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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Concílio Vaticano II: os anos que se seguiram.

Resenha do artigo: LIBANIO, João Batista. Concílio Vaticano II: os anos que se seguiram. In: LORSCHEIDER, Aloísio, et al. Vaticano II: 40 anos depois. São Paulo: Paulus, 2005. p.71-88.

Para Libanio, o Concílio Vaticano II foi um evento histórico, acontecido entre 11 de outubro de 1962 até 8 de dezembro de 1965. Após esse período começa um tempo de recepção. O Vaticano II marcou a vida eclesial por meio da teologia de seus documentos, pelas instituições que diretamente criou, pelo espírito que gerou e pelas reações e força simbólica que significou:

1. Inúmeras pessoas dedicaram-se à redação dos textos, influenciados por certas tendências teológicas, por grupos de teólogos ou por um determinado teólogo; todos os textos foram submetidos às críticas dos membros do Concílio, sendo importante que qualquer estudo sério de algum documento conciliar necessite refazer o percurso de sua gestação até a última votação, tendo clareza do verdadeiro sentido do texto aprovado.

A teologia neo-escolástica (dos clássicos manuais escolares) foi substituída por uma teologia plural, diversificada, menos estruturada e pouco sistematizada, ganhando-se em atualidade, na variedade de temas e de abordagens, em diálogo com as ciências modernas, em alcance existencial, e em repercussão pastoral e com força querigmática em várias gerações: na geração pós-conciliar produziu uma profunda renovação na pregação, na catequese, no ensino da teologia, na pastoral; o tema mais importante do Concílio foi a eclesiologia, com a concepção da Igreja como povo de Deus, sinal e sacramento do Reino de Deus, valorizado pelo batismo e pela vocação própria, valorizando a Igreja particular e a comunhão entre elas pelo espírito colegial. Isto provocou uma transformação na cristologia, na compreensão de Trindade, na teologia sacramental e impulsionando a teologia ecumênica, do diálogo inter-religioso e com os não-crentes.

No entanto alguns rincões da Igreja limitam a teologia pós-Vaticano: alguns vêm deslocando o interesse para experiências espirituais carentes de uma reflexão teológica ou até resistente a ela, produzindo uma literatura de consolo, de auto-ajuda, centrada na subjetividade e na emoção. Setores tradicionais buscam tiram do Vaticano II elementos teológicos tradicionais, causando conflitos teológicos, fortalecendo uma eclesiologia de cunho centralizador e institucional.

2. A principal instituição eclesiástica pós-conciliar, o sínodo, como expressão da colegialidade, ficou a meio caminho, sendo restringido ao simples papel consultivo, predominando o pólo central. As conferências episcopais sofreram restrições e regressões lentas e continuadas: as novas gerações de bispos são sacramentalmente ordenados no espírito colegial, mas juridicamente pensados para serem autárquicos e assim escolhidos, mantendo-se a unidade próxima da uniformidade, em vez da diversidade e originalidade locais. No espírito colegial, no entanto, agitaram-se conselhos presbiterais, pastorais e comunitários com a experiência da assembléia do povo de Deus (talvez seja uma forma dos leigos e das leigas participarem na vida interna da Igreja).

3. O Concílio é um espírito, um novo símbolo da Igreja Católica, exprimido no imaginário da relação com o de Trento, com o das Igrejas evangélicas, com o das religiões e com o do mundo moderno em toda a sua extensão. O imaginário tridentino foi primado pela afirmação da identidade católica em oposição às Igrejas nascidas da Reforma e aos princípios e práticas da modernidade, em torno de 3 elementos visíveis: batismo, confissão exterior da fé cristã católica e obediência à hierarquia (especialmente ao Papa), criando o imaginário eclesial que alimentou a Igreja católica por quatro séculos. Já o imaginário do Vaticano II assumiu um teor teórico e prático-histórico a partir de fatores que penetravam na Igreja (ação católica, movimentos bíblico, litúrgico, social, missionário, artístico etc.).

O clima de diálogo e abertura causou esperança, euforia e ousadia desmedida, mas também temores, triagem e enquadramento de algumas experiências pela burocracia eclesiástica. Há certos movimentos que reagem buscando impor de novo a gravidade e o rigor de prescrições da Igreja no campo moral e sacramental. Apesar disso, Libanio afirma que as iniciativas deixaram marca positiva, como, por exemplo, nas celebrações litúrgicas. A formação do clero passou por estágios: primeiro com os cursos inseridos em universidades; depois voltando ao antigo estilo de vida mais reclusa; atualmente, está tomando um rumo transformador com a Teologia sendo reconhecida pelo MEC. A vida consagrada teve as maiores transformações: as de vida ativa despojaram-se de sua veste monacal, com transformação da forma de oração, de trajes, de teor de vida comunitária e de prática pastoral, buscando redescobrir o carisma fundacional.

4. O Concílio Vaticano II foi recepcionado na América Latina a partir de Medellín, onde foi dado um salto qualitativo para além da concepção centro-européia do Concílio, transformando a Igreja a partir da opção preferencial pelos pobres, lançando as sementes para uma Igreja mais popular, nas comunidades eclesiais de base, num forte embate com as forças de opressão que se escondia na face econômica de dominação. Baseando-se na teologia chamada da libertação (a partir de uma virada teológico-antropocêntrica da teologia e do método ver-julgar-agir), na estrutura das comunidades de base, nas práticas pastorais baseada nos círculos bíblicos e nas pastorais sociais.

O Concílio Vaticano II explica os avanços e os retrocessos do momento atual, seja da Igreja do despojamento (simples, humilde, pobre, consciente de seus pecados, arrependida, servidora, disposta a dialogar e cooperar com a sociedade humana), seja nos retrocessos conservadores (com temor diante do dinamismo que está a dissolver as estruturas emperradas e incapazes de responder à vitalidade). O concílio Vaticano II capitalizou um acúmulo de forças inovadoras e, por outro lado, crescem temores de que a Igreja católica perca a identidade. Devemos estar dispostos a entrar no verdadeiro espírito do Vaticano II que nos prepara para viver num mundo pluralista, de diálogo, de tolerância, de respeito à autonomia das pessoas.

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