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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 18,1-8 - 29º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir: “Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, e lhe pedia: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Não temo a Deus e não respeito ninguém. Mas esta viúva já está me importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha, por fim, a me agredir! ’” E o Senhor acrescentou: “Escutai bem o que diz esse juiz iníquo! E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?” (Lucas 18,1-8)

1. LECTIO – Leitura
O caminho verso Jerusalém prossegue, os discípulos continuam acompanhando o Mestre, durante a caminhada novo ensinamento em forma de parábola. Um estilo muito típico de Jesus. De forma a entender o texto que iremos considerar precisa lembrar que surge após um discurso escatológico sobre a vinda gloriosa do Filho do Homem (veja Lc 17,20-37). O episódio não encontra paralelo nos outros evangelhos, no entanto, faz recordar um outro episódio, também presente no evangelho de Lucas, trata-se do episódio do amigo inoportuno que vem pedir pão durante a noite e que é atendido por causa da sua insistência (veja Lc 11,5-8).

O texto consiste numa parábola e na sua aplicação teológica. Os personagens centrais da parábola (vs 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva, pobre e injustiçada (na Escritura, as viúvas são um grupo que estava particularmente exposto a abusos legais e judiciais, entre outras razões porque não podiam subornar nem pagar), passava a vida queixando-se do seu adversário e a exigir a justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção… Os julgamentos ocorriam à porta da cidade ou em outro lugar público, de modo que a viúva tinha acesso, e podia reclamar publicamente. Era a sua única arma! Ela não desesperou, ao contrário, foi perseverante na sua súplica. Finalmente, o juiz, duro e insensível, aceita fazer justiça à viúva. O objetivo era livrar-se da insistente viúva. Concluída a apresentação da parábola, vem a sua aplicação teológica (vs 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os “seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?” Naturalmente, estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis – estará atento às súplicas dos seus filhos e filhas. O objetivo de Lucas é, primeiramente, dirigir-se à comunidade cristã que se via hostilizada e um tanto desanimada porque, aparentemente, Deus não escutava as suas súplicas e não intervinha no mundo para salvar a sua Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos; Ele tem o seu projeto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir… Aos discípulos resta imitar a viúva, moderar a sua impaciência e confiar que Ele não deixará de intervir para os libertar. Porém, recordamos que a parábola começa dizendo de que se trata de uma parábola para mostrar aos discípulos a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir. Assim, um segundo objetivo de Lucas é passar a mensagem aos cristãos de que, apesar do aparente silêncio de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. É nesse diálogo que entendemos os projetos e os ritmos de Deus; é nesse diálogo que Deus transforma os nossos corações; é nesse diálogo que aprendemos a entregar-nos nas mãos de Deus e a confiar n’Ele.

2. MEDITATIO – meditação
São muitos aqueles que se questionam sobre o porquê de Deus permitir situações más: a pobreza de tantos, as guerras, as violências, entre muitas outras. O evangelista Lucas está convencido de que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir novos céus e na terra. Porém, Deus tem projetos e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu ritmo… A nós compete respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele, entregarmo-nos nas suas mãos.

Na caminhada da nossa vida, para que possamos não desesperar, precisamos de uma relação de comunhão, de intimidade, de diálogo com Deus, através dessa atitude iremos descobrir o “tempo” e o “modo” de Deus. A oração é o caminho para encontrarmos o amor e a misericórdia de Deus. Como está a sua vida de oração? Sente-se em comunhão profunda com Deus?

O diálogo que mantemos com Deus não pode ser um diálogo de alguns períodos, mas é um diálogo que devemos manter, com perseverança e insistência. Quem ama de verdade, não corta a relação à primeira incompreensão ou à primeira ausência. Pelo contrário, a espera e a ausência provam o amor e intensificam a relação. Você consegue ser fiel e perseverante na sua oração?

A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as nossas vontades… Em vez de se desesperar porque parece que Deus não escuta o seu pedido, pergunte-se: será que o meu pedido faz sentido à luz da lógica de Deus?

3. ORATIO – oração
Em seu momento de oração, traga até Deus todas as suas preocupações, inquietações. Permita que Deus conheça tudo aquilo que lhe vai na alma. Escute a voz de Deus. Confie na resposta silenciosa de Deus, não desespere, mas permaneça fiel na oração.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemplar é permanecer numa atitude silenciosa de comunhão com o Criador. No silêncio experimente esta comunhão amorosa e misericordiosa.

5. MISSIO – missão
“A oração deve ser perseverante. Batamos à porta; se não abrirem logo, batamos com mais força. Se for necessário arrombemos a porta. É Jesus que nos ensina a fazer assim.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/


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