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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lectio Divina do texto de Mt 3,1-12 - 2º Domingo do Advento

Por: Patrick Silva, imc

Naqueles dias, apresentou-se João Batista, no deserto da Judéia, proclamando: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. É dele que falou o profeta Isaías: “Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele”. A veste de João era feita de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro à cintura; o seu alimento era gafanhotos e mel silvestre. Então Jerusalém, toda a Judéia e toda a região do Jordão saíam à sua procura e, confessando os seus pecados, eram por ele batizados no rio Jordão. Quando viu que muitos dentre os fariseus e os saduceus vinham para o batismo, João lhes disse: “Víboras que sois, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar? Produzi fruto que mostre vossa conversão. Não penseis que basta dizer: “Nosso pai é Abraão”, pois eu vos digo: destas pedras Deus pode suscitar filhos para Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo. Eu vos batizo com água, para a conversão. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu não sou digno nem de levar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e vai limpar sua eira: o trigo, ele o guardará no celeiro, mas a palha, ele a queimará num fogo que não se apaga”. (Mateus 3,1-12)

1. LECTIO – Leitura
A segunda semana deste tempo de Advento vira suas atenções na figura de João Batista. Uma personagem estranha e provocadora. Um homem vestido de uma forma esquisita, que se alimenta estranhamente, que vive no deserto, daí profere sua mensagem, que atrai muitas pessoas, mas que “incomoda” muitas com suas denúncias, assim é a figura de João Batista. A apresentação de João Batista, no evangelho de Mateus, aconteceu após o chamado “evangelho da infância”. João Baptista é apresentado como o percursor, como o preparador para a vinda do Messias. A mensagem de João estava apelava à conversão; incluía um rito de purificação pela água (trata-se de um ritual frequente entre alguns grupos judeus da época).

Os primeiros cristãos identificaram João com o mensageiro anunciado em Isaías 40,3 e com Elias (2 Reis 1,8) que, segundo a tradição judaica, anunciaria a chegada do Messias. Deste modo, João seria o precursor que vem preparar o caminho e Jesus o Messias, enviado por Deus para anunciar o reinado de Jahwéh.

A figura do Baptista é uma figura que questiona e interpela. João aparece ligado ao deserto (o lugar das privações, do despojamento, mas também o lugar tradicional do encontro entre Jahwéh e Israel). Veste-se de “uma veste tecida com pêlos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins” (é dessa forma que se vestia, também, Elias – veja 2 Re 1,8). Se alimenta de um modo frugal (de “gafanhotos e mel silvestre”). Todo o seu estilo está em contraposição com as autoridades da sua época, as quais preferiam circular pelo Tempo de Jerusalém, vestir-se de roupas elegantes e alimentar-se em grandes banquetes. João é, portanto, alguém que – não só com palavras, mas também com o seu próprio estilo – questiona um certo jeito de viver, voltado para as coisas, para os bens materiais, para o “ter”. Convida a uma conversão, a uma mudança de valores, a esquecer o supérfluo, para dar atenção ao essencial.

O que é que João prega? O evangelista Mateus resume o anúncio de João numa frase: “convertei- vos (do grego – “metanoeite”), porque está perto o Reino dos céus” (vers. 2). O verbo grego “metanoéo” aqui utilizado tem, normalmente, o sentido de “mudar de modo de pensar”; porém, neste caso, deve também ser visto na perspectiva do Antigo Testamento – isto é, como um apelo a um retorno incondicional ao Deus da Aliança. Por qual motivo a “conversão” é urgente? A resposta é simples: o “Reino dos céus” está perto. João entendia esta vinda de Deus, como uma vinda “justiceira”, onde os maus seriam aniquilados e os bons entrariam no Reino. Esta é uma visão típica da época.

Quem são os destinatários desta mensagem? Aparentemente, é uma mensagem destinada a todos. Mateus fala da “gente que acorria de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão” e que era batizada “por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados” (vers. 5-6). No entanto, Mateus faz uma referência especial aos fariseus e saduceus, para quem João tem palavras duríssimas: “raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: «Abraão é nosso pai»…” (vers. 7-9). Trata-se de pessoas que vêm ao encontro de João; no entanto, sentem que o “juízo de Deus” não os atingirá porque eles são filhos de Abraão, são membros privilegiados do Povo eleito e estão do lado dos bons: Deus não terá outro remédio senão salvá-los, quando vier para julgar o mundo e condenar os maus. João avisa que não há salvação assegurada. Neste texto aparece também, em relevo, um rito praticado por João. Consistia na imersão na água do rio Jordão das pessoas que aderiam a esse apelo à conversão. Era, aliás, um rito praticado em certos ambientes judaicos para significar a purificação do coração . O batismo de João significava o arrependimento, o perdão dos pecados e a agregação ao “resto de Israel”, subtraído à ira de Deus.

No entanto, João avisa: “aquele que vem depois de mim (…) batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo” (vers. 11). De fato, o batismo de Jesus vai muito além do batismo de João: confere a quem o recebe a vida de Deus (Espírito) e torna-o “filho de Deus”; implica, além disso, uma incorporação na Igreja (a comunidade dos que aderiram à proposta de salvação que Cristo trouxe) e a participação ativa na missão da Igreja. Não significa, apenas, o arrependimento e o perdão dos pecados; significa um quadro de vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com Jesus e com todos os outros batizados.

2. MEDITATIO – meditação
O elemento central do evangelho é a conversão. Não é possível acolher “aquele que vem” se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preocupação com os bens materiais… É preciso, portanto, uma mudança; é preciso um despojamento de tudo o que rouba espaço ao “Senhor que vem”. Para que a mudança ocorra é preciso estar disposto a deixar o “nosso jeito” para acolher o “jeito de Deus”, estou disposto a tal?

O “Reino” é simplicidade, partilha … São esses valores que eu cultivo? Quais são as minhas prioridades?

O evangelho afirma que não basta ser “filho de Abraão” para ter acesso à salvação de Jesus, mas é preciso viver uma vida de fidelidade a Deus. Sou fiel à proposta de Jesus?

3. ORATIO – oração
O advento nos recorda a necessidade de mudança, questiona nosso estilo de viver. Na sua oração peça a Deus a coragem de se dispor à mudança. Com o passar dos anos fica sempre mais difícil mudar, vamos nos habituando a viver de um jeito, que depois não vemos novos caminhos. Porém, os caminhos de Deus exigem estar disposto a mudar para entrar no “Reino”.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
A figura de João Batista é provocador para o nosso estilo de vida, contemple esta figura e se deixe “incomodar” pelo seu jeito, pelas suas palavras, pelas suas ações.

5. MISSIO – missão
“Devemos formar-nos no espírito de simplicidade. Quem é sincero e simples pensa, fala e procede segundo a verdade, sem artifícios nem fingimentos.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/
 

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