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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 13,22-30 - 21º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ele respondeu: ”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças!’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniqüidade!’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”. (Lucas 13, 22-30)

1. LECTIO – Leitura

O evangelho proposta para nossa reflexão recorda-nos o rumo de Jesus, ele vai em direção a Jerusalém. Este pequeno detalhe é importante para entender o quadro onde se insere este “pedaço” do evangelho. O interesse central desta “viagem” é apresentar os traços do autêntico discípulo e apontar o caminho do “Reino” à comunidade cristã. O texto em consideração é constituído por materiais que chegaram ao autor do evangelho de várias procedências. O autor os junto neste contexto por razões de interesse temático. Inicialmente, eram “ditos” de Jesus (pronunciados em contextos distintos) sobre a entrada no “Reino”. Lucas aproveita-os para mostrar as diferenças entre a teologia dos judeus e a de Jesus, a propósito da salvação. Assim fica fácil entender que o tema do evangelho seja a salvação. Tudo começa com uma pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” A questão da salvação era uma questão muito debatida entre os estudiosos judeus. Para os fariseus da época de Jesus, a “salvação” era uma realidade reservada ao Povo eleito e só a este; mas, nos círculos apocalípticos, dominava uma visão mais pessimista, que sustentava que muito poucos estavam destinados à felicidade eterna. Em sua pregação, Jesus falava de Deus como um Pai cheio de misericórdia, cuja bondade acolhia a todos, especialmente os pobres e os débeis. Fazia, portanto, sentido saber o que pensava Jesus acerca da questão… Como habitualmente Jesus não responde diretamente à pergunta. Para Jesus, mais do que falar em números concretos a propósito da “salvação”, é importante definir as condições para pertencer ao “Reino” e estimular os discípulos à decisão pelo “Reino”. Assim, na perspectiva de Jesus, entrar no “Reino” é, em primeiro lugar, esforçar-se por “entrar pela porta estreita” (v. 24). A imagem da “porta estreita” é sugestiva para significar a renúncia a uma série de fardos que “engordam” a pessoa e que o impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são esses? A título de exemplo, poderíamos citar o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo de poder e de domínio… Tudo aquilo que impede a pessoa de embarcar numa lógica de serviço, de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida, impede a adesão ao “Reino”. Afim de explicitar melhor o ensinamento acerca da entrada do “Reino”, Lucas põe na boca de Jesus uma parábola. Nela, o “Reino” é descrito na linha da tradição judaica, como um banquete em que os eleitos estarão lado a lado com os patriarcas e os profetas (vs. 25-29). Quem se sentará à mesa do “Reino”? Todos aqueles que acolheram o convite de Jesus à salvação, aderiram ao seu projeto e aceitaram viver, no seguimento de Jesus, uma vida de doação, de amor e de serviço… Não haverá qualquer critério baseado na raça, na geografia, nos laços étnicos, que barre a alguém a entrada no banquete do “Reino”: a única coisa verdadeiramente decisiva é a adesão a Jesus. Quanto àqueles que não acolheram a proposta de Jesus: esses ficarão, logicamente, fora do banquete do “Reino”, ainda que se considerem muito santos e tenham pertencido, institucionalmente, ao Povo eleito. É evidente que Jesus está a falar para os judeus e a sugerir que não é pelo fato de pertencerem a Israel que têm assegurada a entrada no “Reino”; mas a parábola aplica-se igualmente aos “discípulos” que, na vida real, não quiserem despir-se do orgulho, do egoísmo, da ambição, para percorrer, com Jesus, o caminho do amor e do dom da vida.

2. MEDITATIO – meditação
É importante ter a consciência de que o acesso ao “Reino” não está condicionado a qualquer lógica de sangue, de etnia, de classe, de ideologia política, de estatuto econômico: é uma realidade que Deus oferece gratuitamente a todos; basta que se acolha essa oferta de salvação, se adira a Jesus e se aceite entrar pela “porta estreita”. Será que tenho consciência de que a comunidade de Jesus é a comunidade de todos e onde ninguém é excluído e marginalizado?

“Entrar pela porta estreita” significa, na lógica de Jesus, fazer-se pequeno, simples, humilde, servidor, capaz de amar os outros até ao extremo e de fazer da vida um dom. Por outras palavras: significa seguir Jesus no seu exemplo de amor e de entrega. É essa a lógica que procuro seguir na minha vida de cada dia?

A “porta estreita” não é, hoje, muito popular. Hoje o mundo pensa que a felicidade se encontra por “portas largas”. Como nos situamos face a isto? As nossas opções vão mais vezes na linha da “porta larga” do mundo, ou da “porta estreita” de Jesus?

O acesso ao “Reino” não é, nunca, uma conquista definitiva, mas algo que Deus nos oferece cada dia e que, cada dia, nós aceitamos ou rejeitamos. Ninguém tem automaticamente garantido, por decreto, o acesso ao “Reino”. Será que procuro o acesso ao “Reino” em cada dia que Deus me oferece?

Para mim onde está a salvação? Jesus dizia que, no banquete do “Reino”, muitos apareceriam a dizer: “comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças”; mas receberiam como resposta: “não sei de onde sois; afastai-vos de mim…” Este aviso toca de forma especial aqueles que conheceram bem Jesus, que se sentaram com Ele à mesa, que escutaram as suas palavras, mas que nunca se preocuparam em entrar pela “porta estreita” do serviço, da simplicidade, do amor, do dom da vida. Esses – Jesus é perfeitamente claro e objetivo – não terão lugar no “Reino”.

3. ORATIO – oração
“Portanto, meus queridos, como sempre fostes obedientes, não só em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência, realizai a vossa salvação, com temor e tremor. Na verdade, é Deus que produz em vós tanto o querer como o fazer, conforme o seu agrado” (Fil 2,12-13). Paulo exorta a comunidade a realizar a salvação. Na sua oração peça perdão pelas vezes em que preferiu a porta larga da vida fácil e esqueceu a “porta estreita”. Agradeça a Deus por não fazer qualquer tipo de distinção no acesso ao “Reino”, onde todos serão iguais. Reze para que a sua vida seja sempre um esforço para entrar pela “porta estreita”

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Na carta aos Filipenses Paulo recorda que Deus continua agindo em nós. Contemple este Deus que deseja habitar no seu coração para lhe indicar o caminho que leva ao “Reino”.

5. MISSIO – missão
“O espírito de sacrifício constitui a essência da vida missionária. Quem diz missionário diz pessoa de sacrifício.” José Allamano

disponível semanalmente em: http://www.consolata.org.br/
 

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