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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Lectio Divina de Mateus 2,13-15.19-23 - Solenidade da Sagrada Família

Por: Patrick Silva, imc
Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu filho”. Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino”. Ele levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. Mas quando soube que Arquelau reinava na Judéia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Depois de receber em sonho um aviso, retirou-se para a região da Galiléia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado nazareno”. (Mateus 2,13-15.19-23)
1. LECTIO – Leitura
Um dia após a celebração do Natal, a liturgia já nos convida a refletir numa família com um recém nascido em fuga para o Egito.  O texto em consideração faz parte da seção do evangelho conhecida como “evangelho da infância”, onde encontramos relatos sobre a infância de Jesus. Convém notar que o interesse na infância de Jesus surgiu numa fase posterior da reflexão cristã. Assim, é importante recordar que o evangelista não está aqui dando a conhecer como as coisas aconteceram, mas uma catequese onde irá demostrar quem é Jesus.
Na base do texto proposto, estão uma série de citações do Antigo Testamento… Mateus parte daí para apresentar uma reflexão cujo objetivo é dizer quem é Jesus. Escrevendo para cristãos vindos do judaísmo, que conhecem bem o Antigo Testamento, Mateus recorre às antigas profecias para explicar quem é Jesus e qual a sua missão. Ao mesmo tempo, mostra como Jesus cumpriu plenamente essas antigas profecias. Uma parte significativa do nosso texto (Mt 2,13-15) está construída sobre Os 11,1 (“do Egito chamei o meu filho”). Mateus apresenta um conjunto de detalhes, a propósito deste episódio, que recordam os inícios da vida de Moisés: o massacre das crianças de Belém pelo rei Herodes (Mt 2,16-18) recorda a ordem do faraó de atirar ao Nilo os bebês hebreus do sexo masculino (veja Ex 1,22); a fuga do menino Jesus através do deserto (Mt 2,14) recorda a fuga do jovem Moisés através do deserto para salvar a vida (veja Ex 2,15); o regresso de Jesus do Egito quando já tinham morrido aqueles que queriam matá-lo (Mt 2,15) recorda o regresso de Moisés ao Egito quando já tinham morrido aqueles que queriam matá-lo (veja Ex 4,19)… Através destas referências, Jesus aparece como um novo Moisés, que libertará o novo Povo de Deus e que dará a nova Lei a esse Povo (veja Mt 5-7).
Por outro lado, Mateus põe também em paralelo o caminho de Jesus e o caminho do Povo de Israel. A fuga de José com Maria e o menino recorda a ida para o Egito da família de Jacob, que emigrou para o Egito por desígnio de Deus (veja Gn 46,1-7); como aconteceu com Israel, também Jesus sairá daí, chamado por Deus (Mt 2,19- 20), a fim de iniciar o novo e definitivo êxodo. Finalmente, o regresso de Jesus à terra de Canaan repete o caminho percorrido por Israel nos seus inícios… É uma forma de ensinar que, com Jesus, tem início um novo Povo de Deus e que Jesus será o libertador (ou o novo Moisés) que conduzirá esse Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.
Não é clara qual a citação profética que está na base da parte final do nosso texto (“será chamado nazareno” – Mt 2,23), embora ela possa fazer referência a Jz 13,5 (“esse menino será nazireu de Deus desde o seio de sua mãe) e a Is 11,1 (“brotará um ramo do tronco de Jessé, um rebento – em hebraico: “neçer” – brotará das suas raízes”). Embora nem a citação de Juízes nem a citação de Isaías tenham nada a ver com Nazaré, Mateus usou-as pela semelhança fonética; o seu objetivo era mostrar aos judeus que, ao instalar-se em Nazaré (apesar de ter nascido em Belém), Jesus estava a cumprir as Escrituras e os desígnios de Deus. Fica, portanto, aqui definida a catequese que revela quem é Jesus e qual a sua missão… A presença constante de Deus conduzindo a história, enviando o seu mensageiro, comunicando com José através dos sonhos, revela que este menino vem de Deus e que tem uma missão de Deus. Qual é essa missão? É dar início a um novo Povo de Deus e, como Moisés, conduzir esse Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.
Neste dia em que celebramos a Sagrada Família, convém também determo-nos um pouco sobre esta família de Nazaré. É uma família unida e solidária, que aceita enfrentar os perigos do deserto e o incomodo do exílio numa terra estrangeira, quando um dos membros corre riscos. Na família de Nazaré manifesta-se, desta forma, esse amor até ao extremo que supera todos os egoísmos e que se faz dom ao outro. Por outro lado, é uma família que escuta a Palavra de Deus, que está atenta aos sinais de Deus e que procura cumprir o projeto de Deus.

2. MEDITATIO – meditação
  • A família de Nazaré é apresentada como uma família unida e solidária. É assim a nossa família? Na nossa família há solidariedade? Sentimos os problemas do outro e empenhamo-nos seriamente em ajudá-lo a superar as dificuldades?
  • Trata-se também de uma família onde se escuta a Palavra de Deus e onde se aprende a ler os sinais de Deus… É na escuta da Palavra que esta família consegue encontrar as soluções para vencer as contrariedades e para ajudar os membros a vencer os riscos que correm; é na escuta de Deus que esta família consegue descobrir os caminhos a percorrer, a fim de assegurar a cada um dos seus membros a vida e o futuro. A nossa família tem tempo para ler e escutar a Palavra de Deus? A nossa família é uma família que reza?
  • A Sagrada Família é, ainda, uma família que obedece a Deus… Coloca nas mãos de Deus o seu futuro. A nossa família aceita com serenidade os esquemas e a lógica de Deus e percorre, com confiança, os caminhos de Deus?
3. ORATIO – oração
Na sua oração recorde todas as famílias que ainda hoje vivem em “fuga”, longe dos suas raízes, longe dos familiares procurando uma vida melhor que muitos nunca chegam a alcançar. Ore ao Senhor pela sua família, peça-lhe a coragem de ser uma família unida e solidária.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Continue contemplando a proposta do presépio, no silêncio deixe que Deus lhe fale pela simplicidade da cena.

5. MISSIO – missão
“Chegámos ao fim de mais  um ano e, como qualquer administrador, devemos fazer o balanço das nossas ações, tendo em conta o ativo e o passivo. Quantos favores recebidos ao longo destes 365 dias! Dêmos graças a Deus por tudo!” José Allamano


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