Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 14,25-33 - 23º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva

Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: “Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar! ’ Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de paz. Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo! (Lucas 14,25-33)

1. LECTIO – Leitura
Após a parada, na semana passada, na casa de um dos chefes dos fariseus. Jesus retoma seus ensinamentos voltado para as grandes multidões que o acompanham na sua jornada rumo a Jerusalém. O evangelho vai fazer um convite a tomar consciência das exigências da opção pelo Reino. Optar pelo “Reino” não é escolher um caminho de portas largas, de facilidade, mas sim aceitar entrar pela porta “estreita”, isto é, percorrer um caminho de renúncia. Jesus apresenta as coordenadas deste “caminho do discípulo”. Trata-se de um caminho em que o “Reino” deve ter o primeiro lugar. Jesus não admite meios-termos: ou se aceita a proposta ou não vale a pena começar algo que não vai ter continuidade.

Quais são, na perspectiva de Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do discípulo” e chegar a sentar-se à mesa do “Reino”? Jesus coloca três exigências fundamentais, todas elas subordinadas ao tema da preferência (preferir algo é renuncia, abrir mão em favor disso). A primeira exige o preferir Jesus à própria família (v. 26). A este propósito, Lucas põe na boca de Jesus uma expressão muito forte. Literalmente, podemos traduzir o verbo “misséô” aqui utilizado como “odiar” (“quem não odeia o pai, a mãe… não pode ser meu discípulo”). Esta expressão facilmente nos assusta. Necessita entender, que segundo o jeito oriental de falar, “odiar” significa “pôr em segundo lugar algo porque, entretanto, apareceu um valor que é mais importante”. É evidente que Jesus não está a pedir o ódio a ninguém, muito menos aqueles que nos deram a vida. Está, sim, a exigir que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao “Reino”. Se for necessário escolher, a prioridade deve ser do “Reino”.

A segunda exige a renúncia à própria vida (v. 27). O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses, os seus projetos, aquilo que é melhor para ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um dom em favor dos outros, se necessário até ao extremo de doar a própria vida. Foi essa a via escolhida por Jesus: o discípulo é convidado a imitar o mestre.

A terceira exige a renúncia aos bens (v. 33). Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando a pessoa e levando-a a viver em função deles; assim sendo, que espaço fica para o “Reino”? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos outros; ora, viver na dinâmica do “Reino” implica viver no amor e deixar que a vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha… Pode, então, viver-se no “Reino” sem renunciar aos bens?

Com tais exigências, fica claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda o pesar bem as implicações e as conseqüências da opção pelo “Reino”. A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem com que terminá-la (vs. 28-30) e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores (vs. 31-32) convidam os candidatos a discípulos tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do “Reino”. O intuito de Jesus não é assustar ou demover aqueles que desejam se tornar discípulos, mas fazer entender que a sua proposta é exigente, é a proposta da “porta estreita”, onde aqueles que assumem o projeto não devem abandonar a “construção” a meio. Por isso, o convite a pensar se se está pronto para assumir essas exigências. Jesus não aceita gente de meios termos, mas quer gente decidida.

2. MEDITATIO – meditação
Jesus não está apenas interessado em ter seguidores, mas quer seguidores decididos pela causa do Reino. O caminho que Jesus propõe não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção. Como me coloque perante isso? A proposta de Jesus é, para mim, uma opção decidida ou algo que aceitei, mas não estou muito convencido?

Às vezes parecemos mais interessados nas estatísticas, querendo mostrar um grande número de batismos, de casamentos, de crismas, de comunhões, do que propor, com exigência, a o caminho de Jesus. A nossa pastoral deve facilitar tudo, ou ir pelo caminho da exigência?

Às vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, porque “fica lindo nas fotografias”… Sem fechar a porta a ninguém, é necessário mostrar as exigências da proposta de Jesus. Por vezes passamos a sensação de que tudo é aceitável.

Jesus exige a capacidade de renunciar à própria vida e a tomar a cruz do amor, do serviço, do dom da vida. O que é mais importante para mim: os meus interesses, os meus valores egoístas, ou o serviço dos irmãos?

Jesus exige preferir o Reino em relação aos bens. Os bens, a procura da riqueza são, para mim, uma prioridade fundamental? O que é mais importante: a partilha, a solidariedade, a fraternidade, o amor aos outros, ou o ter mais, o juntar mais?

3. ORATIO – oração
As exigências de Jesus, tantas vezes, nos assustam! Não é essa a intenção de Jesus. Na caminhada de discípulos temos a consciência de que nos falta a radicalidade da nossa opção. Peça perdão ao Senhor por não ter sido ainda capaz de se entregar incondicionalmente ao projeto do Reino. Renove o seu entusiasmo por ser um discípulo de Jesus.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple o exemplo de Jesus, capaz de se entregar totalmente à vontade do Pai, mesmo que tivesse sentido medo “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26, 39).

5. MISSIO – missão
“Para ser discípulo é preciso ter fogo. O morno, aquele que não é quente nem frio, não conseguirá fazer nada. Quem não arder deste fogo divino nunca será missionário.” José Allamano

Disponível semanalmente em www.consolata.org.br

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