Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 11,1-13 - 17º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva, imc

Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. Ele respondeu: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano,

e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação”. E Jesus acrescentou: “Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. Digo-vos: mesmo que não se levante para dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lucas 11,1-13)

1. LECTIO – leitura

A oração é o cerne do ensino deste “pedaço” de evangelho, sentados na “escola de oração” de Jesus, somos convidados a descobrir uma nova perspectiva para a nossa oração.

A nível de contexto, estamos ainda inseridos na caminhada rumo a Jerusalem. É exatamente nesta “caminhada” que se insere a “lição” de Jesus sobre a forma de dialogar com Deus. Lucas é, de todos os evangelistas, o que mais fala sobre a oração de Jesus, são vários os episódios onde se refere à oração de Jesus. Por exemplo, antes do Batismo (veja Lc 3,21), antes da eleição dos Doze (veja Lc 6,12), antes do primeiro anúncio da paixão (veja Lc 9,18), no contexto da transfiguração (veja Lc 9,28-29), após o regresso dos discípulos da missão (veja Lc 10,21), na última ceia (vejaLc 22,32), no Getsemani (veja Lc 22,40-46), na cruz (veja Lc 23,34.46). Poderíamos afirmar que, para Lucas a oração é o espaço de encontro de Jesus com o Pai, o momento do discernimento do projeto do Pai.

Neste evangelho concreto, Jesus é apresentado em coração ao Pai e a ensinar aos discípulos como orar ao Pai. Não se trata tanto de ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de memória, mas sobretudo propor um “modelo”. De resto, o “Pai nosso” conservado por Lucas é um tanto diferente do “Pai nosso” conservado por Mateus (veja Mt 6,9-13), que e mais conhecida por todos nós. Assim, como é que os discípulos devem rezar? Lucas refere-se a dois aspectos que devem ser considerados no diálogo com Deus. O primeiro diz respeito à “forma”: deve ser um diálogo íntimo, como o de um filho com o Pai; o segundo diz respeito ao “assunto”: o diálogo incidirá na realização do plano do Pai, no advento do mundo novo. Tratar Deus como “Pai” não é novidade, já no Antigo Testamento, Deus é “como um pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo (veja Os 11,1-9). No entanto, na boca de Jesus, a palavra “Pai” referida a Deus não é usada em sentido simbólico, mas em sentido real: para Jesus, Deus não é “como um pai”, mas é “o Pai”. A própria linguagem com que Jesus Se dirige a Deus mostra isto: a expressão “Pai” usada por Jesus traduz o original aramaico “abba” (veja Mc 14,36), tomada da maneira comum e familiar como as crianças chamavam o seu “pai”. Ao referir-se a Deus desta forma, Jesus manifesta a intimidade, o amor em relação a Deus.

No entanto, o aspecto mais surpreendente é Jesus ter aconselhado os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma, admitindo-os à comunhão que existe entre Ele e Deus. Porque é que os discípulos podem chamar “Pai” a Deus? Porque, ao identificarem-se com Jesus e ao acolherem as propostas de Jesus, eles estabelecem uma relação íntima com Deus. Tornam-se, portanto, “filhos de Deus”. Sentir-se “filho” desse Deus que é “Pai” significa outra coisa: implica reconhecer a fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos e irmãs. Dizer a Deus “Pai” implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com todos os filhos do mesmo “Pai”. Desta forma, Cristo convida os discípulos a assumirem, na sua relação e no seu diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega com confiança nas mãos do pai.

Quanto ao “assunto” ou “tema” da oração, podemos notar que o tema deve ser essencialmente vinda do Reino. A referência à “santificação do nome” expressa o desejo de que Deus se manifeste como salvador aos olhos de todos os povos e o reconhecimento por parte de todos, da justiça e da bondade do projeto de Deus para o mundo; a referência à “vinda do Reino” expressa o desejo de que esse mundo novo que Jesus veio propor se torne uma realidade definitivamente presente na vida de todos; a referência ao “pão de cada dia” expressa o desejo de que Deus não cesse de nos alimentar com a sua vida (na forma do pão material e na forma do pão espiritual); a referência ao “perdão dos pecados” pede que a misericórdia de Deus não cesse de derramar-se sobre as nossas infidelidades e que, a partir de nós, ela atinja também os outros irmãos que falharam; a referência à “tentação” pede que Deus não nos deixe seduzir pelo apelo das felicidades ilusórias, mas que nos ajude a caminhar ao encontro da felicidade duradoura, da vida plena…

Duas parábolas finais completam o quadro. O acento da primeira (vers. 5-8) não deve ser posto tanto na insistência do “amigo importuno”, mas mais na ação do amigo que satisfaz o pedido; o que Jesus pretende dizer é: se as pessoas são capazes de escutar o apelo de um amigo importuno, ainda mais Deus atenderá gratuitamente aqueles que se Lhe dirigem. A segunda parábola (vers. 9-13) convida à confiança em Deus: Ele conhece-nos bem e sabe do que necessitamos; em todas as circunstâncias Ele derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá enfrentar todas as situações da vida com a força de Deus.

2. MEDITATIO – meditação
+ Lucas sublinha Jesus como um homem de oração. Na sua vida qual a importância da oração? Encontra espaço para esse diálogo com o Pai?
+ Jesus mostra uma relação de grande intimidade com Deus e como é a sua relação?
+ Qual é o “assunto” da minha oração? Será que não se reduz a um pedir egoísta?
+ A sua oração é uma “negociação” entre dois parceiros comerciais (“dou-te isto, se me deres aquilo”) ou é um encontro com um amigo de quem preciso, a quem amo e com quem partilho as preocupações, os sonhos e as esperanças?

3. ORATIO – oração
Reze fazendo atenção a cada palavra da oração do Pai-Nosso, descubra nessa simples oração um verdadeiro programa de vida.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple com o salmo 138: “Eu te dou graças, SENHOR, de todo coração: pois ouviste as palavras da minha boca.”

5. MISSIO – missão
“Jesus tinha muitas mais ocupações do que nós. Entretanto, retirava-se para rezar, sem medo de perder tempo, ou subtraí-lo ao proveito espiritual das almas. Esta é a primeira lição que ele nos dá: para conseguirmos bons êxitos no apostolado temos de envolver a nossa vida toda em oração”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/


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