Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

sábado, 31 de julho de 2010

A pipoca que somos

Por: Rubem Alves

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me atrevo a cozinhar. Mas, o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. Por isso, tenho mais escrito sobre comidas que cozinhando. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois, foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca é um milho mirrado e subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas, o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer.

Mas, a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Mas acho que o poder metafórico dos piru¦ás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é lixo.

Que o fogo do Espírito Santo possa estar queimando nossas cascas e fazendo-nos mais maleáveis ao seu sopro. Deixa-te moldar pela Palavra viva e pelo poder de Deus!

Saia da mesmice e faça diferença em sua geração.

 
OBS: Esta historinha foi usada na oração da manhã que tivemos durante o retiro inaciano


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