Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Lectio Divina do texto de Mateus 5,1-12 - Solenidade de Todos os Santos

Por: Patrick Silva, imc

Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (Mateus 5,1-12)

1. LECTIO – Leitura
Os primeiros capítulos do evangelho, servem ao evangelista de mote para dar a conhecer quem é Jesus e apresentar a sua missão. Apresentados estes dados, Mateus, procura mostrar como Jesus vai revelar sua identidade e explicitar sua missão através de palavras e gestos. Este é enquadramento do evangelho agora em consideração. Mateus propõe-nos um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica. O evangelista estruturou o seu evangelho em cinco discursos (veja Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), que servem como que “pilares” de toda a sua obra e que recordam os cinco primeiros livros da Bíblia (pentateuco). Estamos no primeiro discurso de Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é conhecido como o “discurso da montanha” (veja Mt 5-7). O discurso se situa no cimo de um monte, indicação não arbitrária, mas que lembra montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.

As “bem-aventuranças”, apresentadas por Mateus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (veja Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes em Mateus. As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente freqüentes na tradição bíblica e judaica. As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).

As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem- aventurados os pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros. Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles. Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”. Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria… A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico, isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.

O segundo grupo de “bem-aventuranças” (7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir. Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros. Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano. Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte orientem as relações humanas.

Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.

Na última “bem-aventurança” (11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.

No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

2. MEDITATIO – meditação
Jesus afirma: “Felizes os pobres em espírito”, o mundo diz: felizes os que têm muito dinheiro, nem que seja sujo! Quem é, realmente, feliz?

Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: felizes os que respondem à violência com uma violência maior. Quem tem razão?

Jesus diz: “felizes os que choram”; o mundo diz: felizes os que curtem os prazeres da vida. Onde está a verdadeira felicidade?

Jesus diz: “felizes os que cumprem a vontade de Deus”; o mundo diz: felizes os que esquecem Deus, pois Deus impede a felicidade pessoal. Onde está a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?

Jesus diz: “felizes os que usam de misericórdia”; o mundo diz: felizes que são indiferentes aos outros. Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais fraterna?

Jesus diz: “felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: felizes quando sabeis mentir e enganar para tirar proveito próprio. Onde está a verdade?

Jesus diz: “felizes os construtores da paz”; o mundo diz: felizes os vencedores a qualquer preço. O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra?

Jesus diz: “felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: felizes os aprenderam a fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira. O que é que nos eleva à vida plena?

3. ORATIO – oração
Neste momento de oração reze com as palavras do evangelho, ore por si, para que saiba traduzir estas palavras na sua vida do dia a dia.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Imagine que estava lá naquele dia em que Jesus proclamou este discurso, estas palavras foram lhe dirigidas, qual seria a sua reação?

5. MISSIO – missão
“Se não fordes santos, sereis apenas uma sombra de missionários e fareis mais mal do que bem.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário