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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lectio Divina de Mt 5,1-12 - 4º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva, imc

Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (Mateus 5,1-12)

1. LECTIO – Leitura

O evangelho desta semana é bem conhecido e, provavelmente, terá já sido refletido diversas vezes, tal pode ser uma vantagem, mas também um desvantagem. Vantagem porque dispomos desde logo boas referências do texto; desvantagem porque o fato de conhecermos “bem” o texto nos faz não observar alguns detalhes que são importantes. Assim, o primeiro convite é a ler o testo como se fosse a primeira vez.

Depois de dizer quem é Jesus (Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.

O evangelista Mateus organiza o seu “alicerça” seu evangelho em cinco grandes pilares, que são os cinco grandes discursos presentes no evangelho. Provavelmente a inspiração de Mateus vem dos cinco livros do Pentateuco, desde logo afirmando quem em Jesus se receberá uma nova lei. Estamos considerando parte do primeiro desses cinco discursos, conhecido como o “sermão da montanha” (Mt 5-7).

Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.

As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano.

As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura, quer nas ações de graças pela alegria presente, quer nas exortações a uma vida sábia e prudente. O ponto em comum é que se referem sempre a uma alegria oferecida por Deus.

Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, pela sua situação estão disponíveis para acolher a proposta de salvação e libertação de Deus.

As quatro primeiras “bem-aventuranças” estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” e os felecitam porque se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade. Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.

Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.

Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…

A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.

O segundo grupo de “bem-aventuranças” (7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.

Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros, que são capazes de ir ao encontro do outro e estender-lhe a mão.

Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.

Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação.

Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.

Na última “bem-aventurança” (11) temos uma exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.

No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do seu lado; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

2. MEDITATIO – meditação

Os primeiros a serem declarados felizes são os pobres, mas hoje os que são considerados “felizes” sãos os ricos, os que têm muito dinheiro. Na verdade, o que é verdadeira felicidade?

Ao reler o texto consegue concordar com aqueles que são declarados felizes? Acredita que é esse o caminho da felicidade?

3. ORATIO – oração

As bem-aventuranças são desafiadoras, são um convite radical de Jesus para o nosso tempo que parece viver “ao contrário”. Peça ao Senhor a coragem para acolher o seu convite e aceitar esta nova lógica.

4. CONTEMPLATIO – contemplação

Releia o texto e imagine estar presente naquele episódio. A montanha, Jesus que convida a sentar, a multidão pronta para o escutar, Jesus falando… Qual seria a sua reação às palavras de Jesus?

5. MISSIO – missão
“Como é triste ver um companheiro necessitado de ajuda e os outros que estão ali presentes, nãos e mexerem! Tal como nossas mãos se ajudam uma à outra, assim também nós devemos ajudar-nos uns aos outros.” José Allamano



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