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domingo, 25 de abril de 2010

Considerações sobre a Liturgia a partir do Projeto de Deus, e não simplesmente do desejo humano

Por: Edil Tadeu P. França

“As nossas celebrações são um dom precioso para a Igreja, pois é a vivência do mistério pascal por onde passam a vida do povo e de nossas comunidades. No entanto muitas vezes seu sentido se desvirtua, por limitações (principalmente nas formações) e dificuldades pastorais.” (Pe. Bogaz – In: A Celebração e seus dramas)

Partindo deste pré-suposto é que necessitamos SENTIR A LITURGIA A PARTIR DO PROJETO DE DEUS, e não simplesmente do desejo humano; pois necessitamos promover a integração FÉ-VIDA, “e não fazermos uma miscelânea de forças de expressão”, pois devemos pensar os RITOS para torná-los agradáveis à assembléia com suas exigências éticas, culturais e de TRADIÇÕES religiosas; não transformando as celebrações em momentos da “uma elite religiosa” onde o povo simplesmente assiste a um espetáculo de fé tal qual uma peça clássica sem desenvolver seu “espírito de comunicação” com Deus e com os irmãos.

Toda a assembléia é convidada ao projeto de devoção devendo buscar unir a criatividade à TRADIÇÃO, a fim de que os símbolos, cantos, gestos ou movimentos culturais possibilitem realizar a celebração em um momento capaz de converter seus corações e ações filiando a linguagem celebrativa ao grande PROJETO DE DEUS:

  • Fazendo a sociedade igualitária na fé
  • Celebrando um culto a partir da vida
  • Que o sacerdócio que celebra os ritos seja sempre profético
  • Que a assembléia tenha sempre um poder comunitário, pela união.
  • Pelo dom da profecia nunca se esqueçam de cobrar que as leis defendam o povo (o pobre e o oprimido)
  • Que a celebração seja feita em uma TRINDADE libertadora

Se agirmos desta forma os ritos deixam de ser apenas ações intelectuais, pois ganharão vida e sentimentos, espiritualizando as celebrações tornando-as mais vivas e mais agradáveis.

Mas somente iremos conseguir estas considerações na medida em que nos esforçarmos no conhecimento da teologia litúrgica refletindo sobre ela e seus desafios, para depois nos aperfeiçoarmos na pastoral litúrgica com o envolvimento de todos os ministros da equipe celebrativa que culminará na participação do CORPO CELEBRATIVO.

Ao prepararmos uma celebração a partir do PROJETO DE DEUS, devemos ter COMO base que o culto (celebração) que iremos realizar exigirá da equipe um compromisso com um SISTEMA DE IGUALDADE, pois no ato litúrgico realizaremos o encontro da FAMILIA DO POVO DE DEUS, incrementando e atualizando a VIDA de Jesus na história da humanidade (renovando), fato que  nos fará evitar transformar a liturgia em algo alienante. Os RITOS LITURGICOS precisam imprimir um caráter de MISSÃO EVANGELIZADORA, pois mesmo seguindo as rubricas próprias serão articulados por uma equipe que não deve ser levada ao improviso, pois deverá atingir e inculturar os valores do povo à celebração.

É triste enxergarmos apenas uma mentalidade estética, onde se transforma nossa liturgia e celebrações em uma espécie de grande teatro, com uma clara falta de cultura bíblica, litúrgica e hermenêutica; é preciso formar-se para compreender que tipo de linguagem fala a liturgia e como esta se comunica celebrativamente. Com esta visão, não convém ficarmos debruçados em cima de pensamentos intelectualizados, temos que enfrentar a realidade em que vivemos, uma realidade de periferia, onde celebra-se de acordo com as regras e instruções além do famoso “cursus latino” que lhe confere uma musicalidade que penetra em nossos ouvidos de forma suave; mas jamais podemos esquecer que a arquitetura ou montagem do gesto celebrativo parte de um povo simples em sua maioria.

A Igreja reunida em Puebla já sentia a necessidade de remodelar a liturgia às nossas culturas de periferia, ou cultura latino-americana, bem como a situação dos pobres e humilhados, sabemos que algumas recomendações pastorais foram indicadas, e até em alguns lugares houve a opção de “celebrar a fé”, obedecendo algumas expressões culturais, onde o povo simples fazia valer seu desejo de alimentar o ato litúrgico (Puebla, 90).

          Porém com sentido apenas ritualista a liturgia vai se tornando “racionalista” desprezando os símbolos da cultura do povo, e perdendo o simbólico se desumaniza. Portanto nossa função como ministros é a de criar espaços de acordo com a comunidade e a teologia litúrgica, onde desenvolveremos um processo em  nosso trabalho, jamais deixando de interpretar as experiências e culturas de nosso povo; o simbolismo nos permitem vários significados e fazem parte da própria ação litúrgica.

          Não podemos deixar que o ritualismo, o rubricismo e a pressa impeçam a comunidade de demonstrar a simbologia litúrgica ou popular, sem portanto, transformá-la num gesto profano. As equipes de liturgia devem preparar o gesto litúrgico para se manter o equilíbrio entre as palavras, os gestos, cantos e silêncio, além da beleza do simbólico, sem incomodar a sensibilidade comunitária no entendimento do gesto sacramental.

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