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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O papel dos ex-seminaristas na Igreja

Por: Pe. J. B. Libanio, sj*

As experiências passadas desempenham papel extremamente ambivalente na vida das pessoas. Umas servem de alento, de força vital, de incentivo para caminhar, crescer, abrir-se ao mundo. Outras paralisam, bloqueiam, inferiorizam as pessoas. É difícil entender por onde passa o divisor de águas. Tal constatação vale para os ex-seminaristas. Entre eles existem desde ateus e revoltados contra a Igreja, carregando escuras manchas do tempo de seminário, até pessoas que se comovem às lágrimas quando pensam nos idos da vida clerical.

Esse numeroso contingente de homens, hoje espalhado pelo país e fora dele, por profissões e atividades bem diversas, merece atenção pastoral especial. Além das habilidades que adquiriram depois da saída do seminário, muitos conservam excelente formação religiosa e teológica que prestaria valiosa contribuição para a comunidade eclesial.

Não temos a mínima ideia da riqueza humana e religiosa que os ex-seminaristas significam. Um primeiro passo para tomar pé nesse enorme oceano humano consiste em levantar-lhes os nomes e dados mínimos sobre a dupla experiência do tempo de seminário e depois dela. Acrescentar-se-ia a esse primeiro levantamento uma coluna de sugestões e de disponibilidade pastoral que oferecem.

Que tal se alguma cúria ou secretariado de pastoral criasse um site de ex-seminaristas e então se conversasse com a finalidade de agrupá-los, pô-los em relação entre si e com alguém que os coordenasse?

Quanta proposta maravilhosa surgiria!

Certas pessoas dispõem de potencial incalculável, que, entretanto, não rende frutos por falta de ocasião ou de algum empurrãozinho inicial. Talvez nem lhes tenha ocorrido que, com a formação recebida no seminário diocesano ou religioso, contribuiriam altamente para o enriquecimento da vida da Igreja. A catequese, a pastoral da juventude, o ministério da escuta, a ajuda em campos específicos – psicológicos, jurídicos, técnicos e outros – encontrariam inúmeras pessoas disponíveis que, além dos talentos profissionais, trazem experiências espirituais de valor.

Os seminários e a vida religiosa já viram passar por seus muros multidões inumeráveis de jovens que guardam recordações positivas e gratidão pelo que receberam. Falta acordar sua memória e impulsionar-lhes o desejo de pôr em prática sonhos um dia acalentados.

Mesmo em relação aos que sofreram traumas ou saíram marcados negativamente, há espaço para a reconciliação. Os antigos já nos semearam a memória com ditos segundo os quais o tempo é ótimo juiz das coisas, cura as feridas, lapida as pedras, abranda o ódio, muda a si e a nós com ele. Apostando no futuro, faz-se possível a dupla pastoral com os ex-seminaristas: de valorização de seu cabedal de riqueza espiritual, intelectual e humana e de “purificação da memória”.

* Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma. Há mais de três décadas vem se dedicando ao magistério e à pesquisa teológica. Tem vários livros publicados no Brasil e no exterior. É vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte-MG.

FONTE: Revista Vida Pastoral – janeiro-fevereiro 2011 – ano 52 – n.276 – p.3.


5 comentários:

  1. As reflexões do Libanio são sempre interessantes.
    Um abraço
    Luiz

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  2. Pois existe! Somos ex-seminaristas do ex-Seminário da Imaculada de Campinas.
    Temos um site no link: http://sites.google.com/site/exsicampinas
    Tempos um blog onde fizemos uma série de 36 entrevistas com os amigos ex-sic e ex-padres onde revelam o tempo de Seminário e atualmente.
    ou é só procurar na internet por ex-SIC.
    joseclaudio.grego@yahoo.com.br
    abç

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  3. Acrescentando, em BH há o grupo ENFRADES, inclusive eles tem um coral de canto gregoriano. Talvez o Padre até tenha contato com eles e desconheça que são ex-seminaristas. O mais famoso e organizador é conhecido como Tachinha. São ex-franciscanos.
    E assim há vários outros grupos, remanescentes dos Seminários do sistema Tridentino, abolido pelo Concílio nos anos 60.
    joseclaudio.grego@yahoo.com.br

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  4. Desculpe, acrescentando já que o Julio é estudante de Teologia em Sampa, temos todos os anos encontros dos ex-seminaristas do Ipiranga, também da época tridentina.
    abç
    grego

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  5. Gostaria de agradecer e render graças a Deus por terem pessoas como você dentro da Igreja, pois, é muito importante reconhecer que podemos ajudá-la na construção do Reino de Deus, mesmo que nossas vivências não tenham agradado a alguns. Faz-se necessário acordar para estas pessoas que talvez tenham errado um dia, mas que esperam uma oportunidade de partilhar suas experiências humanas, teológicas e espirituais na Igreja. Obrigado!

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