Júlio César Caldeira Ferreira, imc, é estudante de teologia na EDT, SP.
(publicado na Revista Missões, nº 01 – JAN/FEV 2010)

Em tempos de contínuas mudanças, intensifica-se a participação dos cristãos leigos e leigas na Igreja, tornando-se indispensável refletir sobre seu papel na ação evangelizadora. A expressão “leigo”, está associada a alguém não qualificado, iletrado, da plebe, que não tem muito conhecimento sobre algo. Por exemplo: “fulano é leigo em história ou em medicina”. Entretanto, na sua origem, a palavra provém do grego laikós, que tem sua raiz em laós (povo), e que desencadeou no termo latino laicus, que significa multidão, massa, povo, referindo-se àquele que não está qualificado para “as coisas de Deus”.
Em 313 d.C., pelo edito de Milão, Constantino decreta liberdade a todos os cultos e em 380, o cristianismo torna-se a religião do Império, com Teodósio. O termo laikós passou a designar os cristãos que ouviam e obedeciam às ordens dos ministros ordenados (clero), “dispensadores dos poderes temporais e espirituais”. Agora temos dois grupos: o clero como hierarquia, que se considera “a Igreja”, e os leigos, que se tornam sinônimo daqueles que não sabiam o latim (língua oficial da Igreja), visto como pouco cultos, considerados incapazes de entender a Bíblia, livro para especialistas.
A partir daí a missão, a doutrina e a organização da Igreja ficou nas mãos da hierarquia, aumentando a distância com relação aos leigos. No entanto, sempre apresentaram-se na Igreja movimentos proféticos, contestadores e, até, anticlericais, com o propósito de reformá-la, procurando voltar às origens (pobreza evangélica, comunidade, Palavra de Deus, laicato); este processo ajudou a desencadear o Concílio Vaticano II (1962-65).
Durante o período da colonização, (século 16) por influência de Portugal e Espanha, os leigos se organizaram em irmandades, associações, ordens seculares, confrarias, em torno a um santo de devoção e obras de caridade. A partir da Revolução Francesa e Industrial (séculos 18 e 19), com a secularização do mundo civil e das relações de trabalho, os movimentos de leigos crescem dentro e fora da Igreja. Surgem vários movimentos espiritual-caritativo-missionários, tais como o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, a Santa Infância. As questões internas da Igreja eram confiadas ao clero e as externas eram o espaço onde os leigos atuam. O leigo passa a ser visto como um membro da Igreja e que atua na sociedade civil.
Depois deste período, as questões sociais, a defesa dos direitos da Igreja, a busca da prática da caridade e do socorro aos necessitados, levou os leigos a se organizarem, sob a orientação da hierarquia, dando origem à Ação Católica, que com o tempo vai deixando de ser uma organização político-social para se tornar uma escola de formação dos leigos. O braço forte da Ação Católica no Brasil foram os “5 J” da juventude católica: JAC (agrária), JEC (estudantil), JIC (independente), JOC (operária) e JUC (universitária).
O leigo após o Concílio

Nos últimos anos cresce o número de leigos e leigas que se juntam a congregações e ordens religiosas, para partilharem o carisma e dedicarem-se a um trabalho específico, exigindo uma mudança de mentalidade e de prática no exercício da missão. Foram chamados de oblatas, terceiros, fâmulos, associados, cooperadores, coirmãos, etc. Sobre as experiências foram usadas termos como: uniões, comunhões, famílias, fraternidades. No passado eram uma espécie de “associação” prevalecendo uma relação de paternidade ou mesmo de paternalismo, exercida pelos religiosos e titulares.
Hoje o modelo continua, mas existem também novas modalidades de experiências com maior grau de igualdade respeitando a diversidade. A exortação apostólica Christifideles laici, (1988) fruto de um sínodo sobre os leigos, nos ajuda a entender esse sentimento: “Na Igreja-Comunhão os estados de vida encontram-se de tal maneira interligados que são ordenados uns para os outros. Comum, direi mesmo único, é, sem dúvida, o seu significado profundo: o de constituir a modalidade segundo a qual se deve viver a igual dignidade cristã e a universal vocação à santidade na perfeição do amor. São modalidades, ao mesmo tempo, diferentes e complementares, de modo que cada uma delas tem uma sua fisionomia original e inconfundível e, simultaneamente, cada uma delas se relaciona com as outras e se põe a seu serviço (...) são modalidades diferentes que profundamente se unem no mistério de comunhão da Igreja e que dinamicamente se coordenam na sua missão única” (CfL 55).
De maneira geral os leigos e leigas têm uma participação ativa em quase todos os ministérios e pastorais da Igreja. Nas congregações de Vida Consagrada ou Institutos religiosos o carisma não é propriedade da Instituição. Sendo dinâmico, quando entra em contato com os leigos, suscita as mais diversas inspirações. A grosso modo, podemos destacar cinco casos concretos de participação: membros associados, ou seja, a adesão a um instituto por vínculos estáveis e aprovados; partilha temporária de vida, de contemplação e de dedicação apostólica; voluntariado e uma vocação que leva a uma opção por toda a vida.
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