bastante desordenadamente de um lado para o outro e vice versa...era uma boa para os bambus que além de refrescar aproveitassem para dar uma destorcidinha no que estava parado!



Mas como todo bambuzal que se preze, este não era diferente: havia um dono desse bambuzal que neste dia coincidentemente chegou junto com o vento. Qual foi a surpresa do bambuzal em ver o seu dono, todos no mesmo instante ficaram cheios de Alegria e destemor pois aquele que cuidava com tanto carinho deles chegava com seu sorriso para olhar sua estimada plantação! Porem havia no mesmo lugar ao lado um campo ermo, de difícil plantação, terra ressequida pertencente ao mesmo dono.



No bambuzal existia um bambu que era muito mais bonito e vivente que os outros;. Existia nele uma diferença patente sobre o restante dos bambus que muitas vezes incomodava mas era natural nele e, devido também toda a sua dedicação ao dono, se tornava cada vez mais diferente e bonito.



A Felicidade desse bambu era ver seu dono chegando e contemplando-o com esmero.

Porém, num certo dia de vento também, o bambu amado (porque amava demais também) foi surpreendido por seu dono tão querido numa proposta que há muito tempo ele esperava. Era chegada a hora do bambu servir e servir com a mesma dedicação que tinha desde o seu nascimento.



O dono do bambu chegou lá pelas 5 da tarde, olhou seu bambu amado, acariciou-o e lhe disse:



“BAMBU AMADO, CHEGOU O SEU TEMPO DE ME SERVIR E ESTE É O MOMENTO!”

O bambu ficou entusiasmadíssimo com tal proposta e na mesma correria que amava o dono, apressou-se em dizer: “SIM AMADO DONO, SE ME CHEGOU A HORA ESTOU AQUI!”



O dono sabia desse sim e logo amou mais ainda o bambu. Contudo, o dono do bambu teve que lhe falar sobre esse serviço especial e continuou dizendo:“MAS PARA QUE ME SIRVA, BAMBU AMADO, TENHO QUE LHE TIRAR DO LUGAR EM QUE VOCÊ ESTÁ!”

O bambu estranhou pois sabia que isso iria prejudicá-lo muito mas no mesmo instante disse ao dono:SABE DAS COISAS MEU DONO, E SABE DE MIM, ME ALEGRO E FAÇA COM QUE EU LHE SIRVA BEM!

O dono mais alegre ainda continuou: BAMBU AMADO, NÃO BASTA QUE TE ARRANQUE DE SEU LUGAR MAS VOU PRECISAR CORTÁ-LO COM UM FACÃO PARA PARTI-LO AO MEIO!

Surpreso, o bambu se pôs a tentar entender tal proposta e começou a fica um pouco triste pois sua beleza, seu encanto, suas firmezas, seu apoio, tudo seria tirado e isso lhe faria não ser mais o bambu que outrora brilhou! Porem, mesmo entristecido e sem entender precisou toda sua alegria já comprometida na satisfação que seu dono teria de um sim e não pensou mais:“SE ASSIM É QUE PRECISAS DE MIM QUE EU POSSA LHE ALEGRA, EIS-ME AQUI...PRONTO!”



O dono sabia disso e percebia que o bambu não estava tão alegre quanto o inicio da conversa mas sabia da fidelidade do amado bambu. Não obstante o dono logo lhe disse sem muitas palavras:“AMADO BAMBU, MESMO QUE ME SIRVA AINDA PRECISO DIZER: NÃO LHE BASTA QUE O ARRANQUE E O CORTE COM UM FACÃO, É PRECISO QUE EU O SEQUE E DESCARACTERIZE TEUS JEITOS DE BAMBU, TUA BELEZA E MESMO TODA TUA ALEGRIA!”

O bambu, no silencio entristecido, derramava uma lágrima de dor profunda e de desentendimento. Já não sabia mais o porque disso tudo nem o porque de seu dono lhe queria assim. O maior sofrimento do bambu era por não entender esse amor que criou, permitiu que fosse o mais lindo e vistoso e de uma hora pra outra lhe pedia quase que a própria morte.

Qual foi sua surpresa antes de responder ao dono o mesmo indagou:“MAS AMADO BAMBU, MESMO DEPOIS DISSO TUDO VOU PRECISAR TIRA-TE A VIDA E NUNCA MAIS SERAS UM BAMBU!”



Foi nesse instante que o bambu simplesmente parou e não disse uma só palavra! Mas seu dono continuou:“CONTUDO, BAMBU AMADO, VOU ARRANCAR-LHE O CORAÇÃO E TUDO O QUE NELE TEM, GUARDAREI ETERNAMENTE COMIGO E NUNCA ELE ME SERÁ ROUBADO. DE TUA CASCA TIRAREI O MELHOR: TEU CORAÇÃO...TEU TESOURO...TUA VIDA...SERÁS MAIS MEU DO QUE NESSA CONDIÇÃO DE BAMBU!”

Foi aí que o pobre bambu entendeu não os motivos do dono mas o tipo de Amor com Ele o amava e sustentado por esse desentendimento que compreende todas as coisas, o bambu se voltou em prantos mas com um suave e sereno e lhe disse bem baixo mas convictamente:“ENTENDO QUE ME ENTENDES, MEU DONO E TANTO QUE ME ROUBAS O MELHOR! SOU TEU PRISIONEIRO E FAZ DE MIM O QUE PRECISAS!”



Foi aí que o dono consumou seus desejos: Arrancou o bambu, cortou-lhe ao meio com um facão, secou-o e descaracterizou-o e já sem vida nenhuma física lhe tirou o coração e guardou-o consigo para que nunca mais fosse roubado! E o que era um vistoso e lindo bambu se tornava dois simples pedaços de coisa ressecada .Contudo, aquele nada se tornava o veículo de água para que se levasse umidade ao outro solo do dono que precisava de plantação e assim o saudoso bambu era o que de mais precioso o dono tinha!

Acredito que o dono também chorava nesse instante até de saudade do bambu mas tinha seu coração guardado e isso bastava ao dono!



É amados, podem respirar fundo agora.....não preciso escrever muita coisa.... tenho certeza que seu coração ja está dizendo tudo.

Essa mensagem toca fundo no meu coração e me faz pensar em uma pergunta: Será que estou preparada para ser esse bambu?

A historia desse bambu é a historia de vocação de cada um de nós. Iremos ser podados, cortados, será dolorido, mas nosso coração sera preservado. E em um lugar muito especial, o coração de Jesus.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 10,25-37 - 15º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!” Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus retomou: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto.
Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”. (Lucas 10,25-37)

1. LECTIO – leitura
O contexto deste episódio continua sendo a longa “caminhada” de Jesus rumo a Jerusalem. Um caminho onde o Mestre vai dando a conhecer o seu projeto aos seus discípulos, que percorrem o percurso a seu lado. Assim, é num contexto “pedagógico” que vai aparecer a “parábola do bom samaritano”. Para bem entender o episódio é primordial recordar a relação entre judeus e samaritanos. Trata-se de dois grupos que estavam separados e cujas relações eram, no tempo de Jesus, bastante conflituosas. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios. Os colonos assírios se misturaram com a população local; para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (veja 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos para a reconstrução do templo de Jerusalém. Para piorar a situação, mo ano de 333 a.C., os samaritanos construíram um templo no monte Garizim.
O ponto de partida é a pergunta de um mestre da Lei: “o que fazer, para herdar a vida eterna?” (O evangelista Marcos apresenta a mesma cena – 12,28-34 – mas, aí, a pergunta é acerca do “maior mandamento da Lei”). A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Neste “resumo” dos mandamentos, cita-se Dt 6,5 e Lv 19,18. Jesus concorda: até aqui, a proposta de Jesus não acrescenta nada de novo àquilo que a própria Lei sugere. O mestre da Lei, porém, vai mais fundo: “e quem é o meu próximo?” É uma questão pertinente, neste contexto. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões mais abrangentes e opiniões mais exclusivistas; mas havia consenso entre todos no sentido de excluir da categoria “próximo” os inimigos: de acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus (veja Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv 19,11.13.15-18). Jesus, no entanto, tinha uma perspectiva diferente. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
A parábola situa-nos nessa estrada de cerca de 30 quilômetros entre Jerusalém e Jericó. Era uma estrada conhecida por ser perigosa. Ora “um homem” (não identificado) foi assaltado pelos bandidos e deixado caído na estrada. Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote (que conhecia a Lei e que exercia funções litúrgicas no templo) e um levita (ligado à instituição religiosa judaica e que exercia, também, funções litúrgicas no templo). Ambos passaram adiante: ou o medo de enfrentar a mesma sorte, ou as preocupações com a pureza legal (que impedia tocar num cadáver), ou a pressa, ou a indiferença diante do sofrimento alheio, impede-os de parar. Apesar dos seus conhecimentos religiosos, não têm qualquer sentimento de misericórdia por aquele homem. Pela estrada passou, finalmente, um samaritano. Trata-se de um desses que a religião tradicional de Israel considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus… No entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou.
Jesus conclui a parábola dizendo ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai e faze o mesmo”. A verdadeira religião que conduz à vida plena passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem exceção. Recordemos que a pergunta inicial era: “o que fazer para alcançar a vida eterna”… A conclusão é óbvia: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma raça ou doutra raça qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa ajuda e do nosso amor.

2. MEDITATIO – meditação
+ A pergunta do mestre da Lei não é uma pergunta acadêmica; é a pergunta que continua sendo feita cada dia por tantas pessoas: “o que fazer para chegar à vida plena, à felicidade? Como dar, verdadeiramente, sentido à vida? Qual a sua resposta?
+ O evangelho é claro na resposta: para alcançar a felicidade é precisar a amar a Deus e ao próximo. Acredita nesta resposta?
+ Teria a coragem de agir como o Samaritano? Teria coragem de parar, de cuidar, mesmo correndo riscos? Quem é o próximo para você?

3. ORATIO – oração
Deixe o Salmo 69 guiar suas orações para aqueles que você ama e para aqueles que você vê na necessidade.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Leia Colossenses 1,15-20 lentamente diversas vezes. “Perca tempo” contemplando o significado da magnificência de Cristo revelado aí.

5. MISSIO – missão
“O bem deve ser bem feito e sem barulho. O importante não e fazer muitas coisas, mas fazê-las bem”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/