Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

sábado, 11 de dezembro de 2010

O feitiço contra o feiticeiro *

Por: FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

Certo dia o rato do campo chegou à beira da lagoa, a fim de matar a sede. O tempo era de colheita, e por isso o roedor estava gordo, muito gordo, resultado do tanto se fartar na seara alheia, dia sim e outro também. Ao vê-lo aproximar-se uma rã encheu-se de idéias tenebrosas e por isso chegou-se ao recém-chegado e iniciou com ele uma conversa em que falava das belezas e maravilhas com que o lago encantava seus moradores, coisas que os animais não-aquáticos infelizmente não podiam ver. Nesse momento, assim como se de repente ela tivesse descoberto algo em que ainda não havia pensado, a rã convidou o rato a conhecer sua casa, que não ficava distante dali, para confirmar a veracidade do que afirmava.

Este, curioso como são todos os da sua espécie, animou-se de pronto com aquela sugestão, mas logo em seguida ponderou que tal visita era impossível, uma vez que ele, ao contrário de sua companheira, sendo péssimo nadador, não teria como acompanhá-la no percurso a ser feito dentro d’água. Mas a rã não se deu por achada, e retrucou que se o problema era aquele, então já estava resolvido. E indo até o mato que crescia ao lado de onde os dois estavam, trouxe de lá um pedaço de palha seca com o qual amarrou a perna direita do rato à sua perna esquerda. Isso feito, os dois então entraram n’água.

Assim que se afastaram alguns metros da margem a rã tentou mergulhar e chegar ao fundo, certa de que dessa forma afogaria o rato, mas este, percebendo a má-intenção da criatura a que se achava amarrado, resistiu o quanto pode, debatendo-se na superfície com todo o vigor e energia que conseguia reunir. E como ele lutava energicamente para manter-se à tona, a rã não conseguia fazê-lo submergir com a rapidez desejada, e assim ficaram os dois, uma puxando para baixo, e o outro dando braçadas desesperadas, espargindo, com isso, água em todas as direções.

Foi quando um gavião de vista aguçada sobrevoou a região, e percebendo que o rato já quase sendo engolido pelas águas não tinha como lhe escapar, lançou-se sobre ele como uma flecha, prendeu-o firmemente em suas garras e ganhou altura novamente, carregando consigo não só a presa capturada, mas junto com ela a rã mal intencionada. E assim, lá se foi a ave voando rumo a seu canto, satisfeita por ter garantido de uma só vez, carne e peixe para a sua ceia.

Moral da história: Às vezes, quando a maldade é muita, acontece do feitiço virar contra o feiticeiro.

* Baseado em uma história de La Fontaine.


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