Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

IGREJA, Razão do ser missionário/a...

Por: Edil Tadeu P. França – Teol.
Coord MIn. Região Barueri - Ass. CTP - Núcleo Cotia


Estamos vivendo um momento meio crítico em nossa Igreja, motivo que leva a pensar nos termos de se viver a Boa Nova, pois a razão de ser Igreja hoje e em qualquer tempo se expressa na solidariedade, na evangelização, no discipulado, no apoio, no cuidado com o próximo, expressando-se através do serviço (diakonia), onde todos os membros participam do cumprimento da missão; da comunhão (koinonia), e fundamentalmente com a integração entre os diversos ministérios pautado no amor e no apoio mútuo, além da solidariedade, e na valorização do relacionamento e no reconhecimento do dom e do ministério do outro.

Para melhor configurar essa articulação entre aqueles que fazem da história os imperativos éticos do Evangelho que visam contextualizar redenção, paz e justiça em seus eixos fundantes, devemos buscar o texto de Tito 2,7-8 que nos inspira nesta linha de reflexão, denotando os contornos do ministério exercido pela liderança (Tt 2,1) seja ela desempenhada por aqueles que receberam o sacramento da ordem ou simplesmente pelos reconhecidos como leigos, pois na relação dos deveres entre o que denominamos por “classes”, é destacado o papel da liderança que deve ser padrão das boas obras e ser modelo no ensino para a missão (didaquê).

E com consciência os lideres devem verificar que as diferentes sistematizações têm na Igreja um lugar de discernimento e de objetivação consensual que se pronuncia sobre o valor “salvífico” ou não daqueles que se encontram como perdidos em diversos caminhos da fé, e necessariamente, se abrem para o horizonte de múltiplas experiências de Deus e se concentram nas formas de revelação que lhe apresentam o Deus sem mediações institucionais de religiões ou igrejas. Mas com o devido cuidado devem ficar atentos aos falsos “mestres ou pastores” que ensinam doutrinas equivocadas aos membros das igrejas fundamentado-se na Palavra de Deus. Vemos, portanto, que a função dos lideres é trabalhar o dom (ou talento) dado por Deus para a edificação do Corpo de Cristo (1Cor 12,28; Rm 12,6-8; Ef 4,11).

Sabemos que na maioria das religiões existe a experiência de Deus, e hoje com as interpretações e o próprio discernimento eclesial têm que dar conta da articulação entre a revelação de Deus em Jesus Cristo e a continuidade das revelações na história, nas seitas, religiões e no neo pentecostalismo, além das religiões não-cristãs, os lideres da nossa Igreja precisam como discípulos missionários retomar e ampliar o trabalho hermenêutico que já está presente nos escritores do Novo Testamento entre eles Paulo e João, neste sentido, o ensinamento desenvolvido no novo ambiente eclesiástico torna-se-a uma atividade que acompanha o carisma apostólico dos diversos dons e ministérios, sobretudo do ministério pastoral.

Portanto o momento pede um exame de consciência sobre a “missionariedade” da nossa vida de lideres cristão. Precisamos rever se a nossa experiência de vida, ou de comunidade, se resume na vivência interna das estruturas da Igreja, ou me leva a ser testemunha no meio da sociedade, profetizando e demonstrando a chegada do Reino, não tanto pelas palavras, mas pelos valores que vivenciamos? Uma Igreja que não seja missionária (que não significa ser prosélita) é uma Igreja morta. Lembremo-nos que, pelo batismo, somos todos discípulos missionários, continuadores da missão de Jesus que mostrou-nos pela ação a forma de resgatarmos ao nosso próximo. Jesus nos adverte que nem todos iram acolher a sua mensagem - pois a mensagem Dele necessariamente entra em conflito com o espírito do egoísmo, enraizado na sociedade, aqui é onde devemos olhar para nossas bases, pois muitas vezes estamos aliados ao sistema que escraviza e destrói as sementes lançadas em terra fofa. Vale para os nossos tempos uma Igreja comprometida com os valores do Evangelho que será uma Igreja rejeitada pelos poderes desse mundo. Quando somos bem aceitos por todos, é porque não questionamos, porque perdemos a nossa voz profética! A Igreja verdadeira suscita mártires (literalmente, testemunhas) e não acomodados!

Para Jesus, o Nazareno, missão era coisa para homens e mulheres dispostos a pegar a própria cruz e seguir a dele, sem ter onde reclinar a cabeça; e até os apóstolos pensavam que eram pedras vivas, e nós precisamos nos esforçar para enfrentar o mundo como uma Igreja de pedras vivas, e não como um amontoado de pedras mortas que não reagem a determinadas situações deixando-se acuar nos ângulos onde ecoam acusações e outras ilegalidades. Não quero dessacralizar o entendimento da Igreja presente no pensar humano, mas sim ousar de forma radical o seu jeito de ser aquele sal que torna o mundo com mais sabor e aquela luz mais radiante.

Devemos prestar atenção que o nosso envio para a missão de nossas Igrejas acontece segundo a própria vocação de Jesus que está no encarar os “donos” desta terra a fim de alertar-lhes que Deus é o dono e o senhor do mundo, e que sua mensagem não é de exploração, mas sim, de perdão, amor, libertação, cura e partilha; e hoje, já que as autoridades humanas tentam distribuir para os mais pobres e desajustados sociais sua política de inclusão, a Igreja não deve se acomodar diante daqueles que sofrem, mas além de anunciar de forma escatológica que o banquete será servido para os excluídos da sociedade, deve sim dizer de forma profética e missionária que a distribuição dos serviços sociais nada mais é que a devolução do que foi tirado dos mais infortunados de alguma forma.

Assim sendo nossa missão somente estará completa quando falarmos sem medo que Jesus deixou bem claro que os propósitos de Deus estarão realizados quando atingirem toda a raça humana, classe social, etnia, ou grupos humanos, ali se realizando o projeto de amor dando-nos coragem de quebrar as barreiras que fixam nossos ministérios missionários e determinam as linhas de planejamento e trabalho de uma Igreja Missionária que poderá dar um novo contorno a história; pois seus membros não estarão preocupados com um programa triunfal e conquistador, mas sim com a missão pensante e suas múltiplas interpretações.

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