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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A voz dos profetas: rezando com dois grandes profetas brasileiros (Dom Helder e Dom Luciano)


Por: Júlio Caldeira, imc (fotos: Innocent Bakwangama, imc)

Por iniciativa do CAAFA (Centro Acadêmico Ana Flora Anderson) da EDT (Escola Dominicana de Teologia), neste dia 27 de agosto, no auditório da faculdade de teologia, tivemos a alegria de recordar, numa celebração marcante, os ensinamentos trazidos pela experiência concreta de duas pessoas que fizeram a diferença, pela riqueza de qualidades, capacidades, talentos a partir de vidas marcadas pela simplicidade e serviço. Ambos faleceram no dia 27 de agosto, não por coincidência, mas por obra e desígnio de Deus, que chama os santos (e profetas) a estarem contigo.

Dom Hélder Pessoa Câmara (1909-1999), nascido em Fortaleza, esteve presente em vários momentos religiosos, sociais e políticos da história do Brasil, destacando-se na fundação da CNBB, participação no Concílio Vaticano II, “opção pelos pobres” e da vida pastoral que não se restringiu ao Rio de Janeiro e Olinda, onde foi bispo. Foi chamado de “comunista” e de demagogo durante a ditadura militar. Mas, como diz a profecia, “se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão” (Lc 19,40): mesmo tendo sido proibido de se manifestar publicamente, seu clamor se espalhou pelo mundo e sua voz denunciou a prática de abusos e torturas, bem como a necessidade de se amar o próximo, o “meu irmão”. Desta maneira, era chamado por todos de “dom”, e não tanto pelo seu nome, Hélder. Realmente, isto expressa a dádiva, este dom de amor, que ele foi e continua sendo na vida de todos nós.

Dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006), nascido no Rio de Janeiro, em família nobre (era filho do Conde Cândido Mendes de Almeida), ficou marcado em nossas mentes, porque “em nome de Jesus, passou fazendo o bem” (título de um livro dedicado a ele). Segundo J.Comblim, “dom Luciano viveu ma vida de amor. Amou muito e também foi muito amado. Poucos talvez tenham sido tão amados por tantas pessoas de tantos grupos diferentes. Era tão humano que não se podia não amá-lo”. Sobre ele tivemos a alegria de contar com o testemunho ocular do profº Fernando Altemeyer, que nos recordou de fatos marcantes de encontros com Dom Luciano, tais como o do dia “em que segurou o seu báculo” (onde depois Dom Luciano disse da alegria de partilhar a alegria), da “reunião pastoral às 1h30 da madrugada (e que acabou sendo uma lição ao separar a briga de dois “irmãos bêbados”, sendo que Dom Luciano cedeu a própria cama para um deles dormir), entre tantas outras experiências de Deus a partir deste homem santo que mostrou com a sua vida que, realmente, “Deus é bom”. Por fim, foi lida a mensagem especial enviada pelo srº Cândido Mendes de Almeida, irmão de Dom Luciano e reitor da Universidade Cândido Mendes (RJ), que segue transcrita abaixo.

Que o exemplo destes dois “homens de Deus”, seja recordado não com saudosismo, mas trazendo para nossas vidas, com seus ensinamentos, “mil razões para viver”.



A DOCE CERTEZA DA ETERNIDADE – D. LUCIANO

Em que posso ajudar? Quem não tem o seu retrato, e na tessitura da alma, o recado de D. Luciano? E é só, e cada vez mais, a sua lembrança que está aí, no Belenzinho como em Mariana, na CNBB ou no episcopado latino-americano?

Junto a quem não esteve? A quem fechou a porta? A quem negou a própria cama? Quem saiu da sua casa sem a fome saciada ou, sobretudo, sem a paz na alma, de vez, e sem trégua?

Quem não o teve como seu irmão? O outro, logo, do amor para além da caridade, ou do encontro para além da prédica.

Devemos a D. Luciano essa descoberta da oração, o tom e no toque de cada conta do rosário, da entoação do seu Padre Nosso, do dizer a missa, como o enlace da sua entrega.

No D. Luciano de cada um de nós o que mais perdura? Os olhos, a voz, o sorriso? As flores a cada dia se renovam no túmulo da cripta da Sé de Mariana. Frescas, coladas nos mármores, no pedido e na prece, no que só, e sempre, nos antecipa a doce certeza da eternidade.

Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2010

Candido Mendes de Almeida

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